março 19, 2008

PAULO FRANCIS, O "LOBO HIDRÓFOBO", RESSURGE EM "CARNE VIVA"

Quando Paulo Francis entrou na redação do Fantástico, para uma “visita de cortesia”, produziu em torno si uma onda de silêncio que misturava curiosidade e reverência. O homem era uma estrela. Mas, “humildemente”, veio agradecer o destaque o programa tinha dado, na véspera, à entrevista que fiz com ele.

Ok : desde já, quero confessar ao distinto júri que sei do risco que corro ao usar a expressão “humildemente” num parágrafo que trata de Paulo Francis. As duas entidades, graças a Deus, eram incompatíveis: Francis e a humildade. Uma não se misturava com a outra. Eram como água e óleo. A referência a um lampejo de humildade em Francis deve produzir frouxos de riso em quem teve o privilégio de conhecê-lo. Mas, em nome da verdade factual, devo dizer que, sim, ao visitar a redação do Fantástico Francis teve um gesto de humildade. Ou seria gentileza ? Cravo nas duas alternativas. A imagem pública de “lobo hidrófobo” não combinava com o Paulo Francis no trato pessoal: um gentleman.

Paulo Francis tinha acabado de lançar um excelente livro memorialístico sobre o golpe de 1964, “Trinta Anos Esta Noite”. Eu tinha gravado uma longa entrevista com ele numa praça escondida nas proximidades do Jardim Botânico. Procurávamos um lugar razoavelmente silencioso para a gravação. O sucesso da busca foi parcial: crianças brincavam nas redondezas. As babás ficaram indiferentes à presença de Francis, mas pelo menos trataram de vigiar os passos de fedelhos que brincavam na praça.

Três anos depois, um ataque cardíaco fulminante matou o mais polêmico,o mais lido e o mais provocativo jornalista brasileiro, na manhã do dia quatro de fevereiro de 1997, em Nova York. Dizer que “Paulo Francis faz falta” virou um enorme lugar-comum. Mas é uma verdade puríssima: o texto de Francis faz uma falta imensa ao jornalismo brasileiro. Uma vez, ele escreveu: “Nossa imprensa: previsível, empolada, chata: como é chata, meu Deus...”. Em cem por cento dos casos, o que Francis escrevia escapava da chatice generalizada. Francis vivia reclamando de que era preciso criar no Brasil uma tradição: a de uma “prosa clara e instruída”. É o que há em outras culturas: a tradição de uma prosa clara e instruída, uma atividade que, no Brasil, tinha poucos cultores. Aqui, pensam que escrever difícil é escrever bem. Ledíssimo engano.

A contribuição que Paulo Francis deu para a criação de uma prosa jornalística “clara e instruída” ainda não foi devidamente avaliada. Onde é que estão os acadêmicos – que não tratam de demonstrar “cientificamente” esta herança ? É uma tarefa facílima. Ninguém precisava concordar com uma vírgula do que ele dizia. O importante é como ele dizia.

Livros como “O Afeto Que se Encerra” e “Trinta Anos Esta Noite” deveriam ser leitura obrigatória nas escolas de jornalismo – pela clareza cristalina, pela fluência absoluta, pelo ritmo agradabilíssimo do texto. É o que vale.

O nome de Francis voltou às páginas neste ano da graça de 2008 com o lançamento de um romance inédito que ele deixou, “Carne Viva”. É um presente para os fãs do auto-declarado “lobo hidrófobo” ( Uma vez, perguntei a ele como é que ele – que, quando criança, alegadamente exibia um ar de cão hidrófobo – se definiria na maturidade. Francis respondeu: “Que tal lobo hidrófobo” ? ) Publicado pelo selo Francis da Editora Landscape, este bem-vindo sinal de vida de Paulo Francis acaba de chegar às boas casas do ramo. Resenhistas já notaram que, quando personagens do romance abrem a boca para falar do estado geral das coisas, parece que é o próprio Francis quem fala. A “confusão” poderia parecer um defeito do romance. Mas eu diria que é uma virtude. Ainda bem que é possível ler de novo o que parece ser a voz de Francis. Há trechos do livro que – felizmente – parecem tirados da coluna fantástica que Francis publicou durante anos e anos na imprensa.

Trechos de “Carne Viva” :

“Em que mundo vive essa gente ? Numa fantasia de fraternidade, que se fosse levada a sério voltaríamos todos à lavoura, ao arado, à carroça de bois. Cobiça é o que faz o mundo girar. Quando a cobiça é saciada, e nunca o é completamente, pessoas como Sua Exa. E your obedient servant investem em empregos, filantropia e arte”

“Tinha ido a algumas noites de autógrafos de personalidades que Temístocles queria agradar,como políticos, autores de memórias, e ficava na fila conversando e, discretamente, namorando, se valesse a pena. Perguntou a um diplomata e escritor, Gilberto Amado, se um livro, pelo qual estavam esperando o jamegão do autor, iria vender. Ele sorriu e disse que “venderia o que vender aqui”, uns quase duzentos exemplares. O resto seria dado”.

“Chega de falar mal do Brasil. Não há países, nações. Há ambientes, pessoas, a maneira que nos conduzimos com nossos amigos, parentes e relações. Se formos uma pessoa de bem, e só o bem é radical, como escreveu Hannah Arendt, não há por que não levar uma vida boa, enquanto tivermos saúde e não deixarmos que nossa vontade seja violada ou espatifada”.

Posted by geneton at 07:12 PM

novembro 14, 2007

DICA DE LEITURA: "AFINAL, O QUE VIEMOS FAZER EM PARIS ?" ACABA DE CHEGAR ÀS LIVRARIAS

Acaba de sair do forno uma delícia de livro. Título: "Afinal, o que Viemos Fazer em Paris ?". Autor: Alberto Villas. Editora: Globo. Para quem não ligou o autor à obra: Alberto Villas, jornalista, revelou-se um memorialista "de mão-cheia" em "O Mundo Acabou". Ali, ele mistura memória pessoal com memória social com talento, leveza, humor - e competência.

Agora, em "Afinal, o Que Viemos Fazer em Paris", ele parte para uma nova empreitada memorialística sobre um período riquíssimo que viveu: um exílio voluntário em Paris, a partir do início dos anos setenta, época em que os militares diziam para o Brasil o que o Rei da Espanha disse para o presidente da Venezuela outro dia: "Por que não te calas ?".

O projeto gráfico do livro é um show. Os textos, divididos em blocos, fluem sem atropelo. Bom livro, afinal de contas, é o que dá prazer de ler. "Afinal, o que Viemos Fazer em Paris? " dá. É o que basta. Comecei a ler. Não dá vontade de parar.

O livro funciona como uma "madeleine", aquele gatilho que desperta imediatamente uma fileira de lembranças. Em um minuto, volto no tempo para 1980, ano em que o locutor que vos fala embarcou, também em "exílio" voluntário, rumo a Paris.

Eu me lembro do primeiro choque térmico e cultural: um amigo - que morava com a namorada australiana no terceiro andar de um prédio em ruínas desprovido de chuveiro num ruela sem movimento - organizava, uma vez por semana, uma "expedição" rumo aos chuveiros públicos. Íamos a pé. Cada um levava uma toalha, o sabonete, o desodorante e uma muda de roupa embrulhados num saco plástico. Lá, em troca de um punhado de francos, o forasteiro podia tomar banho cronometrado: dez minutos depois de ligado o chuveiro, o fiscal batia na porta para avisar que chega, a fila estava grande, era preciso dar lugar ao africano que esperava a hora de mergulhar na ducha.

Eu me lembro de Manoel, um brasileiro que passava doze horas por dia trancado num quarto insalubre de hotel tocando num fagote as Bachianas Brasileiras de Villa-Lobos. Uma vez, ele bateu na porta do meu quarto de madrugada para avisar que conseguira o grande feito: tinha finalmente descoberto como fazer os telefones públicos da Place D´Italie ligarem de graça para o Brasil. Corremos para as cabines telefônicas na madrugada gelada. Passamos seis horas usando o orelhão. Só saímos quando o dia amanhecia. Merci bien, France Telecom! Deus te pague! Um brasileiro descarado ainda tentava teorizar sobre o absurdo que cometíamos nas cabines telefônicas : "Os países ricos vivem explorando o Terceiro Mundo. É hora de a gente receber alguma coisa de volta!".

Eu me lembro de ter visto Bob Dylan cantando "Like a Rolling Stone" num estádio enquanto um grupo de holandeses incendiava os pulmões de haxixe a um passo de onde eu estava, no meio do gramado, assustado com a desfaçatez. A polícia não notou a fumaça dos holandeses. Gravei imagens mudas e tremidas de Bob Dylan com uma câmera Super-8. Nunca as usei para nada.

Eu me lembro de ter visto Pelé dando a volta olímpica no estádio para agradecer o título de Atleta do Século, antes de um jogo da seleção brasileira contra a da França. O Brasil ganhou.

Eu me lembro de ter testemunhado a aparição de um Glauber Rocha com rosto inchado e cara de sono, numa sala de cinema perto da Gare de Lyon, para uma sessão privê de A Idade da Terra, numa manhã de sábado de inverno.

Eu me lembro de ter olhado com algum deslumbramento para o festival de pichações políticas nas paredes da Universidade de Nanterre, no meu primeiro dia de aula de um curso de Cinema que jamais concluí. Uma das pichações mais visíveis convocava: "Aliste-se no Partido Comunista!". Naquela época, o Partido Comunista ainda era clandestino no Brasil. Eu nunca tinha visto algo assim numa universidade brasileira. Pensei: "Democracia!".

Eu me lembro de um brasileiro que não sabia quase nada de francês comentando, espantado, que nunca tinha visto tanta escola de garçom como em Paris. "Não é à toa que os restaurantes franceses são tão badalados. Com tanta escola de garçom desse jeito...". O brasileiro só não sabia que aquilo era Escola para Meninos ( "garçons", em francês). Nada a ver com garçom de restaurante.

Eu me lembro de ter arranjado dois empregos, ambos, claro, clandestinos: o primeiro como camareiro de um hotel numa rua chamada Champollion, ao lado da Sorbonne, no coração do Quartier Latin. Era duro fazer vinte e seis camas nos dias azuis de verão, em que o hotel ficava lotado de americanos e japoneses que comiam pão nos quartos e, para meu desespero, espalhavam farelo pelo carpete, o que exigia um trabalho extra com o aspirador de pé.Uma semana depois de me aceitar como camareiro, o dono de hotel, um homem chamado Ortega, fez uma confissão inconfessável: disse-me que, se o hóspede só passasse uma noite no hotel, eu não deveria trocar o lençol da cama. Bastava inverter o lado do lençol, esticá-lo ao máximo para dar ao próximo hóspede a impressão de limpeza e pronto. O dono queria economizar energia da máquina de lavar. O segundo emprego foi como motorista de uma família rica que tinha um filho "excepcional", Douglas. Já era um rapaz. Não falava nem andava. Meu trabalho era embrulhar Douglas num saco de dormir para protegê-lo do frio, carregá-lo nos braços dentro de um elevador minúsculo e levá-lo de carro até a um hospital que ficava a uns quarenta minutos de Paris. A rua em que a família morava se chamava Yvette. O metrô: Jasmin. Nem carteira de motorista internacional eu tinha. Só a brasileira - que não valia na França. Um dia, a polícia se aproximou do carro. Gelei até a alma. Mas, quando viram o menino, os guardas se retiraram, sem nos importunar. Intimamente, eu vibrava: "Deus é brasileiro!". Se um guarda cismasse de me pedir a carteira de motorista, era problema na certa.

Eu me lembro de ter visto um bêbado anunciando, sozinho, para os frequentadores de um café, perto do Boulevard Saint Michel : "O grande ator americano Steve McQueen morreu!". O bêbado tinha acabado de ler a notícia num jornal. Eram sete da manhã. Eu estava lá para tomar um café apressado, porque pouco depois teria de me apresentar à "Prefeitura de Polícia" para tentar renovar meu visto. Fiquei lembrando das velhas sessões no Cinema da Torre,no Recife: a platéia batia palmas a cada vez que Steve McQueen escapava de soldados nazistas.O filme se chamava "Fugindo do Inferno". Agora, um bêbado me dava a notícia de que o meu ídolo das matinês estava morto.
O café estava mergulhado em fumaça. Lá fora, fazia um frio de rachar. Era novembro, se não engano.

Eu sabia o que estava fazendo em Paris: sem imaginar, tinha viajado doze horas de avião para, meses depois, ouvir um bêbado me dizer que Steven McQueen tinha morrido. C´est la vie.

O que é que o livro "Afinal,o que Viemos Fazer em Paris? " tem a ver com essas cenas todas ?

Tudo e nada. Livro bom é o que acende um rastilho de lembranças. É o que a nova investida memorialística de Villas acaba de fazer.

Bola na rede.

Posted by geneton at 12:30 PM

setembro 03, 2007

NOTÍCIA DO DIA :"O FILHO DE ETERNO" É UM LIVRAÇO, UMA OBRA-PRIMA, UM TEXTO ARREBATADOR

O escritor Cristovao Tezza, 55 anos, romancista, ex-relojoeiro (!), catarinense radicado em Curitiba, professor da Universidade Federal do Paraná, acaba de cometer uma façanha e criar um problema para a literatura brasileira.

A façanha : recém-lançado, "O Filho Eterno" já desponta como favoritíssimo ao título de melhor do ano. O problema : "O Filho Eterno" foi publicado pela Editora Record na categoria de "romance brasileiro", mas é um texto escancaradamente autobiográfico.

Tezza descreve, sem jamais cair no melodrama ou na pieguice, um acontecimento que o fez se sentir como se fosse um boi cabeceando inutilmente contra as paredes do corredor de um matadouro: o dia em que recebeu a notícia de que o primeiro filho, tão esperado, tinha Síndrome de Down.

Não é exagero carimbar "O Filho Eterno" desde já como o lançamento do ano. O site de literatura Todoprosa, mantido por Sérgio Rodrigues, também concedeu este título antecipado do livro. Ainda é agosto. Mas, pelo menos na categoria de "romance brasileiro", a disputa pelo campeonato de melhor do ano parece resolvida. Que se apresentem os outros candidatos.

Pergunte-se a um leitor médio, aquele que desembarca na livraria simplesmente em busca de uma bela descoberta : o que é que define uma boa leitura ? Nove entre dez dirão que boa leitura é aquela capaz de prender a atenção. Que outra coisa pode querer um autor ? E excelente leitura é aquela que arrebata. É o caso de "O Filho Eterno". Tezza acaba de criar o Expresso 222 da literatura. As 222 páginas de O Filho Eterno voam, arrebatadoras, como se fossem vinte.

Referir-se a si próprio na terceira pessoa virou sinônimo de vaidade desde que Pelé - e outras celebridades menos votadas - cairam nessa tentação. O autor de "O Filho Eterno" se enquadra na categoria dos que falam de si próprios na terceira pessoa por outro motivo: o excesso de pudor na hora de subir à ribalta para se expor aos olhos do público. É compreensível. O fato de a narração ser feita na terceira pessoa é, provavelmente, o único detalhe que impede "O Filho Eterno" de se enquadrar na categoria de autobiografia.

Resta o "problema" literário criado por "O Filho Eterno" : a partir de que momento uma narrativa amparada em fatos deixa de ser uma autobiografia para se transformar em "romance" ? É tudo uma questão de primeira ou terceira pessoa ? Estudantes de Letras, se é que existem, mãos á obra!

"O Filho Eterno" poderia também ser qualificada como uma peça do chamado "novo jornalismo", uma reportagem irretocável, merecedora de todo aplauso numa época em que texto jornalístico, golpeado pelos "idiotas da objetividade", cabeceia, também ele, como se fosse um boi no corredor de um matadouro. O livro não deixa de ser uma bela reportagem autobiográfica de um pai que toma para si uma tarefa dificílima : a de narrar uma dor inenarrável ou, para usar uma palavra que é cara ao autor, "irredimível".

A certa altura do texto, Tezza confessa ser um daqueles autores que, em nome da devoção incondicional à literatura, são capazes de engolir durante anos a fio recusas de editoras e eventuais fracassos de venda. Ainda assim, vão adiante, porque crêem que o que conta é o embate original com as folhas de papel em branco (ou com a tela alva do computador) : neste cenário íntimo, pessoal e intransferível, os Cristovao Tezza entregam-se à acidentada tarefa de tentar traduzir a vida em palavras, "dar nome às coisas". Todo o resto é acidente, vaidade, desvio, perda de tempo, mera consequência.

"Os escritores brasileiros somos pequenos ladrões de sardinha, Brás Cubas inúteis", diz, a certa altura do livro. Imagina-se, lá pelas tantas, autor de livros que ninguém lerá - e pai de um filho que não poderia amar. Mas persiste, porque, para ele, escrever é uma escolha radical, uma predestinação que não depende de coisas tão pequenas quanto os humores das editoras ou as leis de mercado.

Quem termina a travessia arrebatadora das 222 páginas de "O Filho Eterno" haverá de sentir um alívio e uma alegria. O leitor concluirá que, feitas as contas, o poeta Drummond tinha toda razão ao dizer que nossa existência é "um sistema de erros", "um vácuo atormentado", "um teatro de injustiças e ferocidades" , mas, no caso de Cristovao Tezza, tanta dor, tanto tormento, tanto espanto, tanto vácuo, tanto remorso, tanta incredulidade, tudo, enfim, foi recompensado com uma bela contrapartida, o melhor prêmio que um escritor poderia esperar : concebeu um livro que todos deveriam ler sobre um personagem que todos haverão de amar. Chama-se Felipe.

É este o nome do filho eterno.

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Trechos de "O Filho Eterno" , em que o pai recebe a notícia de que o filho tinha sido diagnosticado como portador da Síndrome de Down:

"Em um átimo de segundo, em meio à maior vertigem de sua existência, a rigor a única que ele não teve tempo ( e durante a vida inteira não terá) de domesticar numa representação literária, apreendeu a intensidade da expressão "para sempre" - a idéia de que algumas coisas são de fato irremediáveis, o sentimento absoluto, mas óbvio, de que o tempo não tem retorno, algo que ele sempre se recusava a aceitar. Tudo pode ser recomeçado, mas agora não: tudo pode ser refeito, mas isso não ; tudo pode voltar ao nada e se refazer, mas agora tudo é de uma solidez granítica e intransponível : o último limite, o da inocência, estava ultrapassado; a infância teimosamente retardada terminava aqui, sentindo a falta de sangue na alma, recuando aos empurrões, sem mais ouvir aquela lengalenga imbecil dos médicos".

"Ele recusava-se a ir adiante na linha do tempo; lutava por permanecer no segundo anterior à revelação, como um boi cabeceando no espaço estreito da fila do matadouro; recusava-se mesmo a olhar para a cama, onde todos se concentravam num silêncio bruto, o pasmo de uma maldição inesperada. Isso é pior do que qualquer coisa, ele concluiu- nem a morte teria esse poder de me destruir. A morte são sete dias de luto, e a vida continua. Agora, não. Isso não terá fim. Recuou dois, três passos, até esbarrar no sofá vermelho e olhar para a janela, para o outro lado, para cima, negando-se, bovino, a ver e a ouvir".

"Pai e mãe são tomados pelo silêncio. É preciso esperar para que a pedra pouse vagarosamente no fundo do lago, enterrando-se mais e mais na areia úmida, no limo e no limbo, é preciso sentir a consistência daquele peso irremovível para todo o sempre, preso na alma, antes de dizer alguma coisa. Monossílabos cabeceantes, teimosos - os olhos não se se tocam".

"Se eu escrever um livro sobre ele, ou para ele, o pai pensa, ele jamais conseguirá lê-lo"

"Eu não posso ser destruído pela literatura; eu também não posso ser destruído pelo meu filho - eu tenho um limite : fazer, bem-feito, o que posso e sei fazer, na minha medida. Sem pensar, pega a criança no colo, que se larga saborosamente sobre o pai, abraçando-lhe o pescoço, e assim sobem as escadas até a porta de casa"

"Durante todos esses anos sentiu o peso ridículo de ser escritor, alguém que publica livros aos quais não há resposta, livros que ninguém lê ; e resistiu bravamente, e pelo menos nisso teve sucesso, ao consolo confortável, à coceira na língua, quase sempre calhorda, de despejar no mundo as culpas da própria escolha"

(*) resenha publicada na edição de setembro da revista Continente Multicultural ( http://www.continentemulticultural.com.br/)

Posted by geneton at 10:40 AM

agosto 18, 2007

DA SÉRIE ENTREVISTAS IMPROVÁVEIS: A ESCRITORA ROSA DESCOBRE NUMA BALEIA O GRANDE SEGREDO DAS PALAVRAS

O nome : Rosa. É assim que se chama a mulher que telefona para a redação tarde da noite à procura de um repórter. Quer dar uma notícia sobre "a aparição de uma baleia". O repórter suspira, desalentado: a mulher - que fala com sotaque espanhol - deve ser uma dessas loucas que escrevem cartas para as redações ou ligam de madrugada para dar notícias absurdas sobre profecias, iluminações, códigos, conspirações, segredos.

O sotaque só serve para agravar a suspeita: o espanhol é a língua preferida por cartomantes que inventam nomes e carregam no sotaque para impressionar os desesperados que as procuram.

Rosa insiste : a notícia sobre a aparição da baleia merece ser ouvida porque é algo "sumamente importante". A entrevista fica marcada para o dia seguinte, num lugar improvável : um banco de praça. Rosa chega na hora marcada: meio-dia ( Noto que os cabelos pretos estão penteados como se, numa subversão absurda do calendário, ela estivesse posando, em 2007, para uma foto que já nascia amarelada, num álbum dos anos setenta. Aquele corte de cabelo um dia foi chamado de Pigmalião. Virou febre, nos anos setenta, não em homenagem ao escultor da mitologia,mas porque era usado por uma atriz numa novelinha medíocre das sete da noite. Ah, o implacável poder simplificador da televisão...)

Rosa_Montero.jpg


Rosa se move com gestos rápidos. Informa a idade: 56 anos. Traz, nas mãos, um livro em que,na capa, a imagem de uma menina de vestido rosa se sobrepõe a uma velha foto de família.Os outros nove personagens retratados na capa estão em preto-e-branco. Só a menina ganhou a graça da cor.

Noto um detalhe banal: o título do livro que ela traz para a entrevista tem doze letras. Por um segundo, cedo às tentações da superstição: são doze os apóstolos, são doze os signos, são doze os meses do ano, são doze as horas que dividem as duas metades do dia. As doze letras do título terão algum significado ?
Não! - repreendo-me, em silêncio. Toda superstição é idiota.

Não há tempo a perder. Pergunto como foi, afinal,a aparição da baleia. Por que diabos a aparição de um animal terá sido tão aterradora, tão reveladora e tão importante? Rosa move a cabeça em direção ao gravador que seguro nas mãos. Não quer que o alvoroço do barulho de carros na rua e de crianças na praça encubra o que ela vai falar:

- "De repente,sem nenhum aviso, aconteceu. Um estampido aterrador agitou o mar ao nosso lado : era um jato d´água, o jato de uma baleia, poderoso, enorme, espumante, uma voragem que nos encharcou e fez o Pacífico ferver em torno de nós. E o ruído, aquele som incrível, aquele bramido primordial, uma respiração oceânica, o alento do mundo. Essa sensação foi a primeira : ensurdecedora, ofuscante; e imediatamente depois emergiu a baleia.
Primeiro, emergiu o focinho, que logo depois tornou a se meter debaixo d´água; e depois veio deslizando todo o resto, numa onda imensa, num colossal arco de carne sobre a superfície, carne e mais carne, brilhante e escura, emborrachada e ao mesmo tempo pétrea, e num determinado momento passou o olho, um olho redondo e inteligente que se fixou em nós, um olhar intenso vindo do abismo. Quando já estávamos sem fôlego diante da enormidade do animal, ergueu a toda altura aquela cauda gigantesca e afundou-a com elegante lentidão na vertical; e, em todo esse deslocamento do seu corpo tremendo, não fez qualquer marola, não provocou a menor salpicadura nem emitiu nenhum ruído além do suave cicio de sua carne monumental acariciando a água. Quando desapareceu, imediatamente depois de ter mergulhado, foi como se nunca houvesse estado ali".

Rosa fala sem tomar fôlego. Diz que a aparição da baleia pode significar para todos o que significou para ela : a descoberta do Cálice Sagrado, a visão inesquecível que lhe abriu as portas para desvendar o Grande Segredo das Palavras, esta obsessão que há séculos mobiliza tanta gente:

- "Com a escrita é a mesma coisa: muitas vezes, você intui que o segredo do universo está do outro lado da ponta dos seus dedos, uma catarata de palavras perfeitas, a obra essencial que dá sentido a tudo. Você está no próprio limiar da criação, e em sua cabeça eclodem tramas admiráveis, romances imensos, baleias grandiosas que só revelam o relâmpago do seu dorso molhado, ou melhor, fragmentos desse dorso, pedaços dessa baleia, migalhas de beleza que permitem intuir a beleza insuportável do animal inteiro ;mas em seguida, antes de você ter tempo de fazer alguma coisa, antes de poder calcular seu volume e sua forma, antes de entender o sentido do seu olhar perfurante, a pridigiosa besta submerge e o mundo fica quieto e surdo e tão vazio"

Pergunto: o que fazer com as palavras, depois da revelação de que elas, no fim, não conseguirão desvendar a "beleza insuportável" do grande animal ? Que utilidade elas terão ?

-"Disparamos palavras contra a morte, como arqueiros de cima das ameias de um castelo em ruínas. Mas o tempo é um dragão de pele impenetrável que devora tudo. Ninguém vai se lembrar da maioria de nós dentro de alguns séculos: para todos os efeitos, será como se não houvéssemos existido. O esquecimento absoluto daqueles que nos precederam é um manto pesado, é a derrota com a qual nascemos e para a qual nos dirigimos. É o nosso pecado original".

Se a batalha contra esse "dragão de pele impenetável" um dia estará perdida, por que, então, insistir na tarefa de erguer barricadas com as palavras ?

- "Isto é a escrita :o esforço de transcender a individualidade e a miséria humana, a ânsia de nos unir aos outros num todo, o desejo de sobrepor-nos à escuridão, à dor, ao caos, à morte"

Você diz que escolheu escrever romances para participar dessa batalha. Por que essa escolha ?

"Escrever romances implica atrever-se a completar o monumental percurso que tira você de si mesmo e permite se ver no convento, no mundo, no todo. E, depois de fazer esse esforço supremo de entendimento, depois de quase tocar por um instante na visão que completa e fulmina, regressamos mancando para nossa cela, para o encerro de nossa estreita individualidade, e tantamos nos resignar a morrer".

A fita termina. Rosa soletra o sobrenome : Montero, sem "i". Rosa Montero. Deixa de presente o livro com o título de doze letras ("A Louca da Casa").

Despede-se com um leve meneio de cabeça. Começa a caminhar em direção ao portão de ferro que, à noite, protegerá a praça da invasão dos mendigos. Dá meia volta, pede para o repórter checar se o gravador funcionou. Fica aliviada quando vê que as pilhas funcionaram, sim. "Gravou tudo", digo. "Por supuesto", ela responde.

E vai embora.

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PS: Tanto os encontros com a escritora espanhola Rosa Montero quanto as perguntas da entrevista são imaginários. Mas as respostas da escritora sobre as baleias e as palavras são verdadeiras : foram extraídas do livro "A Louca da Casa", publicado no Brasil pela Ediouro. Recomendadíssimo.

Posted by geneton at 01:40 PM

julho 14, 2007

DA SÉRIE ENTREVISTAS IMPROVÁVEIS : GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ DESCOBRE O DISCRETO MISTÉRIO DAS MATINÊS NO CINEMA

O cansaço deixou marcas inconfundíveis no rosto de Gabriel García Márquez: os olhos estão vermelhos, os cabelos desgrenhados clamam por um pente, a camisa branca exibe marcas de suor nas axilas. São 11 e 45 da noite.

Se pudesse escolher, ele estaria dormindo o quarto sono agora. Mas o Prêmio Nobel é homem de palavra. Cumpre a promessa feita horas antes : depois de passar a tarde inteira falando a estudantes de cinema sobre os segredos da criação literária - como se os talentos da imaginação pudessem ser transmitidos numa sala de aula - ele chega sozinho à recepção deste hotel de terceira categoria em Havana. Desaba o peso do corpo sobre uma poltrona vagabunda. Acende um charuto. Aceita com um meneio de cabeça a oferta do garçom : um copo de água mineral.


GGM acha que qualquer tempo concedido a repórteres é puro desperdício. Mas aceitara dar uma entrevista desde que o assunto não fosse literatura. Por imposição do entrevistado, o único tema permitido em nossa conversa seria o mais improvável e aparentemente mais desimportante de todos os assuntos por ventura merecedores de menção num diálogo com um prêmio Nobel de Literatura : o fascínio que as matinês de cinema exercem sobre ele até hoje.
Como todo grande escritor conquista o direito de exercitar pequenas excentricidades sem precisar dar explicações aos intrusos, GGM também determinou com antecedência o número de perguntas: somente seis. Nada além. Número cabalístico ? Jamais se saberá. Não pude perguntar. Não era este o assunto da entrevista.


Eis as descobertas de Gabriel García Márquez sobre as matinês:


1.Por que o senhor considera as matinês tão fascinantes ?

"À hora da matinê - uma palavra francesa metida a empurrões no castelhano - ,no interior dos cinemas, respira-se uma atmosfera lúgubre. Parece que os passos ressoam menos no piso atapetado, mas a verdade é que os que assistem à sessão das três procuram, inconscientemente, passar despercebidos. "É o sentimento de culpa da matinê", já disse alguém, definindo dessa maneira a atmosfera de mistério e clandestinidade que têm os cinemas às três da tarde"

2.O que é que diferencia, então, o frequentador de matinês dos das outras sessões ?

"Um cinema à hora da matinê se parece a um museu. Ambos têm um ar gelado, uma quietude funerária. E, entretanto, é a hora preferida dos verdadeiros cinéfilos. O verdadeiro cinéfilo vai ao cinema sempre sozinho. Senta-se invariavelmente nas laterais da sala. Não mastiga chiclete nem come qualquer tipo de guloseima. Não lê jornais nem revistas, pois permanece nas nuvens, concentrando a tela com ar de concentrada estupidez até começar a projeção"


3.Pelo que o senhor conseguiu observar no escuro, como é que este cinéfilo se comporta depois de iniciado o filme ?

"Desaperta o cinto, desamarra os cordões dos sapatos e o nó da gravata e trata de apoiar os joelhos ou pôr os pés no espaldar da poltrona dianteira. Cinco minutos depois de começada a a projeção, pode estourar uma bomba no cinema que o verdadeiro cinéfilo não se dará conta"


4.Mas não é possível que as matinês sejam povoadas somente por cinéfilos fanáticos. Quem é,então, que faz companhia a eles ?

"Vai também à matinê aquele a quem o cinema não tem a menor importância. É muito provável que a clientela das matinês diminuiria sensivelmente se os colégios secundários fossem fechados. Os estudantes que comumente vão ao cinema em grupos não têm outro interesse além de se refugiar em lugar seguro enquanto as aulas passam".


5.O fato de estudantes se refugiarem nas matinês para escapar das aulas explica o ar de estranha clandestinidade dessas sessões de cinema ?

"Como todos nós o fizemos alguma vez, é também muito provável que essa seja a origem do "sentimento de culpa" e da sensação de clandestinidade de que nós, adultos, padecemos na matinê. Devido a esse pequeno público, um cinema às três da tarde é o lugar mais seguro para um encontro escondido, para os amores secretos - por qualquer motivo - e para fugir a uma obrigação inadiável".


6.Qual foi a melhor definição que o senhor já ouviu sobre as matinês ?

" ``Quando tiver um problema sem solução, vá à matinê´´, dizia, há algum tempo, o gerente de uma importante empresa ao chefe de relações públicas : na quarta-feira da semana seguinte, eles se encontraram à saída de uma matinê".


Meia noite e meia. Gabriel García Márquez disfarça o bocejo, mas, dois minutos depois, emite um suspiro de cansaço e impaciência, como a dizer que chega, basta, já tinha dito o que queria sobre o mistério das matinês, um assunto mais importante do que todas as inúteis teorias literárias. Despede-se com um aperto de mão pouco convincente. Desaparece no penumbra de um corredor de hotel mal iluminado nesta noite de julho em Havana.


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(*) PS: Tanto os encontros com Gabriel García Márquez em Havana quanto as perguntas da entrevista são imaginários: um exercício de realismo mágico amador. Mas as divagações de GGM sobre as matinês são verdadeiras : foram extraídas do texto "Por que você vai à matinê ?", publicado no livro "Textos Andinos" (Editora Record)

Posted by geneton at 10:30 AM

julho 09, 2007

DOIS REPÓRTERES BRASILEIROS CRUZAM O CAMINHO DO ÍDOLO DOS JORNALISTAS, O DR. GAY TALESE

Gay Talese é ídolo de jornalistas. Co-fundou um estilo de reportagem : o chamado "novo jornalismo". É a arte de misturar técnicas jornalísticas e de ficção num só texto. Nove entre dez referências a Gay Talese dizem que o melhor texto que ele escreveu é a famosa reportagem sobre Frank Sinatra. Os "velhos olhos azuis", como se sabe, tinham horror a jornalista. Sinatra não recebeu o repórter, portanto. Mas o repórter achou que poderia escrever a reportagem sem ouvir o personagem principal. Os dois estavam certos: Sinatra, no horror aos jornalistas ; Talese, na certeza de que poderia produzir a peça.

Questão de gosto: o melhor texto de Gay Talese é o perfil que ele escreveu sobre um redator de obituários. É uma lição a jornalistas entediados que acham que assunto aparentemente desinteressante "não vale matéria". Ora,ora. A descrição da rotina de um obscuro redator de obituários rendeu uma das melhores páginas já produzidas por um jornalista ( a reportagem é encontrável na coletânea "Fama & Anonimato", publicada aqui na Lulalândia). Quem já passou quinze minutos numa redação sabe identificar, pelo cheiro de cloreto de potássio, esta triste figura: o jornalista, pretensamente sabidinho, que se investe de poderes ( dados por quem? ) para decidir o que "rende matéria" e o que "não rende". Ou seja: o que é que o público deve ou não deve ler. O bicho vive com uma injeção imaginária de cloreto de potássio na mão, igual aos carrascos que executam prisioneiros condenados à morte no Texas. A pilha de reportagens mortas no nascedouro por estas figuras daria para encher dez vezes o cemitério Joe Byrd (onde os executados do Texas são enterrados, em covas abertas por outros presos).

Dois repórteres brasileiros acabam de escrever sobre Gay Talese. Um é Jorge Pontual, na (boa!) revista de reportagens "Brasileiros", recém-lançada, já nas bancas e nas melhores casas do ramo. Pontual entrevistou Talese, em Nova York. Disse a ele que gostaria de saber o que é "ser Gay Talese". O "ídolo dos jornalistas" fez uma proposta ao repórter: "Aposto que sua história é mais interessante do que a minha.Uma boa história precisa de uma cena. Quer cena melhor do que esta? Você me encontra porque quer aprender a ser como eu e descobre que a verdadeira história é você mesmo. Sensacional! Escreva isso. A verdade é mais forte que a imaginação" ( o resto da história, na revista, por R$ 7,90). Ah : Talese é fã de Simone, a cantora.

O outro repórter que escreveu sobre o ídolo dos jornalistas é Paulo Polzonoff, num livro que acaba de sair do forno :"A Face Oculta de Nova York"(Editora Globo). Polzonoff anota, numa livraria em Nova York, a presença de uns cinquenta gatos pingados no lançamento de um livro autobiográfico de Talese: "Não era algo fácil de admitir, mas eu fazia parte de um clubinho muito do estranho. Vários dos meus amigos jamais ouviram falar em Gay Talese. Minha mãe não tem a menor idéia de quem seja ele. E, convenhamos, é bem possível que você, leitor, tampouco imagine quem ele seja. De repente, senti-me cokmo um menino tolinho que tem adoração pelo maior colecionador de selos do mundo - quem quer que seja".

O último a ler "Brasileiros" e "A Face Oculta de Nova York" é mulher do padre.

Posted by geneton at 02:23 AM

janeiro 20, 2006

O DESTINO DE TODOS NÓS :"UM MISTERIOSO CRUZAMENTO DE FORTUNA E INFELICIDADE". PALAVRA DE ERNESTO SABATO, EM DIÁLOGO COM JORGE LUIS BORGES. DISSE TUDO. NADA A COMENTAR

ERNESTO SABATO: "O Xul Solar fez os horóscopos dos meus dois filhos e durante muitíssimos anos eu resisti em conhecê-los. Sempre tive medo do futuro, porque no futuro, entre outras coisas, está a morte"

JORGE LUIS BORGES: "Eu penso que, assim como a gente não pode se entristecer por não ter visto a Guerra de Tróia, não ver mais este mundo tampouco pode entristecer"

ERNESTO SABATO: (...) "Eu nunca quis vê-los (os horóscopos). Sabe que foram se cumprindo?"

JORGE LUIS BORGES( com assombro) : "E como são ? O que pressagiavam?"

ERNESTO SABATO (com uma voz íntima, quase para dentro) : "Um misterioso cruzamento de fortuna e infelicidade.Isso, Borges, isso".

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(trecho de "BORGES/ SABATO:DIÁLOGOS" ( Editora Globo, 2005)

Posted by geneton at 12:11 AM

setembro 08, 2005

DOSSIÊ BRASÍLIA - OS SEGREDOS DOS PRESIDENTES

O que se disse do livro:

DOSSIÊ BRASÍLIA
Lições de reportagem em forma de livro

Deonísio da Silva

"Você não passa de uma coisa investigativa", diz Joel Silveira a Geneton Moraes Neto nas "orelhas" de Dossiê Brasília: os segredos dos presidentes. Autoridade não falta ao jornalista Joel Silveira, definido por Assis Chateaubriand como "a víbora". Silveira conheceu pessoalmente dez presidentes! Ninguém mais indicado, pois, para apresentar o trabalho investigativo que Geneton fez junto aos presidentes José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, cobrindo mais de uma década de nossa vida política.

Geneton faz neste livro o que melhor sabe fazer na vida: reportagem. Diz mais Joel Silveira em sua sabedoria: "Se eu tivesse autoridade suficiente, proibiria Geneton – um grande repórter – de ficar sentado na redação. A proibição seria extensiva a todos os repórteres".

Geneton faz neste livro o que melhor sabe fazer na vida: reportagem. Diz mais Joel Silveira em sua sabedoria: "Se eu tivesse autoridade suficiente, proibiria Geneton – um grande repórter – de ficar sentado na redação. A proibição seria extensiva a todos os repórteres".

O livro traz o texto integral das entrevistas que gravou para o Fantástico, da Rede Globo, com quatro ex-presidentes da República. O repórter tira leite de pedra. Revela os bastidores do exercício do poder imperial de um presidente no Brasil. Um dia nossa Constituição haverá de rever este papel: não temos presidentes; temos imperadores republicanos. Numa comparação com Dom Pedro II, eles saem ganhando de longe. Se Dom Pedro II tivesse 20 mil cargos para nomear apaniguados pelo Brasil afora, a monarquia não teria soçobrado. Ou demoraria um pouco mais.

A República brasileira viveu crises bem mais agudas do que a de 1889 sem que os presidentes do período tivessem que ser depostos ou banidos. O exemplo mais claro corre nos dias de hoje: forças ingentes tudo fazem para evitar que o presidente Lula seja deposto, mesmo à luz de evidências de corrupção que, estivesse o PT na oposição, derrubariam até o Santo Padre!

Devoto da santa

As bombas espocam por todas as páginas. "Itamar Franco não é um homem de caráter", diz o presidente Fernando Collor de Mello de seu vice, antes de citar o ditado: "Vice? Não tê-lo, não sê-lo e, de preferência, não vê-lo". O advérbio de negação foi dispensado de atrair os pronomes para (d)efeito de estilo. "Itamar é uma negativa de que há vida inteligente na Terra", acrescenta Collor.

Num dos diálogos com Margareth Thatcher, depois de propor um deságio de 30% na dívida externa, ouve da Dama de Ferro que não entende a proposta. Collor pensou: "Meu inglês não deve ser tão eficiente". A senhora Thatcher diz: "Deixe-me ver se entendi corretamente. O senhor quer dizer que, por exemplo, o senhor deve 100, mas, em vez de pagar 100, quer pagar 70. É isso?". Respondi: "É exatamente isso". Ela rejeita a proposta e diz: "Se o senhor deve 100, o senhor tem de pagar 100! Podemos discutir como o senhor vai pagar, mas dever 100 e querer pagar 70, negativo! Comigo o senhor não conta!" (pág. 92-93). É um dos melhores momentos do livro.

Quando confiscou a poupança dos brasileiros, Fernando Collor de Mello, que pagará a vida inteira pelo gesto nefando, inspirado por sua ministra Zélia Cardoso de Melo, não contou com uma oposição tão firme. Ninguém no Brasil teve poder e audácia semelhante à da senhora Thatcher para evitar o confisco. E os jornalistas das editoriais de Economia, principalmente na televisão, em sua maioria se limitaram a explicar o funcionamento das medidas, como se fossem auxiliares dos ministérios do Planejamento e da Fazenda.

O presidente José Sarney, da Academia Brasileira de Letras, revela que já escreveu 700 páginas de suas memórias. E que o título do primeiro volume será Testamento para Roseana. Como se sabe, os políticos brasileiros parecem patriarcas de casas dinásticas. Pai presidente, filha governadora, filho deputado etc. E declara sem meias palavras um desapreço pelas biografias de Getúlio Vargas: "As biografias de Getúlio Vargas não são boas" (pág. 59).

Já o presidente Itamar Franco, depois de elogiar o senador Fernando Henrique Cardoso, desce a lenha no presidente Fernando Henrique Cardoso, pondo em destaque que foi o primeiro presidente a fazer FHC ministro. E dele diz: "Fernando mudou muito dos tempos de Senado e de presidente da República", "pensa que inventou a democracia" (pág. 163). E revela ser devoto de Santa Teresinha, a quem credita o "desvirtuamento", pois deixou uma carreira técnica (ele é engenheiro de formação) e foi para a política.

Desdobramentos indispensáveis

De FHC, mostrando decerto sem querer como as coisas mudam, Geneton ouve que ao deixar o governo, depois de passar a faixa a Lula, guardou a frase do novo inquilino do Palácio do Planalto: "Você deixa aqui um amigo" (pág. 204). Imaginemos que não fossem amigos! Ou chumbo trocado não dói?

De todo modo, José Sarney e Fernando Henrique Cardoso revelam ter planos estratégicos para o Brasil. Fernando Collor de Mello e Itamar Franco expõem uma visão esquisita do Estado, como se as grandes questões pudessem ser resolvidas sem uma visão estratégica, à base de acordos, maiorias etc. O que, aliás, Lula tenta fazer agora, com os resultados que todos conhecemos: perto da corrupção de seu governo, o mar de lama de Getúlio Vargas era uma pocinha ali perto do Palácio do Catete, decorrente de um aguaceiro serôdio.

Livro imperdível. Não é oportunista, é oportuno. É bom ensejar aos presidentes entrevistados, todos ainda vivos, que agora comentem os desdobramentos do que cada um deles acha do Brasil e dos outros que exerceram o mesmo poder. Com a palavra, pois, os repórteres, os editores. É livro que merece desdobramentos indispensáveis na imprensa. Nunca os comentários, que também compõem a vida de um livro, foram tão indispensáveis.

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FOLHA DE S.PAULO (03 de setembro de 2005)

ILUSTRADA:

Jornalismo
DOSSIÊ BRASÍLIA - OS SEGREDOS DOS PRESIDENTES
GENETON MORAES NETO
SOBRE O AUTOR: Pernambucano, jornalista desde 1972, escritor de oito livros-reportagens e de entrevistas, é editor-chefe do programa dominical "Fantástico" (TV Globo).
TEMA: Reunião de entrevistas dadas ao autor por quatro ex-presidentes: José Sarney, Fernando Collor de Mello, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, cujos principais trechos já foram veiculados pelo "Fantástico".
POR QUE LER: Revelações dos bastidores do Planalto, com algumas reflexões sobre aspectos pouco lembrados na política, como a solidão do poder.
EDITORA: Globo. QUANTO: R$ 29 (272 págs.)

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Posted by geneton at 08:22 PM

maio 16, 2004

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

"SOU APENAS UM HOMEM .
UM HOMEM PEQUENINO À BEIRA DE UM RIO.
VEJO AS ÁGUAS QUE PASSAM E NÃO AS COMPREENDO.
(...)PASSO A MÃO NA CABEÇA QUE VAI EMBRAQUECER.
O ROSTO DENUNCIA CERTA EXPERIÊNCIA.
A MÃO ESCREVEU TANTO - E NÃO SABE CONTAR !
A BOCA TAMBÉM NÃO SABE.
O OLHOS SABEM - E CALAM-SE.
AI,AMÉRICA,SÓ SUSPIRANDO.
SUSPIRO BRANDO,QUE PELOS ARES VAI SE EXALANDO.

(...) SOU APENAS O SORRISO
NA FACE DE UM HOMEM CALADO"

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("AMÉRICA" - TRECHO)

Posted by geneton at 11:48 PM

maio 08, 2004

PIER PAOLO PASOLINI: "DETESTO O SILÊNCIO NOBRE"

"MINHA INDEPENDÊNCIA,QUE É MINHA FORÇA,IMPLICA A SOLIDÃO,QUE É MINHA FRAQUEZA.ODEIO - COMO JÁ DISSE VÁRIAS VEZES - A INDEPENDÊNCIA POLÍTICA.PORTANTO,MINHA INDEPENDÊNCIA É - DIGAMOS - HUMANA. UM VÍCIO. NÃO PODERIA DISPENSÁ-LA. SOU SEU ESCRAVO. NÃO PODERIA NEM MESMO ME VANGLORIAR DELA,TRANSFORMÁ-LA EM MOTIVO DE UM PEQUENO ORGULHO.POIS EU AMO A SOLIDÃO. MAS ELA É PERIGOSA"


"DETESTO O SILÊNCIO NOBRE. DETESTO TAMÉM UMA PROSA RUIM E APRESSADA.MAS É MELHOR UMA PROSA RUIM E APRESSADA DO QUE O SILÊNCIO"

("CAOS / CRÔNICAS POLÍTICAS")

Posted by geneton at 11:44 AM

abril 09, 2004

OSCAR WILDE : "O ESTADO DEVE FAZER O QUE É ÚTIL.O INDIVÍDUO DEVE FAZER O QUE É BELO"

"É COM O FUTURO QUE TEMOS DE TRATAR.POIS O PASSADO É O QUE O HOMEM NÃO DEVERIA TER SIDO.O PRESENTE É O QUE O HOMEM NÃO DEVE SER.O FUTURO É O QUE OS ARTISTAS SÃO"

"UM MAPA MUNDI QUE NÃO A UTOPIA NÃO É DIGNO DE CONSULTA,POIS DEIXA DE FORA AS TERRAS EM QUE A HUMANIDADE ESTARÁ SEMPRE APORTANDO.E NELAS APORTANDO,SOBE À GÁVEA E,SE DIVISA TERRAS MELHORES,TORNA A IÇAR VELAS.O PROGRESSO É A CONCRETIZAÇÃO DE UTOPIAS".

"DEVERÍAMOS SER SOLIDÁRIOS COM A VIDA EM SUA TOTALIDADE,NÃO APENAS NA DOR E NA DOENÇA,MAS TAMBÉM NA ALEGRIA,NA BELEZA,NA ENERGIA,NA SAÚDE E NA LIBERDADE. A SOLIDARIEDADE MAIS AMPLA É,NATURALMENTE,A MAIS DIFÍCIL : EXIGE MAIOR ALTRUÍSMO. QUALQUER UM PODE SE SENTIR SOLIDÁRIO NA DOR SOFRIDA POR UM AMIGO,MAS É PRECISO UMA NATUREZA MUITO SUPERIOR - A NATUREZA DE UM VERDADEIRO INDIVIDUALISTA - PARA SE SENTIR SOLIDÁRIO NO ÊXITO ALCANÇADO POR UM AMIGO"


"A ARTE NUNCA DEVERIA ASPIRAR À POPULARIDADE,MAS O PÚBLICO DEVE ASPIRAR A SE TORNAR ARTÍSTICO".

"O ESTADO DEV FAZER O QUE É ÚTIL.O INDIVÍDUO DEVE FAZER O QUE É BELO"


(OSCAR WILDE,"A ALMA DO HOMEM SOB O SOCIALISMO")

Posted by geneton at 12:47 PM

março 31, 2004

PAULO FRANCIS : "...QUANDO, ENFIM, VOLTAMOS, COMPULSORIAMENTE, À TERRA DA QUAL NUNCA DEVERÍAMOS TER SAÍDO"

"A MORTE É UMA PIADA.A VIDA É UMA TRAGÉDIA. MAS,DENTRO DE NÓS,MESMO NO MAIOR DESESPERO,HÁ UMA FORÇA QUE CLAMA POR COISAS MELHORES. OS ARTISTAS ESTÃO SEMPRE AÍ NOS LEMBRANDO DISSO.EXISTE UM PARAÍSO,POIS BEETHOVEN OU GAUGUIN JÁ NOS DERAM MOSTRAS CONVINCENTES.É INATINGÍVEL PERMANENTEMENTE,MAS DEVEMOS SER GRATOS PELAS SOBRAS QUE NOS COUBEREM"

"SOU UM CORRESPONDENTE ESTRANGEIRO,EM SÍNTESE,ESTOU SEMPRE NO ESTRANGEIRO E ME CORRESPONDO,SEM ESPERAR RESPOSTA.NÃO HÁ,TALVEZ RESPOSTA.SÓ HÁ PERGUNTAS, ATÉ QUE A ENERGIA E A LUZ SE APAGUEM,QUANDO,ENFIM,VOLTAMOS,COMPULSORIAMENTE,À TERRA DA QUAL NUNCA DEVERÍAMOS TER SAÍDO"

PAULO FRANCIS,EM "UMA COLETÂNEA DE SEUS MELHORES TEXTOS JÁ PUBLICADOS"

Posted by geneton at 12:25 PM

março 25, 2004

ALBERT CAMUS : "ERA COMO SE DESSE QUATRO BATIDAS SECAS NA PORTA DA DESGRAÇA"

"O GATILHO CEDEU,TOQUEI O VENTRE POLIDO DA CORONHA E FOI AÍ,NO BARULHO,AO MESMO TEMPO SECO E ENSURDECEDOR,QUE TUDO COMEÇOU.SACUDI O SUOR E O SOL. COMPRENDI QUE DESTRUÍRA O EQUILÍBRIO DO DIA,O SILÊNCIO EXCEPCIONAL DE UMA PRAIA ONDE HAVIA SIDO FELIZ.ENTÃO,ATIREI QUATRO VEZES AINDA NUM CORPO INERTE,EM QUE AS BALAS SE ENTERRAVAM SEM QUE SE DESSE POR ISSO.E ERA COMO SE DESSE QUATRO BATIDAS SECAS NA PORTA DA DESGRAÇA"


"COMPRENDI,ENTÃO,QUE UM HOMEM QUE HOUVESSE VIVIDO UM ÚNICO DIA PODERIA SEM DIFICULDADE PASSAR CEM ANOS NUMA PRISÃO. TERIA RECORDAÇÕES SUFICIENTES PARA NÃO SE ENTEDIAR".

"TAMBÉM EU ME SINTO PRONTO A REVIVER TUDO.COMO SE ESTA GRANDE CÓLERA ME TIVESSE PURIFICADO DO MAL,ESVAZIADO DE ESPERANÇA,DIANTE DESTA NOITE CARREGADA DE SINAIS E DE ESTRELAS,EU ME ABRIA PELA PRIMEIRA VEZ À TERNA INDIFERENÇA DO MUNDO. POR SENTI-LO TÃO PARECIDO COMIGO,TÃO FRATERNAL,ENFIM,SENTI QUE FORA FELIZ E AINDA O ERA. PARA QUE TUDO SE CONSUMASSE, PARA QUE EU ME SENTISSE MENOS SÓ,FALTAVA-ME DESEJAR QUE HOUVESSE MUITOS ESPECTADORES NO DIA DA MINHA EXECUÇÃO - E QUE ME RECEBESSEM COM GRITOS DE ÓDIO".

(ALBERT CAMUS,"O ESTRANGEIRO")

Posted by geneton at 11:44 PM

março 24, 2004

LAMPEDUSA :"UMA DOR ATÔNITA DIRIGIDA CONTRA TODO O ORDENAMENTO DAS COISAS"


...."AS ÁGUAS,SOPRADAS PELAS CONCHAS DOS TRITÕES E DAS NÁIADES,PELAS NARINAS DOS MONSTROS MARINHOS,IRROMPIAM EM ESGUICHOS FINOS,SALPICAVAM COM UM SUSSURO AGUDO A SUPERFÍCIE ESVERDINHADA DO LAGO,PROVOCAVAM RICOCHETES, BOLHAS, ESPUMA, ONDULAÇÕES, FRÊMITOS, TORVELINHOS ALEGRES ; EMANAVA DE TODA A FONTE,DA ÁGUA TÉPIDA,DAS PEDRAS COBERTAS DE MUSGO AVELUDADO,A PROMESSA DE UM PRAZER QUE JAMAIS PODERIA MUDAR-SE EM DOR ".


...."....ARGUTO DEPÔS AOS PÉS DO PRÍNCIPE UM ANIMALZINHO AGONIZANTE.ERA UM COELHO : O HUMILDE CASACO COR DE BARRO CINZENTO NÃO TINHA SIDO SUFICIENTE PARA SALVÁ-LO.O FOCINHO E O PEITO HAVIAM SIDO RASGADOS POR HORRÍVEIS GOLPES.DURANTE MOMENTOS DOM FABRIZIO VIU-SE FIXADO POR GRANDES OLHOS NEGROS,INVADIDOS RAPIDAMENTE POR UM VÉU GLAUCO,QUE O OLHAVAM SEM REPROVAÇÃO; CHEIOS,PORÉM,DE UMA DOR ATÔNITA DIRIGIDA CONTRA TODO O ORDENAMENTO DAS COISAS"

LAMPEDUSA,EM "O LEOPARDO"

Posted by geneton at 02:27 AM

ITALO CALVINO : "O PESADUME,A INÉRCIA,A OPACIDADE DO MUNDO"

...."LOGO ME DEI CONTA DE QUE ENTRE OS FATOS DA VIDA,QUE DEVIAM SER MINHA MATÉRIA-PRIMA,E UM ESTILO QUE EU DESEJAVA ÁGIL,IMPETUOSO,CORTANTE,HAVIA UMA DIFERENÇA QUE EU TINHA CADA VEZ MAIS DIFICULDADE EM SUPERAR.TALVEZ QUE SÓ ENTÃO ESTIVESSE DESCOBRINDO O PESADUME,A INÉRCIA,A OPACIDADE DO MUNDO - QUALIDADES QUE SE ADEREM LOGO À ESCRITA,QUANDO NÃO ENCONTRAMOS UM MEIO DE FUGIR A ELAS"

(Italo Calvino em "Seis Propostas para o Próximo Milênio")

"

Posted by geneton at 02:00 AM

PEDRO NAVA :"DESPEDAÇADO PELAS BESTAS DA DESOLAÇÃO"

..."MANUEL BANDEIRA,QUE ERA AMIGO DO REI,IA-SE EMBORA PRA PASÁRGADA. AI ! DE MIM,SEM REI NEM AMIGO REI,QUE QUANDO CAIO NO FUNDO DA FOSSA,QUANDO ENTRO NO DESERTO E SOU DESPEDAÇADO PELAS BESTAS DA DESOLAÇÃO,QUANDO FICO TRISTE,TRISTE (..."MAS TRISTE DE NÃO TER JEITO..."),SÓ QUERO REENCONTRAR O MENINO QUE JÁ FUI"

(Pedro Nava em "Baú de Ossos")

Posted by geneton at 01:51 AM