setembro 12, 2009

ABDEL BARI ATWAN - PARTE 1

AS DESCOBERTAS DO HOMEM QUE ESTEVE FRENTE A FRENTE COM BIN LADEN : O SUPERTERRORISTA TEM MEDO DE GRAVADOR! (PARTE 1)

Perguntei ao Joel Silveira octogenário qual era a grande entrevista que ele gostaria de ter feito mas não fez.

Resposta na ponta da língua : Adolf Hitler.

O maior repórter brasileiro me disse que aproveitaria a entrevista para fazer uma ponderação: “Eu diria a ele : “Hitler, você deveria ter se dedicado à pintura! Não deveria ter abandonado seus quadros. O mundo ganharia um pintor medíocre. Em compensação, se livraria de um psicopata sanguinário”. É claro que, quando eu desse este conselho a Hitler, a entrevista seria imediatamente interrompida. Eu seria levado para fora da sala e executado dez minutos depois”.

Joel ria ao me descrever a cena imaginária.

A escolha de Hitler para a grande entrevista é perfeitamente compreensível.

Todo jornalista que se preza daria a mão direita para ter a chance de interrogar um vilão da magnitude de Hitler.

E hoje? Quem é o vilão que mereceria qualquer sacrifício em troca de uma entrevista ? Eu ofereceria meu time de botão preferido e uma foto autografada de Charlotte Rampling em troca de cinco minutos diante do megaterrorista Osama Bin Laden.

O motivo: o mal é, sempre foi e será jornalisticamente fascinante.

Bin Laden dificilmente sairá de seus esconderijos para brindar um repórter com uma entrevista – menos ainda um brasileiro.

Mas….tive a chance de colher, em Londres, um longo depoimento do homem que interrogou Bin Laden “ao vivo e a cores”, frente a frente, numa caverna no Afeganistão.

Eis o que escrevi depois de entrevistar Abdel Bari Atwan, um dos personagens mais desconfiados que tive a chance de encontrar:

Primeira (e surpreendente ) descoberta: Bin Laden não permite que suas palavras sejam gravadas. O cúmulo do perfeccionismo : não quer que um eventual vacilo na fala seja eternizado numa gravação

Apoiado por um cajado – que lhe confere um ar de pastor de ovelhas – Bin Laden caminha por uma trilha coberta de neve, nas alturas de uma montanha de Tora Bora, no Afeganistão. Com voz suave, descreve qual é a tática que pretende usar para infligir derrotas, vexames, danos e humilhações à superpotência que seus olhos fundamentalistas enxergam como a encarnação do mal na terra: os Estados Unidos da América.

Ao lado de Bin Laden, Abdel Bari Atwan - que detectou a “suavidade” no tom de voz do líder da organização terrorista Al Quaeda- , anota freneticamente tudo o que ouve. Tentou gravar a peroração, mas esbarrou na resistência de Bin Laden a gravadores.

( Atwan procurou saber por que diabos Osama Bin Laden preferia que suas palavras fossem anotadas, ao invés de gravadas. Um dos militantes da Al-Qaeda deu a ele uma informação que serve de pista sobre o que passa pela cabeça deste pastor de ovelhas antiamericanas : Bin Laden não queria gravar porque poderia, quem sabe, cometer um ou outro tropeço na construção de uma frase ou na citação de uma passagem do Alcorão. Diante do que viu e ouviu, Atwan elaborou uma explicação para este demonstração extremada de perfeccionismo : como espera um dia ser entronizado como o califa que comandará os muçulmanos de todo o planeta, Bin Laden não quer deixar, atrás de si, registros de imperfeições, por menores que sejam).

abdelabdeleditadadsc00861-300x175.jpg

Abdel Bari Atwan : frente a frente com Bin Laden ( Foto: GMN )

Terminada a peroração de Bin Laden, Atwan descobriu que tinha colhido na fonte, sem intermediários, as duas pontas de um novelo.
Primeira ponta: os motivos do ódio que o homem do cajado devotava aos Estados Unidos ( São dois. Bin Laden reclamou de que os Estados Unidos usaram – e depois abandonaram – guerrilheiros islâmicos “fervorosos” que, nos anos oitenta, lutavam contra as tropas soviéticas que tinham invadido o Afeganistão, um país islâmico. A derrota soviética atendia aos interesses americanos, porque a União Soviética era a grande inimiga dos Estados Unidos no cenário internacional. Segundo motivo: Bin Laden considerou um sacrilégio intolerável a presença maciça de soldados americanos em lugares sagrados do islamismo, na Arábia Saudita, durante o deslocamento de tropas que lutaram na primeira Guerra do Golfo, em 1991. As origens da guerra que ele declararia aos Estados Unidos remontam, então, ao Afeganistão e à Arábia Saudita. Bin Laden também se queixou do apoio americano a “ditaduras corruptas” no mundo árabe).

Segunda ponta: a revelação de Bin Laden sobre a tática que adotaria contra os Estados Unidos ( já, já, Atwan dará detalhes sobre o que ouviu).

O convite para um encontro frente-a-frente com Osama Bin Laden partiu da própria Al-Qaeda. O convidado não vacilou um segundo antes de aceitar

Atwan bate no peito: diz que os três dias que passou em companhia de Bin Laden em Tora Bora o transformaram no jornalista que mais tempo ficou com o líder da Al-Qaeda, antes ou depois do 11 de Setembro.

( Quem é, afinal, este homem a quem Bin Laden fez tantas confidências, antes dos ataques do 11 de setembro de 2001? Abdel Bari Atwan é um palestino, nascido na Faixa de Gaza. Radicado na Inglaterra, dirige um jornal de língua árabe que é publicado em Londres, o Al-Quds al- Arabi. A chance de um encontro face a face com Bin Laden nas montanhas de Tora Bora nasceu depois de um convite da Al Qaeda.

Não por acaso, Atwan se tornou especialista na Al-Qaeda. Disse sim ao nosso pedido de entrevista. Mas demonstrou ser um homem desconfiado. Vive olhando para os lados, como se estivesse se guardando contra a investida de algum intruso imaginário. Sobre a mesa de trabalho, mantém um terço ao alcance da mão, ao lado do teclado do computador. O bigode é de Sadam Hussein. Os cabelos devem ter passado por uma tintura rejuvenescedora).

abdel2dsc00857-300x228.jpg

Pausa para uma oração no meio da entrevista ( Foto : GMN )

Jornais publicaram que Osama Bin Laden chegou a andar com um cartão de visita de Atwan no bolso. Atwan já declarou, escreveu e repetiu que não endossa nem apóia a “agenda da Al-Qaeda”. Mas é certo que o encontro nas montanhas de Bora Bora serviu para estabelecer uma relação de confiança entre o bigodudo Atwan e o candidato a califa Osama Bin Laden . Basta um exemplo: a Al Qaeda escolheu o jornal de Atwan para divulgar comunicados de repercussão mundial, como, por exemplo, o e-mail em que a organização assumia a autoria dos atentados que abalaram Madrid em 2005.

Aos olhos das autoridades americanas, no entanto, os contatos de Abdel Bari Atwan com a Al-Qaeda podem ter sido meramente profissionais, mas foram suficientes para envolvê-lo sob manto de suspeição. As tentativas que Atwan fez para obter visto de entrada nos Estados Unidos, para atender a convites de universidades, trombaram em dificuldades, restrições e vexames. Atwan desistiu de tentar de novo.

As instalações do jornal Al-Quds al Arabi são modestas. Ficam no primeiro andar de um prédio feio na King Street.

atwanjornaldsc008641-300x224.jpg

Começa a gravação. Abdel Bari Atwan vai traçar um retrato falado sobre o homem que declarou guerra à maior potência militar do planeta:

Bin Laden me disse : “Se eu conseguir atrair os americanos para o Oriente Médio, para combatê-los em meu próprio terreno, em meu próprio chão, em meu próprio quintal, será perfeito”

Qual foi o comentário mais marcante que Bin Laden fez ao senhor sobre a luta contra os Estados Unidos?

“Osama Bin Laden me levou para uma “excursão turística” pelas montanhas de Tora Bora. Caminhamos sob um frio intenso. Disse-me: “Não posso combater os americanos nos Estados Unidos , porque é extremamente difícil. É algo que exige grande planejamento e grande esforço. Mas, se eu conseguir atrair os americanos para o Oriente Médio, para combatê-los em meu próprio terreno, em meu próprio chão, em meu próprio quintal, será perfeito. Prometo a você: farei maravilhas, porque esta será uma das melhores coisas que podem acontecer em minha vida: lutar contra os americanos em território islâmico, em território árabe”.

Parece-me que o presidente Bush, um homem esperto, cumpriu este desejo de Bin Laden ao invadir o Iraque e o Afeganistão….Hoje, a Al-Qaeda se reagrupa no Afeganistão; o Talibã, também, impõe perdas nas forças da Otan. Destruíram a reputação da América – política e militar – depois da invasão do Iraque. Veja-se o que a Al Qaeda e outras organizações estão fazendo contra as forças americanas no Iraque: cerca de três mil mortes! Deus sabe o que acontecerá ainda”.

O senhor diz que Bin Laden transformou os Estados Unidos em parte do Oriente Médio. Como é que o senhor explica esta estratégia?

“Bin Laden conseguiu enganar os Estados Unidos. Conseguiu ser mais rápido do que eles: fez o ataque contra o World Trade Center para fazer com que os americanos mandassem tropas para o Oriente Médio e para o Afeganistão. Lá, Bin Laden poderia combatê-las.

“Sabia que, se os Estados Unidos enviassem tropas para o Oriente Médio, enfrentariam o destino que enfrentaram no Vietnam ou que os soviéticos enfrentaram no Afeganistão”

Quem olha para a História vai ver que todos os impérios caíram porque tentaram expandir suas fronteiras e atacar países menores. Parece que Bin Laden estudou História muito bem. Porque sabia que, se os Estados Unidos enviassem tropas para o Oriente Médio, enfrentariam o destino que enfrentaram no Vietnam ou que os soviéticos enfrentaram no Afeganistão. Bin Laden planejou tudo. Deve estar satisfeito.

Escondido em algum lugar, ele deve estar esfregando as mãos, contente, porque não poderia imaginar que os Estados Unidos iriam fazer o que estão fazendo agora. Bin Laden não imaginaria que os Estados Unidos estariam sofrendo derrotas num país como o Iraque. Não esperaria que os Estados Unidos fossem gastar esta montanha de dinheiro, centenas de bilhões de dólares, além de perder três mil soldados, até agora.

Se Bin Laden morrer amanhã, morrerá feliz. Porque conseguiu se vingar dos Estados Unidos, grande país que ele considera o mal: Bin Laden fez com que os Estados Unidos fossem humilhados no Oriente Médio, na mão de muçulmanos e árabes. Deve estar extremamente feliz agora”.

“Disse que gostaria de ter morrido com seus companheiros que foram mortos na luta contra as tropas soviéticas no Afeganistão. Porque ele considera esta vida precária. O que ele quer é a vida eterna. Quer ir para o paraíso”

Depois dos encontros com Bin Laden, o senhor escreveu que teve a impressão de que ele não era um homem comum. O que é que ele tinha de tão extraordinário?

“O que chamou minha atenção, no caso de Osama Bin Laden, é que ele é um homem corajoso. Não teme a morte. A verdade é que ele lamentava o fato de ainda estar vivo.

Bin Laden me disse que gostaria de ter morrido com seus companheiros que foram mortos na luta contra as tropas soviéticas no Afeganistão. Porque ele considera esta vida precária. O que ele quer é a vida eterna. Quer ir para o paraíso. A declaração que Bin Laden me fez neste sentido me impressionou.

O que me impressionou também foi a humildade que Bin Laden cultiva. Um exemplo: ele comia a mesma comida que os seus colegas, como qualquer outro guerrilheiro mujahedin ( n: é este o nome dado a um muçulmano envolvido numa batalha. A palavra mujahedin significa “combatente”) . Por esta razão, era adorado e amado por eles. Bin Laden me mostrou coragem. Parecia ter paz de consciência. Não demonstrava ter medo de nada. É um personagem fascinante”.

“Não usa telefone. Não usa celular. Não usa qualquer tipo de equipamento eletrônico, porque sabe sabe que pode ser fatal”

É verdade que o senhor recebeu ligações da Al-Qaeda?

“Recebi várias chamadas telefônicas da Al-Qaeda, mas não de Bin Laden, pessoalmente. As ligações foram feitas pelo braço direito de Bin Laden na área militar, Abu Hafs al-Misri, depois do bombardeio de Kandahar, em 1998, quando o presidente Bill Clinton enviou mísseis Cruise como vingança contra o ataque a embaixadas americanas em Nairóbi (Quênia) e Dar es Salaam (Tanzânia).

Abu me telefonou. Disse-me que eles iam se vingar. Iriam dar aos Estados Unidos uma lição que os Estados Unidos jamais tinham recebido. É provável que ele estivesse dando sinais do que aconteceria no 11 de Setembro.

Osama Bin Laden pessoalmente não usa telefone. Não usa celular. Não usa qualquer tipo de equipamento eletrônico,porque sabe sabe que pode ser fatal. Mas os seus colegas e assessores usam telefone”.

A SEGUIR, NA PARTE II : POR QUE BIN LADEN ESTAVA “CHEIO DE ÓDIO”. O BLOGUEIRO GANHA UM “BRINDE” : FOTOS ORIGINAIS DO TERRORISTA NAS MONTANHAS DO AFEGANISTÃO!


Posted by geneton at setembro 12, 2009 11:04 AM
   
   
Copyright 2004 © Geneton Moraes Neto
Design by Gilberto Prujansky | Powered by Movable Type 3.2