novembro 26, 2009

ÉDSON NÉRY DA FONSECA

INTELECTUAL QUE COMBATE SUBLITERATURA NÃO PODE PISAR NA ACADEMIA. MOTIVO: PODE LEVAR UMA SURRA DOS SUBLITERATOS

Aviso aos navegantes: o DOSSIÊ GLOBONEWS exibiu uma entrevista com o intelectual que combate a subliteratura, a ponto de ter sido aconselhado a não pisar numa academia de letras, porque corria o risco de levar uma “surra”:

http://globonews.globo.com/Jornalismo/GN/0,,MUL1396570-17665-337,00.html

Édson Néry da Fonseca é uma figura rara, porque, num mundo dominado pelo culto à mediocridade, ao exibicionismo e à idiotia, vive de cultivar a beleza literária e as virtudes do silêncio e do recolhimento. Não por acaso, este professor emérito da Universidade de Brasília vive hoje num casarão antigo, ao lado do Mosteiro de São Bento, em Olinda. Faz sucesso em feiras literárias – como aconteceu na Flip – recitando versos belíssimos de Manuel Bandeira.

O homem que cultiva o silêncio, a poesia e a fé acaba de lançar um livro de memórias. Título: “Vão os dias e eu Fico”. Editora: Ateliê Editorial. Recomendado.

Um trecho da entrevista:

Qual é o verso mais comovente que o senhor conheceu ?

A importância da poesia descobri uma vez em que havia aqui no Recife um jornalzinho distribuído nas praias chamado “O Praieiro”. Um dia, publico neste jornal o poema de Carlos Drummond de Andrade Consolo na Praia. Quando chego à praia de Boa Viagem, aproxima-se de mim um médico amigo que me abraçou e me disse: “Muito obrigado! Eua ia me matar hoje mas não me matei por causa do poema de Drummond!”. Eu disse: “Que coisa!”. Ia se matar porque tinha um neto drogado, incorrigível. O poema:

“Vamos, não chores.
A infância está perdida
A mocidade está perdida
Mas a vida não se perdeu.
O primeiro amor passou,
o segundo amor passou,
o terceiro amor passou,
mas o coração continua” (trecho)

O senhor diz que detesta escritores acadêmicos e subliteratos. O senhor poderia citar, se é que existe, uma grande virtude um escritor subliterato e e um grande defeito de um escritor acadêmico ?

“Não diria que sou contra escritores acadêmicos. Sou contra a academia porque não é o meu ideal de convivência literária. Que uma Academia como a brasileira tem grandes escritores não há dúvida nenhuma. O que sou é contra a subliteratura. Os subliteratos é que me aborrecem. Mas eles têm virtudes humanas. Podem ser pessoas boas e nobres. Não são culpados de serem subliteratos. A subliteratura é a literatice, a oratória – algo que prejudica muitos escritores -, o estilo empolado, também chamado de barroco, o que é uma injustiça aos grandes escritores barrocos que houve”.

Quem é subliterato hoje no Brasil?

“Vou minimizar. Não posso entrar na Academia Pernambucana de Letras porque, numa entrevista que dei ao Jornal do Commercio, disse que ela era um reduto de medíocres.Quando o meu amigo José Paulo Cavalcanti Filho se elegeu, disse que não dispensava minha presença na posse. Mas,na véspera, veio à minha casa às oito da manhã pedir para eu não ir. Perguntei: por quê?. E ele me disse que fizera uma sondagem: “Disseram que iam dar uma surra em você se você entrar lá”. O subliterato não quer que a gente o chame de subliterato…”.

O senhor não poderia fazer a concessão de citar um nome de um subliterato brasileiro?

“Paulo Coelho. Com toda a consagração mundial, aquilo é um fenômeno de marketing que vai ser esquecido um dia”.

Qual foi o primeiro grande contato que o senhor teve com a mediocridade ?

“Aconteceu no colégio onde estudei – de jesuítas. Eram quase todos medíocres. Basta dizer que o professor de literatura, o padre Villas Boas, chamada Eça de Queirós de patife”.

O fato de um padre jesuíta citar um grande escritor como Eça de Queirós como um patife significou uma decepção para o senhor com a escola ?

“Ah, significou. Quando concluí o curso ginasial, neste colégio católico, deixei de ter fé. Deixei de frequentar a Igreja. Durante os dois anos do curso pré-jurídico,fui agnóstico.Não quis saber daquilo. Porque a mensagem que eles transmitiam era muito infantil: tinham por programa e por orientação só falar do inferno e das penas eternas. Isso não passou. Anos depois, em Brasília, participei de um retiro espiritual. O pregador era um jesuíta que veio para pregar. Era um típico jesuíta com aquela batina preta, aquela sotaina. Só falou em penas eternas. Logo no segundo dia de retiro, o pregador disse: “Eu soube que vocês querem conversar comigo. Não admito conversa! Conversem com os cardeais que estão aí à disposição! “. Veja que coisa…”.

O senhor diria que a velhice é a idade da contemplação?

“Pago para ver gente inteligente falar. Para mim, o espetáculo da inteligência é algo que me deslumbra. Sou capaz de pagar para ver gente inteligente falar, assim como sou capaz de pagar para não ir ver burros falarem”.

Ás vésperas de completar 88 anos de idade, qual é a grande pergunta para a qual o senhor não encontrou resposta até agora?

“É o fato de – com a exceção de um – todos os amigos de minha geração terem morrido, mas eu não morri. Eu me pergunto permanentemente a Deus: por que é que eu fiquei ? Isso me lembra o melhor romance de Graham Greene, “O Poder e a Glória”. Todos os padres virtuosos estavam sendo fuzilados.O padre devasso e bêbado era poupado. E esse padre perguntava a Deus: por que é que os virtuosos estão sendo mortos e eu sobrei?”.
Isso é um mistério. Não sei o que é que Deus quer de mim”.

Posted by geneton at novembro 26, 2009 06:22 PM
   
   
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