julho 01, 2011

EVANDRO CARLOS DE ANDRADE 8

ENTREVISTA COM EVANDRO CARLOS DE ANDRADE – 8/ MORTE DE CHEFE DA GUARDA PESSOAL DO PRESIDENTE FOI “QUEIMA DE ARQUIVO TÍPICA”

O verbete “Vargas, Getúlio” ocupa um espaço privilegiado nas lembranças do repórter que começou a exercer a profissão quando o segundo governo de Vargas agonizava em meio a sucessivas crises políticas. Evandro Carlos de Andrade agita-se ao fazer um retrato falado daquele fim de época :

“Não considero que a herança de Getúlio tenha sido nociva ao país ! O que foi o governo Dutra – que veio depois da queda da ditadura de Getúlio no Estado Novo ? Dutra, um homem seriíssimo, fez um governo com o PSD – que era a elite com quem Getúlio tinha governado. Mas desperdiçou recursos acumulados durante a guerra. Houve uma festa de importações. Quando voltou ao Poder, Getúlio quis fazer um governo democrático, mas estava politicamente enfraquecido. Não resistiu à pressão. A ação dos militares contra Getúlio é até hoje um enigma para mim. Por que aquele ódio? Por que a Aeronáutica queria tanto derrubar o Getúlio?. É um mistério”

“Pude acompanhar o fim do segundo governo. Participei da cobertura da crise provocada pelo atentado na Rua Tonelero (N: um pistoleiro atirou em Carlos Lacerda, adversário de Getúlio Vargas, mas terminou matando o major da Aeronáutica Rubens Vaz. A crise aberta com o atentado culminou com o suicídio do presidente). Nunca tive dúvida sobre a natureza do atentado: tinha sido forjado no Palácio do Catete por Gregório Fortunato, o chefe da guarda pessoal de Getúlio. A morte de Gregório, anos depois, na prisão, foi uma queima de arquivo impressionante. Gregório tinha um comportamento exemplar. Quando ia ser libertado, foi esfaqueado dentro da prisão – queima de arquivo típica. Porque possivelmente ele entregaria quem o estimulou”. ( Oito anos de pois de preso, Gregório foi esfaqueado, na prisão, por outro detento do presídio Frei Caneca, em outubro de 1962. Tinha dito que estava escrevendo um diário – que, no entanto, jamais foi encontrado ).

“Carlos Lacerda chegou a levantar suspeitas – que não foram comprovadas – sobre o empresário Euvaldo Lodi, dirigente da Confederação Nacional da Indústria. Gregório tinha por Getúlio uma paixão e uma devoção de criatura para criador. Porque o Gregório tenente foi criado por Getúlio. O que levou Gregório a preparar um atentado que, no fim das contas, foi o que destruiu o segundo governo de Getúlio ? Nunca ficou claro quem estava por trás de tudo. Para o próprio Getúlio, o atentado foi um choque horroroso. Tentaram envolver a família do presidente no atentado. Duvido que a família de Getúlio estivesse envolvida. Duvido que qualquer dos filhos estivesse. Lodi pode ter tido conversas do tipo “esse camarada só matando…”. O atentado da rua Tonelero foi testemunhado por Armando Nogueira – que escreveu um texto na primeira pessoa para o Diário Carioca. Fui ao apartamento de Lacerda, logo de manhã, bem cedo, para fazer um registro sobre como estava o ambiente. Havia a suposição de que,em meio ao tiroteio, o próprio Lacerda tivesse atirado no pé, porque ele não tinha treino nenhum no manuseio de armas. Era possível. Lacerda passou pelo hospital, rapidamente, depois do atentado, mas não ficou internado. Terminou voltando para casa”.

“Quando cheguei ao apartamento, tive a sensação de tumulto e agitação. Lacerda era afoito, não tinha medo físico. Adauto Lúcio Cardoso um dia me disse que convidou Lacerda para ir visitá-lo num sítio em Teresópolis. Lacerda quase morreu afogado porque se atirou numa piscina sem saber nadar direito. Não tinha nenhuma noção do perigo”.

Posted by geneton at julho 1, 2011 03:20 AM
   
   
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