janeiro 11, 2006

ALERTA GERAL CONTRA OS QUE ASSASSINAM AS "VIRTUDES DA CLAREZA" 2, A MISSÃO : QUASE 12.960 HORAS PERDIDAS EM PARIS

Senhores Jurados: Permitam-me um adendo ao exercício de tiro livre que fiz no texto anterior contra filósofos e semiólogos empulhadores (todos franceses) que atazanam a paciência da humanidade com suas elucubrações cem por cento ilegíveis. Duas ou três anotações:

1. Nem tudo é empulhação e ilegibilidade na Rive Gauche. O "novo" filósofo Bernard-Henry Lévy deu uma entrevista brilhante ao programa "Conexão Roberto D´Ávila", reprisado por estes dias pela TV-E. Ao contrário de tantos de seus pares, BHL é claro, cristalino e compreensível.

Subintelectuais podem pensar que estas três virtudes (clareza, transparência, legibilidade) são meras armas de batalha do Jornalismo para conquistar a atenção do idiota médio. Não são. A clareza vale para todo mundo, em todas as áreas.

Lévy fala para o telespectador de TV: todo mundo entende quando ele diz que as utopias (pena!) resultaram em morte, opressão e destruição. Hoje, ele renega as utopias de sociedades perfeitas. Diz que o que deve nos mover é a esperança.

Descrita assim, a declaração de Bernard-Henry Lévy pode parecer piegas, uma construção mental comparável a mensagens criadas por publicitários (!!) para comerciais de fim-de-ano de supermercados e companhias aéreas. Mas estou simplificando: o que importa é que podem acusar Bernard-Henry Lévy de tudo - menos o de ser ridiculamente obscuro quando ocupa uma tribuna eletrônica.
Quem já se submeteu à tortura de encarar cinco minutos de entrevistas de filósofos e semiólogos franceses a TVs a cabo sabe do que falo.

O Planeta Terra seria um lugar feliz se, a cada vez que um dessas empulhações intelectuais levantasse a voz, um enorme coro se levantasse em todos os continentes para repetir a exclamação de horror que Jacqueline Kennedy fez ao ver os miolos do marido estilhaçados pelas balas de Lee Oswald em Dallas: "Oh,no !". De novo: "Oh,no !". Para sempre: "Oh,no!".

2. O cálculo é aproximado: devo ter passado 12.960 horas
em Paris - tempo irremediavelmente jogado na minha lata de lixo pessoal. 12.960 horas correspondem a um ano e meio.

Impressão duradoura: Paris poderia ser a cidade mais bonita do mundo, se não fosse habitada por franceses irritadiços e visitada por brasileiros que falam alto, cantam em restaurantes e,pior, fazem batucada quando se reúnem na rua. "O horror,o horror, o horror" - diria o personagem de "O Coração das Trevas". Nem todas as 12.960 horas foram desperdiçadas, no entanto.

Houve uma cena marcante: o dia em que tive a chance de ver, "ao vivo e a cores", uma performance de um brasileiro que sonhava com um Brasil original, grandioso, reluzente: Glauber Rocha.

Em breve, neste Jornal Quase Diário, a descrição da cena glauberiana.

Posted by geneton at 12:38 PM | Comments (0)

janeiro 10, 2006

ALERTA GERAL CONTRA OS QUE ASSASSINAM AS "VIRTUDES DA CLAREZA"

Ninguém me contou, eu vi: não existe nada tão insurportável na face do planeta quanto intelectuais franceses cheios de caspa, com o cabelo oleoso, cachecol pendurado no ombro e pronúncia cheia de vícios horrorosos- como aqueles suspiros que disparam perdigotos rumo ao rosto de interlocutores indefesos. Jamais chegue a menos de um metro de um francês. Você será banhado por perdigotos voadores. Pausa para vômito. Parágrafo.

Passei um ano e meio à beira do Sena. Dezoito meses. Faço as contas: cerca de 540 dias e noites irremediavelmente jogados no lixo. Consegui uma vaga no DEA, Diplomas de Estudos Aprofundados em Cinema na Universidade de Paris 1, a celebérrima Sorbonne. O nome é pomposo. O curso é um festival de francesises inúteis : professores caspentos evocavam Platão para falar durante horas de uma cena perdida de um filme de Hitchock. Blá-blá-blá. Inutilidades. Coisa de sebosos entediados.

Ganhei um diploma por ter frequentado os seminários. Trouxe-o para o Brasil, como herança dos dias desperdiçados. Jamais usei este pedaço de papel cheio de carimbos e assinaturas. Não tive estômago para levar adiante, na Sorbonne, o projeto de tese, aprovado, sobre "Cinema & Subdesenvolvimento" . Francês adora ouvir bárbaros terceiro-mundistas desfilando primitivices. É o que fez o meu projeto ser solenemente aceito.


Mas pedi o boné antes de cair na tentação de levar a sério aquelas teses ininteligíveis, ilegíveis, inúteis. Preferi voltar a esta republiqueta ensolarada para me dedicar a outra atividade estupidamente ridícula ( mas um pouco menos inútil do que a de autor de sub-teses intelectualóides) : o jornalismo.

(Pausa. Profundo suspiro de desânimo, provocado por outro tipo de impostura - a que viceja nas redações: gente que diz "o óculos", gente que escreve "sombrancelha", gente que constrói frases com "pra mim ver", gente que acha que gratuito é "gratuíto", enfim, gente tecnicamente habilitada a varrer o terreiro de um sítio, mas não a manusear a língua, acha-se perfeitamente capaz de dizer aos senhores leitores, ouvintes e telespectadores o que acontece no planeta. Quá-quá-quá. A platéia se contorce de risos diante de tal impostura. Mas, como os impostores de ambos os sexos não têm o mínimo senso de autocrítica, continuam a despejar em nossos olhos e ouvidos o lixo que produzem consistemente)

Por falar em Paris, sou testemunha ocular e auditiva de uma verdade inapelável: a língua francesa só é bonita no cinema. Ao vivo e a cores, o francês falado é horrível. O pior é ver brasileiros macaqueando aquela desgraça falada ( só há uma cena mais ridícula do que brasileiro fazendo biquinho para imitar suspiro de francês: é a visão de selvagens tropicais cantando "ô-lê-lê-ô-lá-lá-pega no ganzê-pega no ganzá" dentro de ônibus de excursão ou em restaurantes no exterior).

Tomar banho é um sacrifício para o francês típico. Mas o problema não é o banho. É a ilegibilidade. Em "O Capelão do Diabo", livro lançado no Brasil, Richard Dawkins trata das imposturas intelectuais de "filósofos" rigorosamente incapazes de produzir durante toda a vida um mísero parágrafo legível. Noventa por cento dos impostores são franceses. Dawkins mata a charada: diz que estes grandes empulhadores escrevem difícil porque, se optassem por um estilo claro, revelariam ao mundo o enorme, o indizível, o estratosférico vazio de suas formulações.

Dawkins reproduz um parágrafo de Félix Guattari:

"Podemos ver claramente que não há nenhuma correspondência biunívoca entre relações significantes lineares ou de arquiescritura, dependendo do autor, e essa catálise maquínica multirreferenciial e multidimensional".

Pausa para vômito coletivo dos leitores.

Que tal esse espasmo de Gilles Deleuze:

"As singularidades-eventos correspondem a séries heterogêneas que são organizadas em um sistema que não é estável nem instável,mas sim metaestável, dotado de uma energia potencial na qual as diferenças entre as séries se distribuem".

Nova pausa para lançar detergente no salão. Pouparei vossos olhos indefesos: interromperei aqui a transcrição de outras aberrações estilísticas. Citado por Richard Dawkins no livro "O Capelão do Diabo", Peter Medawar acerta o alvo : em texto escrito há três décadas, diz que estava,em marcha, uma "campanha de difamação contra as virtudes da clareza".

Os ilegíveis, obscuros e caspentos filósofos franceses ocupam um lugar de honra no batalhão dos que destróem as virtudes da clareza em nome de uma profundidade inexistente. O que escrevem é rigorosamente inútil. É intraduzível. É nauseante. O pior é que sub-empulhadores (ou seja: estudantes recém-formados e professores incapazes de uma atividade realmente produtiva ) escrevem teses e teses e teses para incensá-los.

Os subprodutos dos empulhadores são tão ruins quanto as matrizes. Juro pelo Menino Jesus de Praga: nem faz tanto tempo, tentei ler num caderno de cultura um artigo que prometia fazer um balanço da literatura. Contaminado por semiologices, o texto era cem por cento ilegível. Ilegível. Ilegível. Desisti. Pensei em pedir à empresa que publica o jornal a devolução do dinheiro que gastei na banca. Se eu entrasse na justiça, ganharia. Mas não posso perder tempo. Tenho coisa mais importante para fazer: comprar uma Coca-Cola estupidamente gelada para beber depois do jantar.

Os guerreiros que combatem a clareza estão por toda parte. Vi outro dia um fotógrafo cego pontificando sobre enquadramento. É óbvio que falava em francês. Empulhação: é como se eu começasse a ditar regra sobre o bem-vestir.

Dou um conselho tão inútil quanto um cinzeiro numa motocicleta: em nome de todos os santos, pelo amor de Deus, não percam tempo com estes empulhadores.

Há uma maneira fácil de identificá-los: se forem franceses, são suspeitos. Suspeitíssimos.

Posted by geneton at 06:34 PM | Comments (1)

QUER SABER POR QUE A HUMANIDADE É CEM POR CENTO INVIÁVEL?

Pequenas provas cotidianas de que a humanidade é inviável: quarentões que dizem "podes crer". Cinquentões de bandana. Sessentões de rabo-de-cavalo. Setentões de cabelo pintado. Piores do que todos juntos: vintões ou trintões de arco (ou tiara ou diadema) no cabelo. Pausa para vômito incontrolável.

O chão já foi limpo. A lista segue: crianças correndo entre mesas de restaurante, sob o sorriso complacente de pais que se orgulham de ter passado adiante o DNA da estupidez. Idiotas que dizem "minto" para se corrigir no meio de uma frase. Gente que faz, no ar, sinal de aspas com os dedos. Peruas que exibem peitos inflados de silicone como se fossem um prodígio da natureza - quando são um atestado ambulante de imbecilidade aguda. Amebas motorizadas que avançam o sinal: panacas, panacas, panacas. Carioca imitando sotaque nordestino depois de passar uma semana nas terras além-Bahia para parecer "primitivo" e "brasileiro de raiz". Nova golfada. Dois comprimidos de Plasil.

A lista daria para encher cinqüenta volumes de uma enciclopédia. Farei um esforço para reunir - aos poucos - o maior número possível de provas científicas da inviabilidade deste aberração genética também conhecida como espécie humana. Um dia, apresentarei o rol de provas condenatórias ao desocupado que criou esta joça.

O meu amigo e guru Joel Silveira (ver entrevistas) disse uma vez que preferiria não participar de uma noite de autógrafos sugerida pela Editora para um dos dois livros que fizemos juntos - o "Nitroglicerina Pura". Motivo: "Não quero ir. Ela pode aparecer por lá". Perguntei : "Ela quem? ". E ele: "A espécie humana! Quero distância!".

Idem.

É óbvio que, nesta categoria, não incluímos os navegantes que se dão ao trabalho de aportar em sites vagabundos como este: são seres generosos que merecem zelo e atenção.

Então, welcome, strangers. Mas, por favor, demorem pouco. Falem baixo. Cuidado para não tropeçar: há um morto-vivo estendido no chão da sala. Not surprisingly, it´s me.

Posted by geneton at 04:23 PM | Comments (0)