dezembro 23, 2014

2015 SÓ PRECISA DE UMA "CAMISA LAVADA E CLARA". É MAIS DO QUE SUFICIENTE! ( OU: PEQUENO DISCURSO A FAVOR DA OPÇÃO PREFERENCIAL PELO DESPOJAMENTO )

Deus, se existe, certamente não é perfeito, pelo seguinte motivo: tudo indica que em 2015 assuntos insuportabilissimamente chatos continuarão se infiltrando por nossos indefesos canais auditivos, como ervas daninhas. A saber: novela deve ou não ter beijo gay?; maconha deve ou não ser liberada?; alguém seria capaz de ver um programa de Xuxa para adultos? etc.etc. Sobre o "beijo gay": tanto alarido termina transformando um mero gesto de carinho entre dois adultos numa "excentricidade" horrorosa que mereceria ser discutida a sério em jornais. Ora, cada um que beije quem quiser - como, onde e quando achar conveniente, desde que não perturbe a vida alheia. Ponto. Próxima discussão, por favor. Sobre a maconha: cada um que se entupa de fumaça como, quando e onde quiser, mas ninguém precisa ficar fazendo proselitismo ou malabarismos verbais para justificar a preferência. Ninguém precisa fazer de conta que o dinheiro, no fim das contas, "não alimenta o tráfico". É obvio que alimenta. A quem ele alimentaria?
Pequenas e inúteis previsões para 2015: é certo que o desfile de horrores prosseguirá "a todo vapor". A praga dos penteados horrorosamente ridículos dos jogadores de futebol se expandirá
( quem começou esta onda mereceria uma vaga no banco de réus num Tribunal de Nuremberg redivivo!); gente "famosa" posará diante de mesas de café da manhã fake em revistas de "celebridades"...Já calculei: a cada vez que uma foto dessas é tirada, a Humanidade dá, exatamente, 3.480 passos para trás. É só fazer as contas. Atrizes patologicamente obcecadas com a balança gritarão aos quatro ventos que já perderam dez quilos - como se houvesse, no planeta, alguma ameba de fato interessada em tal contabilidade. Peruas arriscarão a saúde injetando silicone pelo corpo. Depois, desfilarão suas deformações como se fossem troféus. Ficará sempre a dúvida: por que gastam dinheiro com cirurgiões, em vez de pagar a um psicanalista ou, alternativamente, procurar um padre disposto a ouvir suas baboseiras num confessionário? ( em algum lugar do planeta, a lindíssima Charlotte Rampling continuará se recusando a fazer cirurgias que disfarcem o envelhecimento. Charlotte é que é mulher de verdade ).

Alguém já notou, mas vale o registro: o que dizer desta onda de dentes branquíssimos, milimetricamente enfileirados e, portanto, escandalosamente falsos que ornamentam o focinho de tanta gente hoje em dia? Os dentistas autores dessas "obras-de-arte kitsch" continuam soltos? Que grande cena de humor involuntário é esta? Os donos de tais fileiras de dentes ficam parecendo bonecas e bonecos de porcelana - só que capazes de emitir grunhidos. É claro que cada um faz o que quer - mas custava tanto poupar olhos e ouvidos alheios de tanto horror? Ah,sim: idiotas escondidos atrás de vidros escuros continuarão avançando o sinal com seus carrões do ano - como vi ainda há pouco.
A lista de assuntos insuportabilissimamente chatos seria suficiente para preencher uma enciclopédia. Não vale a pena. Cometi os parágrafos anteriores por pura falta do que fazer. É claro que 2015 será um ano glorioso! Porque o melhor de tudo estará sempre ao alcance da mão: um quarto minúsculo; um velho ar-condicionado para espantar os horrores do calor; TV, rádio e computador solidamente desligados e, ao alcance da mão, comprável por um punhado de reais em qualquer sebo, maravilhas como A Montanha Mágica, O Leopardo, Quarup, A Pedra do Reino, a lista não teria fim.
Digo de novo: é quase impossível "passar batido" por um livro. Eu diria: seja qual for! ( ah, a dor de saber que será impossível ler tudo o que mereceria ser lido...) .
Folheio ao acaso páginas do velho Charles Bukowski - "Pedaços de um Caderno Manchado de Vinho" :
"Passei a me fixar na direção para a qual eu deveria ir. Voltei-me para o meu deus pessoal: SIMPLICIDADE. Quanto mais compacto e menor você se tornar, menor é a chance de errar ou de mentir .(...) Palavras eram balas, raios solares. Palavras eram capazes de romper o infortúnio e a danação (...) Eu queria resistir a todas as armadilhas, para morrer junto à máquina de escrever, uma garrafa de vinho à minha esquerda e o rádio, tocando, quem sabe, Mozart, à direita".
Obrigado, velho Bukowski, por nos soprar estas palavras bêbadas num fim de noite. Caíram em minhas mãos por acaso.
O bicho disse tudo: a opção preferencial pela simplicidade e pelo despojamento é o caminho mais curto para a felicidade. Pode parecer lição copiada de um daqueles manuais estúpidos de autoajuda, mas é verdade. Sempre foi. Qualquer passo na direção contrária é traição grave ! Deve ser punida com a infelicidade.
( Acorda, Maiakóvski, vem recitar aqueles versos : "Uma camisa lavada e clara / e basta / para mim, é tudo".
Eu me lembro de que uma vez, em Moscou, em meio à cobertura de uma eleição, corri para visitar o quarto onde o poetaço Maiakóvski viveu e se matou ).
É assim: pichar num muro imaginário um imenso não às vaidades vãs, aos apelos da carreira, à corrida pelo dinheiro, às tentações do conforto, às ambições estúpidas. Intimamente, dizer não, não, não, dar boa noite ao velho bêbado, acenar para a sombra de Maiakovski e sumir na estrada incerta carregando uma camisa lavada e clara, uma camisa lavada e clara, uma camisa lavada e clara, porque "é tudo".
Pode entrar, 2015! Os militantes da tribo dos que fizeram a opção preferencial pelo despojamento te esperam. Nosso peito esperançoso estará protegido por camisas lavadas e claras. Não há força capaz de rasgá-las.

Posted by geneton at dezembro 23, 2014 10:21 AM
   
   
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