julho 02, 2011

EVANDRO CARLOS DE ANDRADE 9

ENTREVISTA COM EVANDRO CARLOS DE ANDRADE -9/ O JORNAL TINHA UM CONTÍNUO QUE FICARIA FAMOSO: CARTOLA. E UM COPIDESQUE QUE VIRARIA CINEASTA: NÉLSON PEREIRA DOS SANTOS

Evandro Carlos de Andrade conviveu, na redação do Diário Carioca, com personagens que, anos depois, ficariam célebres, por motivos que nada tinham a ver com o jornalismo. Aqui, o homem que, no futuro, dirigiria redações importantes faz uma confissão: ficou “tentado” a aceitar o convite para atuar num filme que entraria para a história do cinema brasileiro:

“Uma lembrança que guardei da redação : Cartola, que depois ficaria famoso como compositor,era nosso contínuo no Diário da Carioca. Homem modestíssimo, contínuo simpático e prestativo, já era relativamente conhecido como sambista, mas não cantava na redação. Vivia numa pobreza tremenda. Nélson Pereira dos Santos, que viria a dirigir o filme “Vidas Secas”, também estava no Diário Carioca – na equipe de copidesques do jornal. Luis Carlos Barreto, fotógrafo do O Cruzeiro que estava começando a produzir cinema, me chamou para trabalhar num filme que seria dirigido por Nélson Pereira – “Vidas Secas”. Que maluquice! Eu seria um dos piores canastrões da história do cinema nacional. Quando eu disse à minha mulher, em casa, que tinha recebido o convite, ela não admitiu de jeito nenhum. Pensei : entre o casamento e o cinema, fico com a família. Renunciei ao meu posto cinematográfico. Cedi o lugar a Átila Iório. Luís Carlos Barreto me achou com pinta de galã. Infelizmente,não concordo com ele. Mas fiquei levemente tentado pelo convite. O problema é que eu era –e sou – um tímido. Ficava trêmulo quando tinha de falar em público”.

“Nunca cheguei a levar a sério a possibilidade de seguir uma carreira artística. Para dizer a verdade, como cantor, eu era razoavelmente afinado.Um rapaz que morava perto da minha casa, na São Francisco Xavier, na Tijuca, uma vez organizou um pequeno grupo para cantar. Chamou-me para fazer o grave. Eu tinha dezoito anos. O autor do convite tinha um talento incrível. Era conhecido como Johnny Alf – pseudônimo com que ficou famoso, anos depois, como compositor e intérprete de “Eu e a Brisa”. Começamos a ensaiar. Mas o grupo se desfez logo. Havia outro grupo – que também não durou muito – chamado Os Modernistas, sob a liderança de João Donato, um tremendo músico, um craque do acordeon. Donato liderava as apresentações do grupo Os Modernistas no Tijuca Tênis Clube. Nosso grupo não passou da fase de ensaios. A primeira música que ensaiamos, sob o comando de Johnny Alf, foi “I Don’t Know Why”, lançada por Frank Sinatra”.

“Depois de décadas, me encontrei com Johnny Alf – que estava tocando,com um ar meio entediado, numa casa noturna na Lagoa. Resolvi me aproximar : “Johnny Alf,você se lembra daquele grupo que você organizou lá na rua São Francisco Xavier ? “. Ouvi a seguinte resposta : “Não ! Não me lembro ” .

“Não, não me lembro….”. “Devo confessar que a resposta de Johnny Alf me deu um frio na barriga – uma horrorosa sensação de desconforto”.

Posted by geneton at julho 2, 2011 03:17 AM
   
   
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