setembro 07, 2014

DA SÉRIE PEQUENAS DÚVIDAS ESTÚPIDAS E DESIMPORTANTES: POR QUE SERÁ QUE UMA SUPERMODELO COMO GISELE BUNDCHEN ANDA NA PASSARELA COMO SE FOSSE UM BONECO DO CARNAVAL DE OLINDA OU UMA MARIONETE DESCONTROLADA?

Dúvida de um leigo absoluto em matéria de desfiles de moda: em nome de todos os santos, alguém poderia esclarecer o que quer dizer aquele andar de Gisele Bundchen na passarela? O que é aquilo? Defeito físico? Falta de coordenação motora? Trauma de infância?
Não se discute aqui a beleza da chamada "super-modelo". Deve haver um fundo de razão no boato de que ela é a mulher mais bela do mundo. Pode ser. Deve ser. Parece simpática, além de tudo. O problema das celebridades é a obrigação de dar entrevistas.


Sou insuspeito para falar, porque desde que me entendo por gente vivo importunando a paciência alheia em busca de declarações que mereçam ir para o papel. Em verdade, vos digo: noventa por cento das celebridades - especialmente, as que não precisam cultuar os prazeres da leitura - passam a vida pronunciando obviedades. Podem-se incluir nesta lista modelos, jogadores de futebol, atrizes, atores, cantores etc.etc.
As modelos vivem a um milímetro do vexame quando abrem a boca. Faça-se uma pesquisa na imprensa nacional dos últimos dez anos. O nível das declarações de modelos como Gisele Bundchen é digno de um estudante secundarista relapso. Uma alma caridosa poderia dizer: mas quem disse que elas deveriam saber falar ? Basta que desfilem. Que assim seja.
Mas aí uma dúvida devastadora invade a alma dos leigos: em nome das vítimas do tsunami, alguém poderia explicar o que é que faz uma supermodelo multimilionária se mover numa passarela como se fosse um boneco do carnaval de Olinda? É verdade que ganha cachês de milhares de dólares para balançar o esqueleto como se fosse uma marionete descontrolada?
Jamais vi um desfile de moda. Faço, desde já, um juramento: pretendo morrer sem ver. Não me faz a menor falta. Assim como milhões de observadores, guardo para mim o que penso daquela troupe de estilistas de roupinha preta e cabelo arrepiado. Um amigo - vou logo avisando que culto, bem preparado, viajado e nem de longe preconceituoso - gosta de exclamar quando cruza com um desses seres: "Ah, meu Deus do céu, só de pensar que a mãe passou nove meses gestando esta peça...".
Em nome dos bons costumes, seres civilizados, como este rabiscador de irrelevâncias, não dizem em voz alta o que realmente acham do Estado Geral das Coisas. Uma das conquistas da civilização, aliás, é a capacidade de dissimular opiniões (*). Mas caio na tentação de citar o que disse o britânico Paul Johnson sobre os estilistas em resposta a uma pergunta que lhe fiz:
GMN: O senhor diz que a moda é uma conspiração de costureiros para ver até onde eles podem forçar as mulheres a fazer macaquices. A moda é um sintoma da decadência?
Paul Johnson: “Não há nada de novo nesse fenômeno.A “alta moda de Paris” existe desde 1850 : é um século e meio de vida. Os estilistas –principalmente porque, na maioria, são homossexuais - sempre transformam as mulheres em macacas. Acham que as mulheres aceitarão o que eles fazem".
O "politicamente incorreto" Paul Johnson - que vive dizendo com brilho o que tanta gente pensa mas não diz - pode ter matado a charada: por detestarem o sexo feminino, os estilistas querem, no fim das contas, transformar modelos em macacas nas passarelas. Ou alguém já viu alguém andar na rua com uma daquelas roupas ridículas? Aviso aos navegantes: não sou eu que estou dizendo. É Paul Johnson. Apenas estou concordando.
Ainda assim, resta a dúvida primal: em nome das chagas de Jesus Cristo, alguém pode dizer em português claro o que é que faz uma supermodelo tão bonita quanto Gisele Bundchen andar com um pé na frente do outro, como se estivesse querendo provar ao guarda de trânsito que não bebeu?
O que é aquilo? O que quer dizer? Deixo no ar minha dúvida. Não é só minha. É de milhões de terráqueos que, como eu, certamente se orgulham de jamais, em tempo algum, ter pousado as patas num desfile de moda. Never, never, never, por todos os séculos e séculos, amém. É só ver o nível mental, o elenco de interesses e a compulsão exibicionista dos que, com as exceções de praxe, fazem, frequentam e badalam este lamentável aglomerado de cabeças-de-vento.
"Fashion Week". Quá-quá-quá. Nós, aqui do extremo oposto da escala animal, agradecemos penhoradamente pelas boas risadas que estes convescotes nos proporcionam sempre que aparecem na TV. Quá-quá-quá. Nunca se fez tanto humorismo involuntário na face da Terra.
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(*) Por falar nas virtudes da discrição: não por acaso, o inglês típico - habitante de um terra reconhecidamente civilizada - é capaz de testemunhar as maiores aberrações sem externar qualquer sinal de espanto. Vi uma vez, no metrô de Londres, um homem entrar num vagão, num sábado à noite, vestido de freira. Diga-se que não era carnaval. Os passageiros, todos, fizeram de conta que não estava acontecendo nada de incomum. Ninguém levantou a vista dos tabloides. Somente este selvagem brasileiro se deu ao trabalho de dar uma olhada discreta para o homem-freira - que reagiu com um sorriso cúmplice. Eu queria ver se não estava tendo uma alucinação visual. Duas estações depois, o homem-freira sumiu na multidão. Não incomodou nem foi incomodado. A indiferença é o suprassumo da civilização.

Posted by geneton at setembro 7, 2014 01:24 PM
   
   
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