junho 29, 2011

EVANDRO CARLOS DE ANDRADE 6

ENTREVISTA COM EVANDRO CARLOS DE ANDRADE – 6/ “JK TINHA UMA NOTÓRIA AMANTE. NÃO SE FALAVA SOBRE O ASSUNTO”

Neste trecho da entrevista, o jornalista Evandro Carlos de Andrade relembra o dia em que viajou a Belo Horizonte com a missão de fazer uma entrevista com o candidato que viria a se tornar um dos mais populares presidentes da República :

“Tive a chance de fazer a primeira entrevista com Juscelino como presidente eleito. A entrevista não foi feita para o Diário Carioca, mas para a revista Manchete. Pompeu de Souza (chefe de Evandro no Diário Carioca) ficou enciumado. Diretor da Manchete, Otto Lara Rezende me convidou para fazer a entrevista com Juscelino. Consultei Pompeu : “A Manchete me convidou. Algum problema ? “. Como ele disse que eu poderia atender ao convite, viajei para Minas Gerais, em companhia do fotógrafo Gervásio Batista,exclusivamente para fazer a entrevista. Quando voltei ao Rio, notei que Pompeu tinha ficado enciumado, porque ele me disse : “Ah,não esperava que você fosse…”. Respondi : “…Mas eu pedi autorização! E você é que deu !”.

“Juscelino estava tranqüilo quando o encontrei, em Belo Horizonte. Chegou a brincar quando eu disse que as projeções indicavam que ele vencera a eleição : “Mas essas contas estão certas ?”. A contagem dos votos não tinha terminado. A apuração dava vantagem a Ademar de Barros mas não havia dúvida nenhuma de que Juscelino seria eleito para a Presidência da República. Eu tenho certeza de que ele estava cansado de saber que iria ganhar. Ainda assim, me perguntou: “Como é que você fez esse cálculo ? “. Juscelino estava brincando. Era extremamente simpático e gentil. Estava cansado, mas sorridente e eufórico. Quando o fotógrafo se preparava para fazer as primeiras fotos, amigos sugeriram que Juscelino trocasse por “um terno presidencial” a roupa meio amarrotada que ele usara na viagem do Rio a Belo Horizonte. Juscelino, então, se levantou. Quando voltou, estava de terno cinza-escuro, colete, gravata em minúsculo xadrez preto e branco e sapatos pretos, conforme registrei na reportagem. Quando ainda estava em desvantagem na contagem dos votos, Juscelino ouviu de um repórter, na saída de uma missa de ação de graças pelo aniversário de Dona Sara, uma perguntava sobre se não estava assustado com o resultado. Respondeu : “ Você nunca ouviu falar em Nossa Senhora do Bom Princípio. Porque o que existe é Nosso Senhor do Bonfim. E desse eu sou devoto !”.

“Não teve nem cafezinho : eu me sentei ao lado do presidente eleito, fiz a entrevista, fui embora para o Rio. Juscelino tinha estado na casa de um amigo. Era notoriamente amante da mulher do dono da casa”.

“Juscelino aproveitou a entrevista para mandar um recado aos que não queriam que ele tomasse posse. Quando perguntei se ele acreditava que o movimento contrário a ele iria recrudescer, respondeu : “Considero esta pergunta totalmente superada. A eleição de três de outubro arrasou com qualquer veleidade de grupos que quisessem opor-se à vontade do povo. Nem considero esta pergunta como tema para dissertação. O eleito é ungido. Nenhuma força impedirá a posse”.

“Quando Juscelino assumiu a Presidência,passei a escrever uma coluna diária no Diário Carioca sobre o que acontecia no Palácio do Catete. A gente sabia da fama de Juscelino : a de ser de mulherengo. Tinha uma notória amante – uma mulher casada. Não se falava sobre esse assunto. Veja-se o próprio Getúlio Vargas. Quando eu soube que Getúlio tinha sido amante de Virgínia Lane, tive uma surpresa. Eu não tinha nenhuma idéia de que Getúlio fosse sexualmente praticante”.

“Juscelino não tinha intimidade com os repórteres que o acompanhavam. Era simpático, mas se dava ao respeito. Passei a campanha toda dentro do avião de Juscelino. Ainda assim, ele não me dava nenhum tratamento especial. Só raramente. Posso dizer que sofri quando fui distinguido com um convite. Quando Juscelino foi fazer uma viagem a Belo Horizonte por uma estrada de terra, prosseguimento da União Indústria, me convidou. O convite foi feito também porque o Diário Carioca o apoiava. Mas foi um horror, um tormento para mim. Viajei no quarto carro da comitiva. Alimentei-me de poeira durante doze horas”.

“Tanto durante a campanha quanto durante o exercício da Presidência, Juscelino sabia ser espontâneo e comunicativo durante as entrevistas. Pode-se dizer que foi o primeiro homem público a usar bem a televisão, no sentido pró-governo.Carlos Lacerda usou o poder demolidor da TV. Ao perceber o poder de fogo da TV, Juscelino –que tinha poderes para tanto – proibiu Lacerda de ter acesso à televisão”.

Posted by geneton at junho 29, 2011 03:26 AM
   
   
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