maio 29, 2010

SHAUL LADANY

A INCRÍVEL HISTÓRIA DO HOMEM QUE ESCAPOU QUATRO VEZES DA MORTE (ERA UM DOS ATLETAS DA DELEGAÇÃO QUE FOI ATACADA POR TERRORISTAS PALESTINOS NAS OLIMPÍADAS DE MUNIQUE)

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Ladany : a capacidade de sair vivo de situações dramáticas
Os jornais noticiaram : o grupo terrorista Al-Qaeda teria anunciado o propósito de cometer um atentado na Copa do Mundo da África do Sul, durante o jogo Estados Unidos versus Inglaterra. É provável que o anúncio seja tão falso quanto uma moeda de trinta e cinco centavos. Ninguém precisa ser especialista em terrorismo para concluir que ataques terroristas de verdade acontecem sempre de surpresa.

Um dos mais espetaculares ataques terroristas dos tempos modernos aconteceu durante um evento esportivo planetário : as Olimpíadas de Munique de 1972.

Fiz uma entrevista com um atleta israelense que conseguiu escapar do ataque.

Voilà:

Quem? Um professor de engenharia chamado Shaul Ladany.

O quê ? Fará setenta anos de idade.

Onde? Em Israel.

O aniversário de um professor pouco conhecido dificilmente mereceria se transformar em notícia se não fosse por um detalhe: Shaul Ladany é personagem de uma das mais extraordinárias histórias de sobrevivência do Século XX.

A morte esteve no encalço de Ladany pelo menos quatro vezes. Por quatro vezes, Ladany escapou.

Primeira: judeu nascido em Belgrado, foi mandado para o campo de concentração de Bergen-Belsen, na Alemanha, em 1944, quando tinha apenas oito anos de idade. Passou seis meses no inferno, cenário da morte 50.000 prisioneiros.

Segunda: pegou em armas para lutar pelo Exército israelense na Guerra dos Seis Dias – o ataque-surpresa feito por Israel, a partir do dia 5 de junho de 1967, contra Egito, Síria e Jordânia.

Terceira: maratonista, fazia parte da delegação israelense que foi atacada pelos terroristas palestinos da organização Setembro Negro no dia 5 de setembro de 1972 durante as Olimpíadas de Munique – um dos mais espetaculares atos de terrorismo da história moderna.

Quarta: um ano e um mês depois do pesadelo de Munique, participou da Guerra do Yom Kpur, provocada pelo ataque do Egito e da Síria contra Israel, em outubro de 1973.

Ladany : a capacidade de sair vivo de situações dramáticas

“O que eu sou? Um sobrevivente” – resume Ladany. Professor de engenharia industrial da Universidade Ben Gurion, em Israel, pai de uma filha, avô de duas netas, este sobrevivente estará pensando em quê, na noite do aniversário?

”Vivi uma vida turbulenta. Quando a família se reúne, sabe sobre o quê a gente fala? Você não vai acreditar, mas é sobre o Holocausto”, diz. “Infelizmente, tive também a experiência das Olimpíadas de Munique. São lembranças que me acompanharão enquanto eu estiver vivo. Vou pensar sobre Munique no dia dos meus setenta anos, com toda certeza”.

O terror bateu à porta da delegação israelense, na Vila Olímpica, em Munique, às quatro e meia da manhã de uma terça-feira. Oito homens mascarados invadiram o alojamento israelense: eram terroristas da organização Setembro Negro. Queriam chamar a atenção do mundo para a causa palestina.

O treinador de luta Moshe Weinberg, 33 anos, foi morto a tiros no momento da invasão. O levantador de peso Yosef Romano foi a segunda vítima. Os terroristas matariam outros nove atletas israelenses no aeroporto, dentro de dois helicópteros, em meio à desastrada operação armada pelo governo alemão para tentar abortar o seqüestro. Cinco terroristas também morreram.

Horas antes, toda a delegação israelense tinha ido ao teatro, para ver “Um Violinista no Telhado”, uma peça baseada nas histórias de um autor israelense, Sholon Aleichem:

- “Ali, vinte e sete anos depois do fim da guerra, um elenco judaico encenava uma peça de um autor judaico em solo alemão. Parecia um absurdo, porque eu ainda me lembrava da Alemanha da era nazista. O sentimento era de felicidade para todos nós. Tiramos fotos. Nem em nossos piores pesadelos imaginaríamos o que estava para acontecer horas depois”.

Ladany foi despertado por um barulho estranho no alojamento da delegação israelense, o prédio número 31 da Connollystrasse. Quando abriu a porta, na madrugada daquela dia cinco de setembro, viu um homem de pele morena e de chapéu no final do corredor. Era um dos terroristas, mas Ladany não sabia:

- “Notei que algo estava errado quando ouvi o diálogo deste homem com guardas que tentavam convencê-lo a deixar equipes de socorro da Cruz Vermelha entrar no alojamento. Quando alguém pediu que ele fosse “humanitário”, ele respondeu : “Não! Judeus não são humanitários”. Não tenho certeza se ele disse “judeus” ou “israelenses”. Ali, entendi imediatamente que algo terrível estava acontecendo.O terrorista não chegou a me ver”.

O ex-maratonista Ladany – que conseguiu se afastar do alojamento – critica até hoje o governo alemão. Diz que as autoridades desperdiçaram a chance de alvejar os terroristas palestinos porque não queriam que a Alemanha fosse palco de derramamento de sangue:

- Pareceu óbvio que o governo alemão não quis usar a Vila Olímpica – que simbolizava uma atividade pacífica – como cenário de uma operação antiterror. O governo queria mostrar ao mundo que ali estava uma Nova Alemanha – não a Velha Alemanha nazista”.

Ladany foi testemunha de uma cena cinematográfica. Aquartelado numa sala escura da Vila Olímpica, em companhia de colegas da delegação isralense, viu quando os terroristas conduziam os atletas seqüestrados para os helicópteros que os levariam para o Aeroporto. Ao lado de Ladany, um atleta que fora participar das competições de tiro ao alvo fez uma confidência:

- Vi os terroristas no momento em que eles chegaram ao centro da Vila Olímpica. As luzes os focalizaram. Vi os nove reféns.Um estava amarrado a outro. Ao meu lado, estava um colega da delegação israelense. Era atirador. O local onde estávamos era totalmente escuro. O meu companheiro disse: “Oh! Sem problema algum, eu poderia atirar agora nos terroristas!”.

Ladany voltou para Israel no avião que conduzia os corpos dos atletas israelenses mortos nas Olimpíadas:

- “ A bordo do avião, eu pensava: como um idéia tão bonita – um evento olímpico que deveria significar uma trégua e um momento de paz e alegria para todos – pôde se transformar no cenário de um massacre?. É inacreditável”.

O pesadelo de Munique voltou a ser notícia em todo o mundo com o lançamento do filme dirigido por Steven Spielberg. “Munique” descreve – com um ou outro toque de ficção – a operação secreta que Israel armou para eliminar, um a um, os terroristas palestinos que participaram do atentado:

Se fosse convocado, o ex-atleta e ex-soldado Ladany participaria da Operação Vingança ?

A resposta vem sem um segundo de hesitação:

- “Sim! Vou contar um fato: ali pelo final dos anos setenta, li um pequeno artigo num jornal dizendo que um dos terroristas envolvidos no massacre de Munique estava levando uma vida luxuosa no Líbano. Recortei a notícia. Em seguida, enviei o recorte para o Ministério de Defesa de Israel. A carta foi endereçada a Ezer Weisman – que viria a ser presidente de Israel, anos depois. Eu disse na carta que, em minha opinião, o longo braço da justiça israelense deveria atingir aqueles que cometeram o terrível massacre de Munique. Meses depois, recebi uma carta do Ministério da Defesa dizendo que minha carta tinha sido encaminhada aos “canais apropriados”. Não tenho ódio contra árabes, não tenho ódio contra muçulmanos. Mas quem comete atos terroristas deve ser punido”.

Ladany não cita nomes, mas o homem tido como um dos mentores do Massacre de Munique, Ali Hassan Salameh, foi morto num atentado armado por agentes israelenses no dia 22 de janeiro de 1979, numa rua chamada Verdun, em Beirute.

O filme “Munique” – dirigido por Steven Spielberg – foi criticado em Israel porque mostrava momentos de hesitação vividos por agentes israelenses encarregados de executar os terroristas envolvidos no ataque aos atletas. Ladany justifica recorre a uma lógica implacável para justificar a retaliação:

”Em primeiro lugar, não acredito que os terroristas tenham tido qualquer hesitação no momento de fazer o ataque. Em segundo lugar: não acredito que os agentes envolvidos na vingança – realizada para evitar a repetição de ataques terroristas – tenham tido qualquer hesitação também. Só lamento que inocentes tenham morrido também na operação vingança” ( Ladany se refere ao pior erro cometido pelos agentes israelenses: um jovem marroquino, chamado Achmed Bouchiki, foi morto com dez tiros à queima-roupa momentos depois de sair do cinema em companhia da mulher, grávida, no final da noite de sábado, 21 de julho de 1973, em Lillehammer, Noruega. Os agentes pensaram que ele era um dos terroristas de Munique. Bouchiki era inocente).

Aaron J. Klein, o autor de “Contra-Ataque”, livro lançado no Brasil, diz que os terroristas do Setembro Negro desembarcaram em Munique dispostos a cometer “um ataque sem precedentes, avassalador – um teatro de horrores que arderia na consciência coletiva mundial por gerações”.

O que Ladany diz dessas palavras?

“ Concordo. Agora, neste exato momento, quando você me faz esta pergunta, eu recordo os menores detalhes de Munique: parece que posso ver tudo de novo, como se tudo tivesse acontecido há poucos minutos. Há coisas em nossas vidas que são importantes demais para serem esquecidas”.

Posted by geneton at maio 29, 2010 11:34 AM
   
   
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