janeiro 26, 2009

DUAS HORAS SEM RESPIRAR! AH, QUEM DERA....

Ah, as delícias da cultura inútil: o Discovery Channel acaba de informar que os crocodilos de água salgada são capazes de passar duas horas sem respirar quando estão submersos.

Fecham os olhos, param de respirar : quem olha pensa que estão mortos.

Duas horas sem respirar ! E de olhos fechados!

Confesso que morro de inveja dos crocodilos de água salgada.

Porque, se pudesse, eu também passaria duas horas de olhos fechados e sem respirar assim que começasse o Big Brother Brasil na TV.

Quando eu voltasse à tona, com certeza seria um ser humano melhor.

Posted by geneton at 02:02 PM

janeiro 25, 2009

SAMBALÊLÊ

O post anterior reclama das abomináveis marchinhas de carnaval.

Apoiado!

....Mas o que dizer dos "sambas de enredo" ?

Pergunto-me: o engenho humano será, algum dia, capaz de produzir algo tão chato quanto ?

Duvido. São versos sem pé, sem cabeça e sem beleza, repetidos incessantemente por uma hora e meia, duas horas.

De vinte em vinte anos, um refrão se salva. Façam as contas. Não estou exagerando.

É por essas e outras que pretendo passar o carnaval numa cela desativada de Guantánamo.

É dez vezes mais divertido.

Posted by geneton at 02:03 PM

janeiro 22, 2009

ERRO DE DIGITAÇÃO ACONTECE NAS MELHORES FAMÍLIAS E NOS PIORES BLOGS: "SOU INOCENTE", GRITA O REDATOR, ENQUANTO É LEVADO PARA O CADAFALSO

Uma leitora do blog de Nelson Vasconcelos no Globo on Line aponta um erro cometido num post do Sopa de Tamanco que listava, justamente, jumentalidades cometidas por jornalistas ignorantes.

Ou seja: parecia ser o caso de sujo falando de mal lavado.

Mas não!

Dessa vez, o que aconteceu foi puramente um erro de digitação.

É facílimo checar: em posts anteriores, a palavra tinha sido escrita corretamente inúmeras vezes. O Sopa de Tamanco não seria capaz de confundir "vos" com "voz".

Se confundisse, a redação desabaria. O autor do absurdo seria expulso do ambiente a chicotadas, sob aplausos. Nosso chefe imaginário aparecia na porta com um cinturão de balas pendurado nos dentes, duas bombas na mão esquerda e uma metralhadora giratória na direita.

Fuzilaria, sem piedade, o autor de tal absurdo, se o absurdo tivesse sido cometido. Mas não foi.

Tudo não passou de um tropeço involuntário - apenas um "z" digitado no lugar do "s" - na longa, árdua, terrível, acidentada e infinita batalha contra o Festival de Jumentalidades que Assola o País.

Aqui, ninguém diz "sombrancelha" nem "o óculos".

O último que disse foi imolado diante dos colegas: teve de engolir, página por página, um exemplar inteiro do Dicionário Houaiss, até tombar, inerte, vítima de indigestão tipográfica.
Quando nosso chefe descobriu que a vítima do castigo não fazia parte do exército de combatentes do Sopa de Tamanco (era apenas um contínuo que veio perguntar se alguém queria comprar "um óculos de sol"), era tarde. O castigo já tinha sido, injustamente, aplicado. Como consolo, o chefe providenciou uma cremação de luxo para o contínuo. A solenidade foi abrilhantada por um idiota tocando músicas de Roberto Carlos ao piano. Inesquecível.

O sacrifício de um inocente é sempre motivo de justa lamentação. Mas, como nem tudo se perde, a redação do Sopa de Tamanco guardará, por toda a eternidade, a lição e o exemplo: é assim que nosso chefe trata os que tratam o idioma pátrio a pontapés.

Nossa redação aprendeu, ali, que um país se faz com homens e livros - pouco importa que sejam homens inocentes devorando livros indigestos como castigo.

Assim, a atenta leitora do blog do nosso colega Vasconcelos pode ficar tranquila: tudo não passou de um lamentável - se bem que banal e compreensível - erro de digitação.

Como disse um javali dez segundos antes de ser devorado por um tigre gigantesco num daqueles documentários do National Geographic : a luta continua.

Posted by geneton at 02:05 PM

janeiro 21, 2009

ANIMAR PASPALHOS NA DISNEY É SINAL DE INTELIGÊNCIA SUPERIOR OU DE ESTUPIDEZ INCURÁVEL ?

A sala de espera de um laboratório exibe, ad infinitum, um documentário sobre animais marinhos.

O locutor informa que os golfinhos são "muito inteligentes".

Imediatamente, uma dúvida devastadora sacode meus mares interiores:

quais são, afinal, os tão falados sinais de inteligência dos golfinhos ? Passar a vida se movimentando pra lá e pra cá no fundo do mar, sem destino certo, é sintoma de inteligência refinada ?

Pior: que tal ficar divertindo platéias de paspalhos na Disney ?

É o que os golfinhos fazem, há décadas, sem reclamar.

Cabe a pergunta: tais atitudes não seriam indícios claríssimos de estupidez ?

Eu cravaria, sem dúvida nenhuma: são, sim.

Posted by geneton at 02:08 PM

janeiro 19, 2009

A CAMPANHA NACIONAL DO SOPA DE TAMANCO CONTRA A IGNORÂNCIA DOS JORNALISTAS - LOGO ELES, QUE VIVEM RECLAMANDO DE LEITORES IGNORANTES....

A cena ocorreu sábado. Há testemunhas. Um grande site jornalístico publicou, com todo destaque, no alto da capa, uma manchete que trazia o erro infame: "um óculos".

( Abre parêntese. O Sopa de Tamanco vem, há tempos, fazendo uma inútil campanha contra a disseminação deste erro crasso: quem escreve "um óculos" simplesmente não sabe o que é plural ou singular. Porque escrever "um óculos" é a mesmíssima coisa de escrever "uma casas" ou "um carros".

Tais demonstrações de ignorância, típicas de quem habita o já superpovoado território da Burrolândia, soariam engraçadas se saídas da boca inocente de uma criança de dois anos e meio. Mas, cometidas por jornalistas, são de fazer chorar.

Como um profissional pago para zelar pela língua ( sim! é esta uma das funções de quem fala e escreve em público!) pode ignorar que uma das palavras mais usadas do idioma exige o artigo no plural ? Fecha parêntese).

Pois bem: a Patrulha da Sopa de Tamanco teve a imensa pachorra de telefonar para o plantão do site para dizer que o redator tinha cometido um erro colossal na manchete.

Uma voz de mulher atende. O patrulheiro do Sopa diz: pega mal, malíssimo um site tão visitado expor, na manchete, tal barbaridade: "um óculos!".

A moça faz um silêncio do outro lado da linha. Devia estar pensando: "Que leitor ignorante!".

De repente, pronuncia a frase que pode ser tomada, desde já, como o epitáfio do jornalismo virtual do Cone Sul da América:

- Mas aqui a gente usa assim: é "o" óculos....

Fuzilado pela resposta, o patrulheiro do Sopa de Tamanco escapa por pouco de ter um enfarte fulminante mas ainda encontra, em suas florestas interiores, fôlego para argumentar com a moça: dizer coisas como "um óculos", "o óculos", "meu óculos" não é errado: é erradíssimo! Pegue um dicionário para ver!

A moça agradece. Desliga o telefone.

Com toda certeza, deve ter ido consultar o dicionário ou, quem sabe, teve a modéstia de perguntar a um vizinho de mesa.

Cinco minutos depois, o título foi consertado. O site baniu o "um óculos" da manchete. Um novo título, com o artigo no plural diante da palavra óculos, foi prontamente parido no plantão de sábado.

A guerra do Sopa de Tamanco contra a GMI, a Grande Marcha da Ignorância que avança, célere, pelas redações, é inglória.

Mas não custa nada soltar tiros - ainda que de festim - de vez em quando.

O locutor que vos fala já viu gente que ocupava cargos de chefia em redações dizer, com todas as letras, coisas como "traz aqui o texto pra mim ver".

Ah, jornalistas....Como já se disse em outro artigo: que gentinha pretensiosa....

Gente que diz "o óculos" e "pra mim ver" deveria,para o bem do Brasil, estar vendendo abacaxi na beira das rodovias.

Jamais, nunca, never, sob hipótese alguma, deveria estar falando ou escrevendo em público. Porque tudo o que estas cavalgaduras fazem é jogar estrume em quantidades industriais em nossas retinas ou canais auditivos jã tão fatigados.

Posted by geneton at 02:08 PM

janeiro 14, 2009

POR QUE O BIG BROTHER NÃO OFERECE UM PRÊMIO DE UM MILHÃO DE NEURÔNIOS PARA AQUELES CÉREBROS DESABITADOS ?

Aviso à praça que entrarei em período de hibernação.

Credores, saiam do caminho. Terráqueos, respeitem meu silêncio.

Daqui a quatro meses, quando o Big Brother Brasil tiver terminado, me acordem, por favor.

Por ora, desacordado, estarei livre de ter os tímpanos maltratados pelos gritos de "uh! uh!", pronunciados por aquele aglomerado de sumidades que buscam o prêmio de um milhão de reais.

Uma dúvida embalará meu sono, durante o período de devoção absoluta ao Deus Ócio : um prêmio de um milhão de neurônios não seria mais útil para aqueles cérebros desabitados ?

Com um milhão de neurônios injetados em seus cérebros, os Big Brotheres poderiam, aí sim, fazer alguma coisa de útil à humanidade, aqui fora. Quem sabe, um dia amealhariam um milhão de reais.

Mas rendo-me à força avassaladora dos fatos. O mundo não é assim, oh boy.

Apago a luz, desligo a TV para sempre, desconecto-me.
É hora de recolhimento.

Caminho, cabisbaixo, em direção aos meus aposentos.
Enquanto movo meu aglomerado disforme de ossos,músculos e tédios em direção à cama, pronuncio grunhidos ininteligíveis. Nem eu consigo decifrá-los.

Jogar ao ar imprecações balbuciadas em tom de voz inaudível faz parte do show que há décadas enceno para um único e lastimável espectador : eu mesmo.

Nesta caminhada de vinte e cinco passos, minha única companhia é minha ingenuidade, que há séculos puxo por uma coleira imaginária.

Os dois - eu e minha triste ingenuidade - dormiremos, a partir de agora, um sono profundo, intocado pelos bigs, pelos brothers e pelo Brasil.

Não há felicidade maior.

Posted by geneton at 02:11 PM

janeiro 12, 2009

FRIAÇA: AQUI, O DEPOIMENTO COMPLETO DO BRASILEIRO QUE REALIZOU O SONHO SECRETO DE TODO BRASILEIRO APAIXONADO POR FUTEBOL : MARCAR UM GOL PELO BRASIL NUMA FINAL DE COPA DO MUNDO NO MARACANÃ!

http://www.geneton.com.br/archives/000310.html

Posted by geneton2 at 04:18 PM

FRIAÇA

O DEPOIMENTO COMPLETO DO ÚNICO BRASILEIRO QUE REALIZOU O SONHO DE MARCAR UM GOL NUMA FINAL DE COPA DO MUNDO NO MARACANÃ. A INCRÍVEL HISTÓRIA DO ARTILHEIRO QUE TEVE UMA CRISE DE AMNÉSIA DEPOIS DE PERDER UM TÍTULO QUE PARECIA CERTO. QUANDO ELE "VOLTOU A SI", ESTAVA DEBAIXO DE UMA ÁRVORE, NUMA CIDADE DO INTERIOR"

Friaça podia bater no peito: era o único brasileiro que realizou o sonho de todo jogador de futebol: marcar um gol pelo Brasil, numa final de Copa do Mundo, no Maracanã.

O autor da façanha morreu hoje, doze de janeiro de 2009, aos 84 anos.

Tive a chance de entrevistá-lo duas vezes.


O depoimento completo de Friaça foi publicado no nosso livro "DOSSIÊ 50', lançado em 2000 pela Editora Objetiva. É a única reportagem que traz a palavra de todos os jogadores que entraram em campo para enfrentar o Uruguai na final da Copa do Mundo de 1950. Esgotado, o livro virou "raridade". Mas pode ser encontrado em sebos.
:

“FIZ UM A ZERO NA FINAL DA COPA.ALI NÓS JÁ ÉRAMOS DEUSES”

Albino Friaça Cardoso tinha vinte e cinco anos, oito meses e vinte e seis dias quando realizou o sonho máximo de todos os jogadores brasileiros de todas as épocas: fazer um gol numa final de Copa do Mundo dentro do Maracanã superlotado. O gol sai logo no primeiro minuto do segundo tempo. O Maracanã enlouquece. Friaça também. “A emoção foi tão grande que só me lembro de uma pessoa que veio me abraçar: César de Alencar, o locutor. Quando a bola estava lá dentro, ele gritou: “Friaça, você fez o gol!”. Naquela confusão, ele entrou em campo e me abraçou. Nós dois caímos dentro da grande área”.
Louco de alegria, Friaça só se lembra com clareza do rosto de César de Alencar. “Passei uns trinta minutos fora de mim. Eu não acreditava que tinha feito o gol. Eu tinha potencial, mas estava ao lado de craques como Zizinho, Ademir e Jair. E logo eu é que fiz o gol”. Se o Brasil precisava apenas de um empate, então o jogo estava liquidado: a seleção ia ser campeã do mundo. “Ali, nós já éramos deuses”.

Friaça só não poderia imaginar que outras cenas inacreditáveis iriam acontecer ali – além da queda com César de Alencar dentro da grande área, numa explosão de alegria. Consumada a tragédia brasileira, diante da maior platéia até hoje reunida para um jogo de futebol, a dor da derrota desnorteou o autor do gol do Brasil.

“O trauma foi enorme. Vim para o Vasco. Fiquei, em companhia de outros jogadores, andando de noite em volta do campo, ali na pista. O assunto era um só: como é que a gente foi perder com um gol daqueles ?”.

Depois das voltas inúteis em torno do campo do Vasco na noite de domingo, Friaça pirou. “Só me lembro de que a gente subiu para o dormitório. Eram umas onze da noite. Troquei de roupa e me deitei. Não me lembro de nada do que aconteceu depois. Quando dei por mim, por incrível que pareça, eu estava em Teresópolis, no meu carro. Passei pela barreira, fui para um hotel. Quando me perguntaram: “Friaça, o que é que você quer?” Eu simplesmente não sabia onde estava. Só sabia que estava debaixo de uma jaqueira, no terreno do hotel. Não sei como é que saí com meu carro da concentração. Não sei como é que fui bater em Teresópolis. Um médico que era prefeito de Teresópolis é que me deu uma injeção. Comecei a saber onde é que estava uns dois dias depois. A a minha família,em Porciúncula,estava atrás de mim, sem saber onde é que eu estava. O pior é que eu também não sabia. De 64 quilos eu passei para 59”.

Quem tivesse a sorte de fazer gol pelo Brasil ganharia um terreno – era um dos prêmios aos futuros campeões do mundo. O artilheiro da finalíssima contra o Uruguai mereceria um prêmio extra – uma televisão, na época, um luxo para privilegiados. Quando finalmente descobriu em que país estava, depois do trauma da vitória do Uruguai, Friaça tentou receber o terreno e a televisão.

“A resposta que me deram foi: só se o Brasil tivesse vencido o jogo...”.


“Eu tinha confiança : a gente ganharia do Uruguai com facilidade.Cheguei a imaginar um placar de 2 ou 3 a 0 para o Brasil,pelo time que nós tínhamos e pelo time que o Uruguai tinha.A gente pode dizer que o Uruguai tinha um grande time,mas o Brasil era uma potência,uma força.O Brasil não pensava nem no empate.A gente não daria essa chance ao Uruguai.A verdade é que nós,os jogadores,estávamos tranquilos.A gente sabia que,se o time jogasse o que vinha jogando,dificilmente perderia.Se o tempo pudesse voltar,se o Brasil pudesse jogar dez vezes contra o Uruguai,ganharia nove.A seleção de cinquenta foi uma das maiores que o Brasil já teve.

A maior vingança que experimentei em minha carreira esportiva aconteceu um ano depois de nossa derrota na final da Copa de 50.O Vasco da Gama foi ao Uruguai jogar contra o Penarol. Ganhamos do Penarol – que tinha onze jogadores de seleção – dentro do Estádio Centenário.Repetimos a dose em outro jogo,aqui no Brasil.


Em 1950,nós estávamos engatinhando. Não estávamos preparados para ter um impacto tão grande quanto o que sofremos.O nosso time tinha um potencial muito maior do que o do time do Uruguai. O gol de empate do Uruguai,marcado por Schiaffino,teve um impacto grande sobre nosso time.Porque,até então,o jogo mais duro que tivemos tinha sido contra a Iugoslávia.Vencemos por 2 a 1,um jogo duro.

Diante dos outros,o Brasil jogava quase que a toque de música,como,depois,a seleção de 70.Era um time homogêneo.Quando o Uruguai fêz o gol de empate,sentimos um impacto.Há quem fale em Bigode.Mas fomos todos nós


Não houve falha na armação tática do time.Ainda ouço até hoje que Obdulio Varela deu um tapa em Bigode. Não deu.Eu estava lá ! Pude sentir todo o problema.Bigode –é verdade- tinha dado uma entrada violenta.Aliás,violenta,não : uma entrada dura.Houve o impacto do juiz.Neste momento,Obdulio entrou em cena para separar. Mas não houve nada.


O que aconteceu,no gol,adiante,é que Bigode foi batido numa jogada,porque Ghiggia era um jogador de alta velocidade. Se Bigode foi batido pela alta velocidade de Ghiggia,então teria de contar com a cobertura de outro jogador. Não posso ficar falando.Não é o caso de a gente crucificar A, B ou C.Mas não houve cobertura.Como não houve cobertura,veio aquele impacto. Schiaffino,no lance do primeiro gol do Uruguai,foi muito feliz,como Ghiggia.Basta ver que o próprio Ghiggia diz que pegou a bola mal no pé.Fêz o gol no contra-pé de Barbosa,o nosso goleiro.Pegou a bola quase que com o bico da chuteira.Resultado : a bola entrou entre a trave e a perna esquerda de Barbosa.

O que eu acho é que não houve uma cobertura certa no lance, já que se sabia que Ghiggia era um jogador de grande velocidade. Tinha pouco domínio de bola,mas era veloz.

Não acredito em falha técnica do treinador. Porque,desde o primeiro jogo,entramos da mesma maneira.Mas aconteceu o lance : Ghiggia recebia a bola e partia para cima de Bigode.Como era de alta velocidade,Ghiggia dava um chute lá pra frente e partia.Então,a cobertura era essencial.

Não estou crucificando ninguém.Mas estou dizendo o que faria : punha um jogador fazendo a cobertura.

Gravei bem o lance do meu gol contra o Uruguai,porque este é o tipo de coisa que a gente guarda.Eu tinha potência na perna direita,graças a Deus.Quando vi,Máspoli,o goleiro do Uruguai,tinha saído.Bati forte na entrada da área - do lado direito para o lado esquerdo.A bola entrou.O lance tinha nascido de uma combinação minha com Bauer.Assim : Bauer tocou para mim, eu toquei para o Zizinho – que tocou,na frente,para mim. Antes de entrar na área,bati na bola.Tive a felicidade de marcar !

Eu só tinha um pensamento : fiz o gol ! A única coisa que eu vi foi César de Alencar me abraçando.Caímos dentro da área.Passei uns trinta minutos fora de mim.Eu não acreditava: nós tínhamos craques como Zizinho,Ademir e Jair.Mas eu é que tinha feito o gol ! Em toda a vida,eu sempre fui muito frio, nunca tive medo de ninguém : eu era igual a todos. É uma das das vantagens que eu tinha -e tenho até hoje.

Quanto à recomendação que o nosso técnico fêz antes do jogo,é bom que se diga o seguinte : o que Flávio Costa não admitia a covardia,mas aceitava entradas firmes e duras,desde que fossem leais.Há uma diferença entre as duas coisas.Deslealdade é uma coisa,jogada dura é outra.

Se alguém pensou em tirar de campo um jogador como Obdulio Varela,foi bobagem.Porque Obdulio era um jogador vivo e manhoso : não ia cair numa dessas.Eu mesmo já passei por uma situação dessas. Gostava de jogo duro.Não cheguei a jogar quatro vezes no Vasco na mesma posição : ora era center-foward,ora ponta-esquerda,ora ponta-direita.ter four, ponta esquerda, ponta direita e gostava. Depois da Copa,joguei contra o Uruguai,como center-foward.Matias Gonzalez me disse : “Vou te botar pra fora da área !”.Eu disse : “Você me conhece ! Sou do estado do Rio ! Já joguei 4 vezes contra você.Vamos brigar até o fim do jogo.Você sabe que eu não corro do pau !”.

Antes do jogo,aquele assédio atrapalhou o descanso dos jogadores.Como era ano de eleiçãO,teve jogador que foi levado para passear.A seleção,então,não teve sossego,tranqüilidade.É por razões que eu digo que a seleção estava engatinhando,em 1950,porque não tinha uma vivência.Um exemplo: passamos quarenta e cinco dias em Araxá,sem comunicação alguma com nossas famílias. Depois que Paulo Machado de Carvalho e o falecido Geraldo José de Almeida foram para é que começamos a Ter contato.Acontecia o seguinte : nossas famílias não recebiam as cartas que a gente escrevia.

Não culpo Flávio Costa de jeito nenhum, porque ele era sozinho.Era Flávio Costa e Vicente Feola para tomar conta de vinte e cinco jogadores. Depois,ficaram vinte e dois.Hoje,existe uma comissão técnica.Mas quem fazia treinamento era Flávio Costa – tudo ele.A equipe era o roupeiro,dois massagistas,dois médicos e Vicente Feola,para ajudar.

Eu me lembro de lances que poderiam ter mudado a história do jogo.Eu era um jogador que tinha noção dos passes,principalmente os de perna direita. Houve um lance em que fiz um passe certeiro,para Ademir entrar de cabeça.Eu,naquele estado de nervos,tinha certeza de que Ademir,com a facilidade que tinha para jogar,faria o gol.Mas Ademir praticamente devolveu a bola para mim. A bola voltou na mesma direção ! Por aí,dá para ver o estado em que os jogadores do Brasil se encontravam,naquele momento,a dez,quinze minutos do fim da partida.Naquela altura,era tudo na base do “valha-me Deus”,porque ninguém entendia nada.

A gente tinha saído da concentração para o Maracanã às onze e quarenta e cinco.Chegamos ao estádio em torno de uma hora da tarde.Quando chegamos ao vestiário,encontramos colchão para todo mundo se deitar no chão.

Antes,quando a seleção estava concentrada no Joá,antes da mudança para São Januário,várias vezes tivemos de empurrar,em dia de treino,uma camionete enguiçada da Polícia Militar,uma daquelas que tinha a madeira pintada de amarelo e a lateria pintada de azul.


Durante a Copa,jogadores receberam camisa, corte de terno,relógios e lustres.Da Sexta para o sábado e do sábado para o domingo,dentro do bar do Vasco da Gama,na concentração em São Januário,eu assinei autógrafos como “capeão do mundo”.Assinei !

Tinha até comerciante envolvido.Hoje,jogador de futebol não faz um negócio desse se não receber uma importância. Mas eu assinei bolas,faixas,fotos,todo tipo de coisa.Já nem sei onde assinei...Quem fizesse o primeiro gol receberia um terreno,perto do Leblon.Quem fizesse o primeiro gol do Brasil contra o Uruguai iria ganhar uma televisão,uma novidade,na época.Fiz o gol.Nunca vi esse prêmio.Não ganhei terreno.Corri atrás,mas não adiantou nada.Quem ia dar os prêmios disse que não podia,porque o Brasil tinha perdido a Copa.A televisão ia ser prêmio de uma loja chamada A Exposição. Meu cunhado foi à loja,para saber do prêmio.Disseram : “Ah,não ! Só se o Brasil tivesse ganhado o jogo...”.

Logo em seguida,comprei uma televisão.


Durante a Copa,houve uma reunião entre os jogadores,para discutir a divisão de prêmios que eram oferecidos à seleção.Decidiu-se que ia se fazer um leilão dos objetos.Pelo seguinte : havia no grupo jogadores que não tinham condições físicas ou técnicas de jogar.Como não jogavam,corriam o risco de não receber prêmios.
Então,combinou-se com nossa “diretoria”,formada por Augusto,Nílton Santos,Castilho e Noronha,o seguinte : tudo o que cada um recebesse seria leiloado.Houve,então,uma pequena desavença sobre como é que se ia dividir um lustre de cristal,oferecido por uma loja.Flávio Costa entrou na discussão para acalmar o pessoal.



Mas o pior,para mim,veio quando o jogo acabou.Vim para o Vasco. Ficamos eu,Bauer, Rui e o Noronha andando em volta do campo,na pista do do Vasco. : é a momento mais duro que tive em minha vida.Dali,subimos para o dormitório.

O assunto era um só : como é que nós fomos perder com um gol daqueles ? Ficou aquela “conversa de bêbado”,sem fim nem começo.

Só sei que subi para o dormitório ás onze horas.Não me lembro de mais nada,não sei de mais nada. Quando eu dei por mim,estava em Teresópolis ! Uma pessoa do hotel me perguntava: “Friaça, o que é que você quer?” E eu nem sabia onde estava !.Só sei que estava debaixo de uma jaqueira,num hotel...Fui sozinho para lá.Não como é que pedi ao porteiro para sair,não sei como é que cheguei a Teresópolis.De manhã,o porteiro do hotel foi chamar o prefeito de Teresópolis – que eu conhecia.Tomei injeção,passei uns dois dias com ele. Honestamente,não sei o que eu tomei,mas fiquei apagado. Depois é que me refiz,comecei a saber onde é que eu estava e o que é que tinha feito.A minha família estava me procurando no Rio e em São Paulo,porque não sabia onde é que eu estava.Mas eu mesmo também não sabia ! Depois de chegar finalmente a Porciúncula,terra da minha família,eu me comuniquei com o Rio e com São Paulo.Eu tinha 64 quilos.Passei para 59.


Devo ter ido para Teresópolis porque sempre que tinha uma folga gostava de ficar quieto lá.Nunca gostei de confusão.Eu queria era tranquilidade.

O que vi no vestiário do Brasil,assim que acabou o jogo,foi só choro.Não se via outra coisa,a não ser gente se abraçando,chorando,lamentando.Os mais frios sofrem mais.Quem desabafa sente um alívio.quem não desabafa fica sofrendo.Nosso vestiário - desculpe a expressão – virou um cemitério.Era só gente se lastimando,como num velório.


Quando acabou tudo,eu pedia muito a Deus que eu jogasse outra vez contra o Uruguai.Terminei jogando – e ganhando,pelo Vasco : 3 a 1 em Montevidéu,2 a 0 aqui.


Não adiantava querer sonhar.Eu queria ir à forra.O Vasco chegou debaixo de cavalaria,mas ganhou.

Jogadores da seleção brasileira de 50 - que tinham condições de crescer na carreira - só regrediram depois da Copa.Antes,éramos deuses.

Nós,os jogadores,sofremos em todos os cantos,porque para onde a gente ia,ouvia só duas palavras : Obdulio,Uruguai "

Posted by geneton at 03:48 PM