agosto 26, 2007

"DOSSIÊ DRUMMOND" : JÁ NAS MELHORES CASAS DO RAMO

O umbusdaman do Sopa de Tamanco deve ter saído. Não volta tão cedo porque levou o chicote que passa o dia pendurado na porta de entrada, para espantar visitantes incautos.

Aproveito a falha na marcação, driblo o zagueiro zelador dos bons costumes jornalísticos e faço propaganda em causa (quase) própria : quer saber o que
o maior poeta brasileiro, Carlos Drummond de Andrade, estava pensando duas semanas antes de morrer ? Dê uma lida no "Dossiê Drummond", livro que acaba de ser relançado, pela Editora Globo.

Arredio ao contato pessoal, Carlos Drummond de Andrade era o que os amigos chamavam de "ser eminentemente telefônico". Um repórter (o locutor que vos fala) resolveu tirar partido dessa singularidade do comportamento do poeta. Preparou setenta e seis perguntas, armou o equipamento de gravação telefônica e, num fim de tarde, fez a aposta: importunou CDA para saber se por acaso ele poderia dar uma entrevista. Os dois - poeta e repórter - já se conheciam : tinham tido contatos ( telefônicos) anteriores.

A primeira reação de CDA foi a esperada: ah, agora não. A filha estava gravemente doente, num hospital. O pai-poeta ia visitá-la todos os dias. Quem sabe, adiante, ele poderia marcar uma conversa. Mas não naquele momento.
O repórter dá a cartada: e se as perguntas fossem feitas ali, por telefone ?
O poeta abre a guarda : ah, por telefone, é possível. Quer perguntar ?

O resultado da entrevista - gravada - foram duas mil linhas datilografadas. Setenta páginas de livro.

Colhida a pepita principal - a entrevista - , o repórter ouviu 45 personalidades sobre o poeta. O psicanalista Hélio Pellegrino, por exemplo, diz que, se não escrevesse poesia, Drummond provavelmente precisaria de tratatamento. Tinha um comportamento "esquizotímico", dado a retrações exageradas.

O melhor é ver Drummond se explicando.

Sobre a entrevista de CDA no "Dossiê Drummond", Paulo Francis escreveu - em texto reproduzido no prefácio do livro - que nunca tinha visto o poeta falar daquele jeito.

Lá vem o ombudsman com o chicote na mão, um charuto fumegante no canto da boca e um cinto cheio de balas preso entre os dentes.

É hora de bater em retirada.

Termina aqui o intervalo comercial gratuito do Sopa de Tamanco.

Posted by geneton at agosto 26, 2007 11:08 AM
   
   
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