setembro 21, 2010

GERALDO VANDRÉ

GERALDO VANDRÉ ESPECIAL // TUDO O QUE O GRANDE MUDO DA MPB DISSE NA PRIMEIRA GRAVAÇÃO QUE FAZ PARA UMA TV DEPOIS DE DÉCADAS (HOJE, ELE GARANTE:”NÃO EXISTE NADA MAIS SUBVERSIVO DO QUE UM SUBDESENVOLVIDO ERUDITO”)

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Horários de reexibição da entrevista de Geraldo Vandré no DOSSIÊ GLOBONEWS: segunda:15:05; terça,11:05; sexta,12:05.

O “DECÁLOGO” DE GERALDO VANDRÉ NA PRIMEIRA ENTREVISTA QUE GRAVA PARA A TV DESDE O INÍCIO DOS ANOS SETENTA:

1.”EU ESTOU EXILADO AINDA – ATÉ HOJE, NÃO VOLTEI”
2.”ARTE É CULTURA INÚTIL. CONSEGUI SER MAIS INÚTIL DO QUE QUALQUER ARTISTA.SOU ADVOGADO NUM TEMPO SEM LEI”
3.”PROTESTO É COISA DE QUEM NÃO TEM PODER”
4.”NÃO EXISTE NADA MAIS SUBVERSIVO DO QUE UM SUBDESENVOLVIDO ERUDITO”
5.”NÃO SOU MILITARISTA. TAMBÉM NÃO SOU ANTI”
6.”NÃO TENHO O QUE CORRIGIR EM NADA DO QUE FIZ. TENHO ORGULHO”
7.”RARAMENTE ME ARREPENDO DO QUE FAÇO”
8.”A LOUCURA É A AVIAÇÃO. A MAIOR LOUCURA DO HOMEM É VOAR”
9.”O QUE EXISTE É CULTURA DE MASSA. NÃO É CULTURA ARTÍSTICA BRASILEIRA. NÃO HÁ ESPAÇO PARA A CULTURA ARTÍSTICA”
10.”NUNCA FUI MILITANTE POLÍTICO. NUNCA PERTENCI A NENHUM PARTIDO. NUNCA FUI POLÍTICO PROFISSIONAL”

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Um dos mais duradouros silêncios da Música Popular Brasileira foi quebrado num fim de tarde de domingo no Clube da Aeronáutica, no Rio de Janeiro.

“Demorou uma eternidade”, mas Geraldo Vandré, o grande mudo da MPB, resolveu falar diante de uma câmera de TV.

Desde que voltou para o Brasil, no segundo semestre de 1973, depois de quatro anos e meio de exílio, Geraldo Vandré mergulhou num mutismo quase absoluto.

O compositor e cantor que entrara para a história da MPB dos anos sessenta como autor de canções como “Disparada” (em parceria de Théo de Barros) e “Pra Não Dizer que Não Falei de Flores”/Caminhando” , parecia ter se especializado em provocar espantos em série no público.

Primeiro espanto: numa declaração feita na volta do exílio, anunciou que, a partir dali, só queria fazer “canções de amor e paz”. O Jornal do Brasil registrou outras declarações de Vandré: “Eu desejo, em primeiro lugar, integrar-me à nova realidade brasileira. Isso é um processo que demanda paciência e tranquilidade de espírito – que espero encontrar aqui, nessa nova realidade”.

Segundo espanto: ao contrário do que se esperava, não houve novas canções de “amor e paz”. Vandré sumiu. Nada de shows, nada de entrevistas, nada de excursões. Nada, nada, nada. Recolheu-se a um país que parece ter um só habitante: o próprio Geraldo Vandré.

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O Vandré pós-exílio não lembrava em nada o compositor que arrebatara o público no Festival Internacional da Canção de 1967. Entoados por Vandré diante de um Maracanãzinho superlotado, os versos de “Caminhando” ( “vem/vamos embora/que esperar não é saber/quem sabe faz a hora/não espera acontecer”) saíram daquele palco para entrar na história: viraram uma espécie de hino de protesto contra o regime militar. Sob uma vaia de fazer tremer as estruturas do ginásio, o júri deu o prêmio à “Sabiá”, a parceria de Chico Buarque com Tom Jobim. Mas o público foi seduzido pelo tom incendiário dos versos de “Caminhando”. Pouco depois, desabava sobre o país o Ato Institucional número 5 – que dava poderes absolutos aos militares. Vandré partiu para o exílio. A música “Caminhando” foi proibida.

O terceiro espanto viria anos depois: para surpresa geral, descobriu-se que Geraldo Vandré compôs uma peça sinfônica em homenagem à FAB, a Força Aérea Brasileira. Sim, era verdade. Vandré não apenas compôs a declaração de amor à FAB como cultivou uma relação próxima com a Aeronáutica. Vive sozinho em São Paulo. Quando vem ao Rio, para visitar a mãe nonagenária, hospeda-se no hotel do Clube da Aeronáutica, nas proximidades do aeroporto Santos Dumont.

De vez em quando, faz aparições fugidias. Virou lenda. O mutismo deu origem a lendas de todo tipo. Vandré teria sido torturado na volta ao Brasil. Teria, simplesmente, “pirado”. Teria feito um acordo secreto com os militares. E assim por diante. A lenda mais estapafúrdia dizia que ele teria sido castrado ! O silêncio, claro, só servia para alimentar o mistério. Como acontece em casos assim, a fantasia toma o lugar dos fatos.

O que há de certo é que ele foi, sim, constrangido a gravar um depoimento no Aeroporto de Brasília, em 1973. A gravação foi exibida à noite, na TV. Por onde andaria este filme ? Fiz uma primeira busca. Voltei de mãos vazias. Vandré tem lembrança de que agentes da Polícia Federal participaram da operação. Não há registros do filme nem na Polícia Federal em Brasília nem no Arquivo Nacional. Faço uma tentativa no Centro de Documentação da Rede Globo. Nada. Com quem estará o filme ? O que se sabe é que uma empresa de Brasília - uma produtora que, entre outras atividades, fazia filmes para órgãos do governo – foi contratada para gravar o depoimento de Vandré, no aeroporto. O cinegrafista escalado pela produtora para a gravação foi Evilásio Carneiro - por coincidência, trabalha hoje na Globonews. Por falar no assunto: uma dupla de documentaristas prepara atualmente um filme sobre o dono da produtora mobilizada para a gravação do depoimento – um italiano radicado na capital da República. Nome: Dino Cazzola. Em breve, novas informações.

Igualmente, as imagens de Geraldo Vandré cantando “Caminhando” no Maracanãzinho estão desaparecidas. Restou o áudio da performance. Lá, é possível ouvir o pequeno discurso que Vandré, elegantemente, fez em defesa de Chico Buarque e de Tom Jobim, crucificados pelas vaias do público. “A vida não se resume a festivais”, diz, antes de começar a cantar “Caminhando”.

Houve, obviamente, uma ruptura profunda entre o Vandré de antes e o Vandré de depois do exílio. O próprio Vandré nos deu uma explicação : disse que perdeu a motivação e a razão para cantar porque aquele Brasil de 1973 já começava a viver um processo que ele chama de “massificação”. Num país em que a “cultura artística” foi engolida pela “cultura massificada”, não haveria lugar para o que ele fazia.

Depois de quatro meses de insistência, a produtora de TV Mariana Filgueiras terminou convencendo o Grande Mudo da MPB a falar. O mérito de ter derrubado o muro de silêncio que Vandré ergueu em volta de si deve ser creditado, portanto, à capacidade de insistência da produtora. É algo que ocorre com incrível frequência em TV: a responsável pelo furo de reportagem fica nos bastidores. C´est la vie. Mas fica feito o registro.

Vandré marcou o encontro para as cinco da tarde do domingo, doze de setembro – justamente o dia em que ele completava setenta e cinco anos de idade. Nasceu em setembro de 1935 em João Pessoa, Paraíba.

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O autor de pelo menos uma obra prima indiscutível – “Disparada” – escolheu o fim de tarde do domingo em que fazia aniversário para produzir um novo mistério – um, entre tantos outros que passou a cultivar desde que saiu de cena: o Grande Mudo decidiu, finalmente, que iria falar diante de uma câmera de TV. Por quê ? É provável que o fato de estar fazendo aniversário tenha pesado.

Para minha surpresa, o Grande Mudo estava solícito, falante, acessível. Aceitou sem reclamar os pedidos para caminhar no saguão do Clube de Aeronáutica diante da câmera do cinegrafista Ricardo Carvalho.

Quando a entrevista terminou, Vandré se recolheu a um quarto do Hotel da Aeronáutica. Cinegrafista improvisado, captei a cena com minha DVCAM: Vandré se afastando em direção à escadaria que dá acesso aos quartos. Estava sozinho. Terminava assim o domingo em que completava setenta e cinco anos. Não imaginei que um dia iria testemunhar esta cena - o cantor que um dia incendiou o país com seus versos de alta combustão estava ali, solitário, no dia em que fazia aniversário, depois de ter quebrado, diante de mim, um silêncio que se estendeu por décadas. Quem se lembra da última entrevista concedida por Vandré para uma TV ? Havia um tom ligeiramente melancólico na cena solitária protagonizada por Vandré no saguão do hotel, a caminho da ala dos hóspedes. Nada de grave. Os domingos à noite não são sempre assim ?

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O que importa é que Geraldo Vandré deu sinal de vida. Eu estava lá para testemunhar a cena. Estava fazendo minha pequena parte no circo de horrores geral : “produzir memória”, não deixar que as palavras se desfaçam no vento. Afinal, o que diabos um repórter pode fazer de útil, além de “produzir memória” ? Pouquíssima coisa. Quase nada. Quando Vandré sumiu na penumbra do corredor do hotel, dei por cumprida minha missão – o depoimento tinha sido devidamente colhido. É hora de passá-lo adiante. Eis o que o Grande Mudo falou no dia em que quebrou o silêncio:

A pergunta que todos gostariam de fazer é a mais simples possível: o que foi que aconteceu com Geraldo Vandré ?

Vandré : “Ficou fora dos acontecimentos (ri). Ficou fora dos acontecimentos. Acho melhor para ele. Tenho outras coisas para fazer. Estudei leis. Quando terminei meu curso de Direito aqui no Rio e fui me dedicar a uma carreira artística, já sabia que arte é cultura inútil. Mas hoje consegui ser mais inútil do que qualquer artista. Sou advogado num tempo sem lei. Quer coisa mais inútil do que isso ? Quando entrei na escola, para estudar, era a Universidade do Distrito Federal. Quando saí, era Universidade do Estado da Guanabara. Hoje, é Uerj, no Maracanã”.

Você se animaria a fazer uma temporada comercial,em teatros ?

Vandré : “Tenho uma prioridade: fazer a minha obra de língua espanhola. É uma obra popular. Além de tudo, o que quero fazer, antes de cantar canções populares no Brasil, é terminar uma série de estudos para piano, música erudita com vistas a composição de um poema sinfônico. Porque aí já é a subversão total. Não existe nada mais subversivo do que um subdesenvolvido erudito”.

O fato de a música “Caminhando” ter se tornado uma espécie de hino de protesto provoca o quê em você hoje: orgulho ou irritação ?

Vandré: “Estou tão distante de tudo. Mas não tenho o que corrigir em nada do que fiz. Tenho muito orgulho de tudo o que fiz. Protesto é coisa de quem não tem poder. Não faço canção de protesto. Fazia música brasileira. Canções brasileiras. A história de “protesto” tem muito a ver com a alienação denominatória, é o “protest song” norte-americano, a música country. Há algumas coincidências. Não concordo com a denominação “música de protesto”. Fiz música popular brasileira”.

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Você teve uma divergência artística com os tropicalistas – entre eles, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Hoje, você ainda considera ruim a música que eles faziam na época ?

Vandré : “Com essa pergunta, eu me lembrei de uma reposta que o próprio Gil deu uma vez. Fiz uma pergunta a ele. Não me lembro qual foi. E ele disse: “Ah, faço qualquer coisa. Uma tem que dar certo”. Eu não faço qualquer coisa”.

Mas você mudou de opinião sobre os tropicalistas ou não ?

Vandré: “Parece que eles continuam na mesma. É o que me parece. Eu estou distante de tudo – não só do Tropicalismo como de tudo praticamente que se faz do Brasil”.

Em que país vive Geraldo Vandré ?

Vandré: “Vive num Brasil que não está aqui. Geraldo Vandré vive no Brasil. Eu até me atreveria a dizer que quem não vive no Brasil é a maioria dos brasileiros. A quase totalidade dos brasileiros não vive mais no Brasil. Vive num amontoado”.

Como é este Brasil de Geraldo Vandré ?

Vandré : “É o antes – de quarenta anos atrás. O país que o Brasil era quando fiz música para o Brasil não era este país de hoje. Não existia este processo de massificação. Dentro da minha própria carreira – profissionalmente falando – houve uma mudança ali no Maracanãzinho. Ali, houve a passagem do que eu fazia para um público de um teatro de setecentas ou no máximo mil e duzentas pessoas para um ginásio com trinta mil pessoas. E a televisão direto no ar. Já foi a massificação”.

O Brasil de quarenta anos atrás era melhor do que o Brasil de hoje ?

Vandré: “Eu fazia música para aquele país”.

E por que não fazer música para o Brasil de hoje ?

Vandré: “Porque o país é outro. O que existe é cultura de massa. Não é cultura artística brasileira. Não há praticamente espaço para a cultura artística. Se você considerar os outros autores, eles fazem coisas de vez em quando. Não têm uma carreira como tinham antigamente – nem Chico Buarque nem Edu Lobo, ninguém. A carreira que eles têm é uma carreira hoje muito segmentada”.

Você se considera, então, uma espécie de exilado que vive dentro do Brasil ?

Vandré: “Estou exilado até hoje. Ainda não voltei. Eu estou exilado e afastado das atividades que eu tinha até 1968 no Brasil. Eu me afastei. Não retornei”.

Por que é que você resolveu se afastar totalmente da carreira artística naquela época ?

Vandré: “Naquela época, já era assim: já era como hoje. Quando voltei, o Brasil já estava num processo de massificação em que o público para quem eu tinha escrito e para quem eu tinha composto praticamente já não existia, aquela classe média de quatro anos e meio antes. Estava muito confuso tudo.Fui esperando, fui vendo outras coisas. Isso foi de mal a pior – cada vez mais. Para você ter uma ideia: quando terminei o curso de Direito no Rio e me mudei para São Paulo, em 1961, para fazer uma carreira artística, não existia bóia-fria em São Paulo. Hoje, São Paulo é a terra do bóia-fria: todo mundo amontodo nas cidades. Vão aos campos para plantar e para colher e depois voltam para a cidades. Quando fui para São Paulo, a cidade tinha quatro milhões de habitantes. Hoje, são dezesseis milhões de amontoados. É um genocídio. Tiraram todo mundo dos campos para produzir e exportar…”

A decisão de interromper a carreira,então, foi – de certa maneira – um protesto contra o que você via como “massificação” da sociedade brasileira ?

Vandré: “Não. O que houve foi muito mais uma falta de motivo, uma falta de razão para cantar. Protesto,não: falta de razão, falta de porquê. Estou fazendo o que acho que devia fazer”.

O que é que chama a atenção do Geraldo Vandré no Brasil de hoje ? Que manifestação artística desperta interesse ?

Vandré: “A miséria aumentou. Se você pegar a letra de “Caminhando” – ” pelos campos, as fomes em grandes plantações/pelas ruas marchando indecisos cordões/ ainda fazem da flor seu mais forte refrão/ e acreditam nas flores vencendo o canhão” -, hoje é mais ainda. Hoje, as ruas estão muito mais cheias de indecisos cordões. O processo de massificação destruiu praticamente a urbe brasileira”.

Você se animaria a fazer uma canção como “Caminhando” hoje ?

Vandré:”Não existe isso. A gente nunca faz uma canção como uma outra. Aquela é uma canção. Cada uma é uma.A gente faz independentemente de animação. Quando decide fazer, faz”.

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Você diria que o Brasil é um país ingrato ?

Vandré : “Não. De forma alguma. São coisas que ocorrem. Guerra é guerra.Não perdi (ri). Eu me lembrei agora de um poema muito bonito de Gonçalves Dias que aprendi com meu pai: “Não chores, meu filho, não chores/ Viver é lutar/ A vida,meu filho, é combate/é luta renhida/ que aos fracos abate e aos bravos só pode exaltar”.

Quando você se lembra hoje do Maracanãzinho inteiro cantando “Caminhando” que sentimento você tem ?

Vandré: “Aquilo foi muito bonito, muito bonito. Pena que eu não posso ver o VT. Estão guardando o VT não sei para quê.Quero ver o VT. Lá na sua estação eles devem ter. Procure lá. Consegue o VT para ver!” ( olhando para a câmera).

Você tem saudade daquela época ?

Vandré : “Saudades….Saudades…Um pouco. Mas também há tanta coisa para fazer que não dá muito tempo de sentir saudade”.

Você vive de quê hoje ? Você recebe direitos autorais ?

Vandré: “Nunca dependi de música para viver. Sou servidor público. Hoje, estou aposentado como servidor público federal”.

Você deixou de receber direitos autorais ?

Vandré: “Pagam o que querem. Não existe controle. Não existe critério. Se nós tivéssemos direito de autor, teríamos os direitos conexos, direitos de marcas, patentes, propriedade industrial. É um assunto complexo. Mas aí não seríamos subdesenvolvidos“.

Você foi o único grande nome daquela geração que não voltou aos palcos – entre eles, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque…

Vandré: “Eu não voltei. É uma boa pergunta: por que não voltei? Não mudou tudo ? Mas será que mudou ?As razões pelas quais me afastei continuam preponderantes no que que se apresenta como realidade brasileira”.

Se você fosse escrever um verbete numa enciclopédia sobre Geraldo Vandré qual seria a primeira frase ?

Vandré: “Criminoso (ri)”.

Por quê ?

Vandré : “O que você chama de governo ainda me tem como anistiado por haver cantado as canções que cantei. Fui demitido do serviço público por causa das canções. O que se apresenta como governo no Brasil até hoje cobra impostos sobre o “corpo de delito” que foram as canções que fiz. Deu para entender agora ? “.

Você foi punido pelo governo da época, perdeu o emprego público…

Vandré: “Fui demitido. Depois, retornei. Briguei, briguei, briguei..”

Em algum momento, você foi considerado “criminoso”…

Vandré: “Fui demitido por causa da canção. E essa canção que foi mltivo de minha demissão até hoje é…Voltei por força de um despacho dado com fundamento na Lei de Anistia, como se eu fosse criminoso. Anistia é para criminoso – condenado por sentença transitada em julgado, se ele aceitar. Porque ele pode não aceitar. Aceitar a anistia significa aceitar-se criminoso, beneficiário de anistia”.

Você acha que a grande injustiça foi esta : em algum momento você ser considerado um criminoso ?

Vandré: “Injustiça não é a palavra…”

Você teria cometido um “delito de opinião” …

Vandré: “Não. Era subversão mesmo, sob certos aspectos, porque não havia nada mais para fazer naquele instante. Não me lembro. Mas as Forças Armadas, propriamente ditas, entenderam muito melhor do que a sociedade civil. Nunca tive nenhum problema com as Forças Armadas propriamente. Sempre houve uma consideração e respeito entre nós”.

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Hoje, você nega que tenha sido em algum momento um antimilitarista nos anos sessenta ?

Vandré: “Nunca fui antimilitarista. Nunca assumi tal posição. Fui lá e falei o que queria dizer, numa canção que foi dita e cantada no Brasil diante de todo mundo. A canção foi cantada para os soldados, também”.

O grande equívoco sobre Geraldo Vandré foi este : achar que você era antimilitarista ?

Vandré : “Não houve, na realidade, um grande equívoco. Houve uma grande manipulação porque, quanto mais proibido, mais sucesso fazia; mais se vendia; menos conta se prestava. É uma questão muito séria”.

Qual foi a última manifestação artística que despertou o interesse e a curiosidade de Geraldo Vandré no Brasil ?

Vandré: “Passei quatro anos e meio fora do Brasil. Quando voltei, havia uma coisa muito importante que era o Movimento Armorial. Havia o Quinteto Armorial e a Orquestra Armorial. A sonoridade era muito condensada. O resultado era importante. Para mim, foi a coisa mais importante que aconteceu nos últimos tempos. Não me lembro de outra coisa que tenha ido além daquilo”.

E da produção recente, alguma coisa chamou a atenção do Geraldo Vandré ?

Vandré: “Nada. Tiririca (ri). Dizem que vai ser o deputado mais votado de São Paulo. Está bom ? “.

Você disse, numa discussão na época dos festivais: “A vida não se resume a festivais”. Hoje, tanto tempo depois dos festivais, qual é o principal interesse do Geraldo Vandré ?

Vandré : “São as outras coisas que não estão nos festivais. Minha vida funcional – de que cuidei até me aposentar; as minhas relações com a Força Aérea, o meu projeto de fazer estas gravações na América espanhola…Tenho muita coisa para fazer”.

Outro grande nome que se celebrizou como opositor do regime militar na música brasileira foi Chico Buarque de Holanda. Você acompanhou o que ele fez depois ?

Vandré: “Chico teve um caminho diferente do meu. Não chegou a parar. Produziu muito durante aquela época em que eu estava fora. Chico ficou aqui. Saiu e voltou, saiu e voltou. Passei quatro anos e meio fora. Quando voltei, fiz uma tentativa de apresentação num programa de televisão. Não vem ao caso qual, mas não gostei do que aconteceu: o jogo de pressões que se fez em volta. Recuei. Depois, passou-se um tempo. A própria Globo queria fazer um festival. Chegaram a me procurar. Não tive interesse em participar”.

O que é que a produção de Chico Buarque significa para você ?

Vandré: “Chico é uma pessoa muito talentosa, muito importante. Um grande artista”.

Você perdeu o contato com todos os seus companheiros de geração na música ?

Vandré: “Nunca fui muito enfronhado no meio artístico. Fazia minhas coisas. Voltava para minhas atividades extramusicais”.

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É verdade que você ficou escondido na casa da família Guimarães Rosa antes de ir para o exílio ?

Vandré: “Eu saí de circulação. Depois que o tempo foi passando, as coisas vão ficando claras: as Forças Armadas propriamente ditas não tinham nada contra mim. Não tomaram nenhuma iniciativa contra mim. Quando fecharam o Congresso Nacional, no dia 13 de dezembro de 1968, eu estava indo para Brasília para fazer um espetáculo.Evidentemente, suspendemos o espetáculo. Vim de carro – guiando – até São Paulo. Eu estava à mão das Forças Armadas….Nunca deixei de estar. Mas claro que algo poderia acontecer: ao andar à toa pela rua, eu poderia de repente encontrar um “guardinha de trânsito” que quisesse fazer média. Há sempre alguém que quer tirar proveito de situações assim. Para evitar, saí de circulação. Durante um tempo, estive na casa de Dona Aracy (viúva de Guimarães Rosa – que tinha morrido meses antes). Fiquei lá porque, quando vinha para o Rio, como não tinha casa aqui, sempre ficava na casa de amigos e de pessoas conhecidas”.

Por que você tomou esta decisão tão drástica – de interromper uma carreira de tanto sucesso ?

Vandré: “Decidir sair do Brasil naquele ano de 1968. (N:Os mesmos agentes que prenderam Caetano Veloso e Gilberto em São Paulo,em dezembro de 1968, tentaram prender Geraldo Vandré. Mas, avisado por Dedé, à época mulher de Caetano Veloso, Geraldo Vandré conseguiu escapar a tempo) Eu tinha uma programação para fazer fora do Brasil. Tinha um contrato com a televisão Bavária,na Alemanha, para fazer um filme sobre Geraldo Vandré. Fui fazer. Passei um ano e meio pela Europa. Depois, voltei para o Chile – para onde eu tinha ido do Brasil. Havia muitos brasileiros lá ainda. De lá, fui para o Peru. Ganhamos um festival em Lima em 1972 com uma canção que era a única não cantada em espanhol. Era cantada em “brasileiro” mesmo. O Brasil não conhece a canção.Chama-se “Pátria Amada Idolatrada, Salve, Salve – Canção terceira”.

Você se lembra da letra ?

Vandré : “Eu me lembro. É uma canção que foi feita para ser cantada por um homem e uma mulher. Existe de caso pensado – coincidentemente – uma confusão de sentimentos entre a ideia da pátria e a ideia da mulher amada.O homem canta: “Se é pra dizer-te adeus/ pra não te ver jamais/Eu – que dos filhos teus fui te querer demais-/no verso que hoje chora para me fazer capaz da dor que me devora/quero dizer-te mais/ que além de adeus/ agora eu te prometo em paz levar comigo afora o amor demais”.

E a mulher, cuja imagem se confunde com a noção da pátria, responde:

“Amado meu sempre será quem me guardou no seu cantar/ quem me levou além do céu/além dos seus/e além do mais/ amado meu/ que além de mim se dá/não se perdeu nem se perderá”.

Os dois cantam juntos um para o outro. É um contraponto”.

Você foi constrangido a gravar, em 1973, um depoimento em que negava que fosse militante político. Qual foi o peso deste depoimento na decisão de Geraldo Vandré de interromper a carreira ?

Vandré: “Nunca fui constrangido a declarar que não tive militância política. Nunca tive militância político-partidária. Nunca pertenci a nenhum partido. Nunca fui político profissional. Não fui obrigado a dizer que não era militante. Nunca fui militante político. Nesta contemporaneidade em que estamos, eu me lembrei de um professor de Filosofia que dizia: “O homem é um animal político”. Sou uma qualidade de animal político que não depende de eleição. Vamos estudar a diferença entre política e eleição ?”.

Que lembrança você guarda deste depoimento ? Você foi levado para uma sala do aeroporto de Brasília e gravou um depoimento em que – de certa maneira – renegava ….

Vandré (interrompendo) : “É um assunto que ficou muito confuso. Não me lembro exatamente. Gostaria de ver a declaração…”

Você gravou o depoimento quando voltou do Chile…

Vandré: “Gostaria de ver, porque houve montagens. Era gravação. O que foi para o ar não sei”

O depoimento criou espanto na época, porque – de certa maneira – era você negando a militância política…

Vandré: “Nunca fui militante. Se engajamento político é pertencer a um partido, nunca pertenci a nenhum. Nunca fui engajado politicamente”.

Você obrigado a gravar este depoimento ? Fazia parte do acordo para voltar para o Brasil ?

Vandré: “Queriam que eu fizesse uma declaração. Não me lembro o que foi que disse. Mas eu disse coisas que poderia dizer. O que eu disse era verdade. Não disse nada que não tenha querido dizer. A TV Globo deve ter isso. Procure lá…”

A gente procurou e não encontrou….

Vandré: “Pois é: somem com tudo. Que loucura essa…Por quê ? Veja se acha o vt do Maracanãzinho. É o que tem Tom Jobim. É o mesmo vt. A minha parte sumiu. Por quê ? Fizeram uma retrospectiva do Festival. Botaram o Festival no Maracanãzinho- Tom,Chico, todo mundo, Cynara e Cybele. Mas,na hora de botar o Geraldo Vandré, usaram um filme feito na Alemanha, em que eu estava de barba. Não é certo”…

Talvez tenham recolhido o filme…

Vandré: “Para mim, é muito difícil acreditar que a TV Globo tenha se desfeito do filme. Não acredito. Devem estar guardando muito bem guardado”

Só para esclarecer este episódio sobre o depoimento que você gravou quando voltou do exílio : que lembrança exatamente você tem ? Quem pediu a você para gravar este depoimento ?

Vandré: “Aquelas declarações foram feitas para uma pessoa que se me apresentava como da Polícia Federal. Fiz um depoimento aqui. Depois, disseram que eu tinha de ir para Brasília. Cheguei ao Brasil no dia 14 de julho. Dois meses depois, apareço como se estivesse chegando em Brasília. Aquilo foi uma manipulação. O depoimento foi gravado antes. Gravaram-me descendo do avião em Brasília. Tudo muito manipulado. É esta a história dos vts: normalmente, temos esta doença. Estou falando aqui. O que vai ser mostrado vai ser uma seleção que a estação vai fazer. Não vai ser o que estou dizendo. Isso é muito sério”.

Para encerrar o assunto: o depoimento teve um peso na decisão de interromper a carreira ? Você ficou incomodado com aquilo ?

Vandré: “Não. Eu estava chegando e vendo como estavam a coisas.Não tinha menor noção da realidade. Tive de passar por um processo de adaptação no retorno ao Brasil”.

O grande mistério que existe sobre Geraldo Vandré durante todas essas décadas é, afinal de contas, o que aconteceu com ele depois da volta do exílio: você foi maltratado fisicamente ?

Vandré: “Não.Não”

Se você tivesse a chance hoje de se dirigir a uma plateia de jovens num festival,o que é que você diria a eles ?

Vandré: “Vamos ter de dar um tempo aí, não é ?…” (rindo)

Um “tempo” de quantos anos ?

Vandré: “Não sei. Agora, vocês vão votar para presidente, deputado, senador. Estão ocupados com outras coisas. Estou por fora”.

Que papel você acha que vai caber a Geraldo Vandré na história da música popular brasileira moderna ?

Vandré: “Nunca fiz este tipo de avaliação”.

Que papel você espera ter ? Você se acha suficientemente reconhecido ?

Vandré: “Obtive o reconhecimento que procurei e quis”.

Você em algum momento se arrepende de ter interrompido a carreira ?

Vandré: “Não. Porque raramente me arrependo das coisas que faço. Calculo bem, reflito bem, meço bem : quando faço é para ficar feito mesmo. Não existe arrependimento não”.

Para efeito de registro histórico: você, primeiro, não se considera antimilitarista…

Vandré: “Não…”

Segundo: você não foi maltratado fisicamente durante o regime militar…

Vandré: “Não…”

Terceiro: você disse o que quis no depoimento que você foi forçado a gravar quando voltou do exílio…

Vandré: “E em quarto: há o Quarto Comando Aéreo Regional…Tenho uma canção para o “exército azul”, a Força Aérea…(ri e exibe o brasão da Aeronáutica, impresso numa espécie de cartão de visita que traz, no verso, a letra de “Fabiana“). A aviação é muito bonita. A loucura é a aviação. Porque a maior loucura do homem é voar. Conhece loucura maior do que esta ? Não existe”.

Como é que surgiu a fascinação de Geraldo Vandré pela aviação ?

Vandré: “Desde pequeno, desde criança”.

Você gostaria de ter sido aviador ?

Vandré: “É. Não fui aviador militar. Não sou piloto, mas – de certa forma – sou aviador, porque me ocupo de assuntos da aviação. Uma coisa é aviador, outra é piloto. Você pode ser piloto, co-piloto, rádio navegador, mecânico de bordo, médico aviador. Há vários caminhos – não necessariamente tem de ser piloto…”.

O fato de você ter composto uma música em homenagem à Força Aérea criou um certo espanto. Hoje, você se hospeda em hotéis da Aeronáutica, como este. Nós estamos num ambiente militar…

Vandré :”Relativamente, porque este é um instituto de direito privado…”

Houve alguma mudança na postura do Geraldo Vandré ou não em relação às Forças Armadas ?

Vandré : “O que houve foi o reconhecimento de uma parte da sociedade que nunca tinha tido oportunidade de saber realmente quais eram as minhas posições”.

Em que situação Geraldo Vandré voltaria a um palco hoje ?

Vandré:”Depende de onde. Tenho uma programação na qual investo meu tempo e minhas energias : gravar um disco no exterior, num país de língua espanhola. É minha prioridade. Depois, vou ver minha programação para o Brasil. Escrevi umas trinta canções originalmente em “americano de habla hispânica”. Quero gravar num país de música espanhola, com músicos de lá. Minha prioridade comercial é esta. Para o Brasil, por ora, o projeto é a canção da Força Aérea mesmo – e um projeto sinfônico. A canção se chama Fabiana porque nasceu na FAB – em sua honra e em seu louvor”.

Você, hoje, então prefere compor peças sinfônicas ?

Vandré: “Tenho estudado música. Compus uma série de estudos para piano – aproveitando da técnica de uma jovem pianista de São Paulo. Mas a música ganhou outras dimensões. Passou a ser física e matemática. Ritmos do coração. Fica mais complicado,mas, para mim, é música”.

Você tem planos de gravar a música que você fez em homenagem à FAB ?

Vandré: “Claro. Já fizemos uma apresentação numa festa da Força Aérea em torno das comemorações da Semana da Asa, em São Paulo, com um coral de trezentos infantes. Uma coisa muito bonita. Com o tempo, vamos ver quais são alternativas que se colocam”.

Você declarou algumas vezes : “Geraldo Vandré não existe mais….”

Vandré ( interrompendo) : “Não, não declarei. Eu disse que ele não canta no Brasil comercialmente. Apresentei uma canção para a Força Aérea do Brasil. Não canto comercialmente no Brasil porque os problemas todos que tive de enfrentar resultaram de especulações comerciais: vendas clandestinas, câmbio negro, tudo isso. Quanto mais se proibia,mais se vendia. A sociedade, às vezes, tem essa doença”.

Você canta “Disparada” hoje, em casa ?

Vandré : “Não. Faz tempo que não pego num violão. Tenho de voltar a estudar”.

Que instrumento, então, você toca ? Piano ?

Vandré :”Não. Não sou pianista. Toco de improviso alguma coisa”.

Pelo menos duas músicas que você compôs são conhecidíssimas até hoje: “Disparada” e “Caminhando”.

Vandré ( interrompendo) : “Pelo menos duas…”

Se você fosse escolher uma, que música você escolheria como típica da produção de Geraldo Vandré ?

Vandré: “Disparada” é mais brasileira, tem uma forma mais consequente com a tradição das formas da música popular : a moda de viola. “Caminhando” já é mais urbana. É uma crônica da realidade. É a primeira vez que fiz uma crônica. Deu no que deu. A realidade não estava muito querendo ser…”

Retratada…A obra-prima de Geraldo Vandré qual é ?

Vandré: “Todas são iguais. Para mim, são todas iguais. Isso de obra-prima é uma questão de seleção e de predileção do público, os meios de comunicação e os chamados formadores de opinião”.

Mas você deve ter uma predileção pessoal…

Vandré: “Não tenho. É tudo igual mesmo”.

As peças sinfônicas você compõe como ?

Vandré : “As melodias, algumas harmonias…Para escrever em notas convencionais, preciso da escrita de pessoas que estão muito mais afeitas a esta tarefa do que eu.Eu levaria anos para escrever uma partitura. Jamais escreveria como alguém que faz parte de uma orquestra, lê e escreve na hora, à primeira vista. Hoje,estou dedicado a preparar um poema sinfônico cuja abertura coralística será a Fabiana, a canção que fiz para a Força Aérea”.

Você hoje se animaria a fazer um espetáculo para o público brasileiro ?

Vandré :”Não.Para o público brasileiro, só uma coisa muito especial”…

Em que situação você voltaria a se apresentar no Brasil ?

Vandré: “Chegamos a cogitar de fazer uma apresentação da Fabiana no Clube de Aeronáutica. É um dos projetos de que chegamos a nos ocupar. Mas até agora as coisas ficaram postergadas, porque o clube vai entrar em reforma. Vêm aí as Olimpíadas Militares. O clube vai ter de se adequar”.

Qual é a grande inspiração que você tem para compor essas peças sinfônicas ? O que é que motiva você a compor ?

Vandré: “Nunca dependi muito da palavra inspiração. Escolhia os temas. O fundamental para mim é a memória que tenho do que ouvia no cancioneiro popular, as músicas de desde a minha infância”.

O público brasileiro ainda vai ter chance de ver Geraldo Vandré cantando “Caminhando” e “Disparada” no palco ?

Vandré: “Isso é profecia. Não sou profeta”.

O que é que levou você a fazer uma música em homenagem à FAB, a Força Aérea Brasileira, você, que era tido nos anos sessenta como antimilitarista ?

Vandré: “Era tido. Por quem ? Isso deveria ser perguntado para os que a mim me tinham como antimilitarista.Não sou militarista. Mas também não sou anti. Todos os países soberanos do mundo têm suas forças armadas. O que é que devemos fazer com as nossas ? Entregá-las para outras pessoas ? Vamos fazer isso ? Acho que não!

Chamo de “Fabiana” porque nasceu na FAB. Costumamos dizer assim: uma servidora da FAB é “fabiana”. A letra diz : “Desde os tempos distantes de criança numa força,sem par, do pensamento teu sentido infinito e resultado do que sempre será meu sentimento/todo teu/todo amor e encantamento/vertente.resplendor e firmamento/ Como a flor do melhor entendimento/a certeza que nunca me faltou/na firmeza do teu querer bastante/seja perto ou distante é meu sustento/ De lamentos não vive o que é querente do teu ser no passado e no presente/Do futuro direi que sabem gentes de todos os rincões e continentes/que só tu saber do meu querer silente/porque só tu soubeste, enquanto infante, das luzes do luzir mais reluzente pertencer ao meu ser mais permanente”.

O refrão é, coincidentemente, um contraponto de “vem/vamos embora/ que esperar não é saber” : “Vive em tuas asas todo o meu viver/ meu sonhar marinho / todo amanhecer”.

Termina a entrevista. Já são quase sete da noite. O Grande Solitário da MPB caminha em direção à escadaria que dá acesso à ala de hóspedes do hotel que funciona no Clube da Aeronáutica. Parte sozinho. Vai em companhia do único habitante do Brasil que Geraldo Vandré criou para si: o próprio Geraldo Vandré.

Posted by geneton at 02:27 AM

setembro 17, 2010

EUGENE CERNAN

ÚLTIMO HOMEM A PISAR NA LUA DIZ QUE NÃO CONSEGUE “ACEITAR” A SUPOSIÇÃO DE QUE NÃO HÁ VIDA EM OUTROS PONTOS DO UNIVERSO. E MAIS: DIZ QUE,NA LUA, DESCOBRIU A MARAVILHA DA TERRA

A GLOBONEWS reexibe, nesta segunda, às 15:30, no DOSSIÊ GLOBONEWS ,uma entrevista com um nome importante da corrida espacial.

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O último homem a pisar na Lua : crença em alguma forma de vida extraterrestre

O que é que um astronauta que pisou na Lua pode fazer, depois de voltar ao planeta Terra ?

Pelo resto da vida, ele vai se tornar uma raridade : são pouquíssimos os seres humanos que tiveram o privilégio de pousar os pés em outro corpo celeste, fora do nosso planeta. A Terra tem sete bilhões de habitantes. Apenas doze viveram esta aventura.

O grande risco: depois de viver uma experiência tão extraordinária – a de enxergar a Terra como um belo e minúsculo ponto azulado flutuando no espaço -, um astronauta pode cair na tentação de encarar tudo o que acontece aqui como pequeno, banal e irrisório.

As turbulências que alguns dos astronautas enfrentaram depois de retornarem à “vida normal” são compreensíveis, portanto.

Em última instância, só eles puderam constatar, “ao vivo”, como é imensa nossa insignificância diante da vastidão do universo.

Tive a chance de gravar uma entrevista com um personagem que entrou para a história da corrida espacial : o último astronauta a pisar no solo da lua.

Eugene Cernan comandou a missão Apollo XVII, em dezembro de 1972. Bateu um recorde : passou 78 horas explorando a superfície da lua.

A entrevista foi gravada no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, dentro de um avião que estava exposto numa feira de aviação executiva.

Cernan faz aparições, nos EUA e no exterior, como uma espécie de embaixador da Bombardier, a fabricante canadense de aviões.

Faço uma pequena provocação ao homem: digo que o escritor britânico J.G. Ballard uma escreveu que o grandes mistério, na verdade, é o planeta Terra, porque a única coisa que os astronautas encontraram no espaço foi poeira.

Cernan dá uma resposta curiosa. Diz que foi ao espaço para descobrir a Lua, mas, ao olhar para nosso planeta, teve a sensação de que, na verdade, estava descobrindo a Terra. Anos de preparação para a viagem não diminuiram o espanto diante daquela visão: como é possível que esta esfera flutue, s0litária, no espaço, sem nada que a prenda ?

O ex-astronauta diz que viveu uma experiência indescritível : “Vi um pequeno pedaço do universo que inclui esta nossa Terra. A beleza era absoluta !”.

Um trecho da declaração do último homem a pisar na Lua:

“Eu discordo desse comentário (do escritor britânico), pois o maior dos mistérios não é a Terra em si, mas o universo que nos rodeia. O conceito de tempo, através do qual nós, como mundo, evoluímos…Quando fomos à lua, disseram: “Nós queremos descobri-la.Queremos explorar a Lua.” Mas, na verdade, nós descobrimos a Terra! A predominância e a maravilha que é a Terra quando vista da Lua. Vê-se a lógica, a razão de ser, a beleza, a ordem da Terra girando em um eixo invisível, sem estar presa a nada, mas,ainda assim, girando de modo que, a cada 12 horas, vê-se o outro lado. Eis o mistério da Terra! Como chegamos aqui, o que estamos fazendo, para onde vamos? É esta a beleza, é esta a descoberta. Isso nos ensina algo sobre nossa Terra, sobre onde vivemos”.

O ex-astronauta não viu, em suas viagens ao espaço, qualquer sinal de vida extraterrestre, mas não dá a mão à palmatória: diz que se recusa a acreditar que não exista outras formas de vida em outros pontos do universo:

“Se a gente pensar de uma maneira matemática e estatística: há milhares de sóis e planetas no universo.E tem de haver alguma forma de vida em algum lugar , talvez parecida com a que temos na terra, talvez diferente. Se acreditamos em um Deus que criou todo o universo, como é que você e eu podemos ser tão maravilhados com nós mesmos ou tão egoístas a ponto de acreditar que este criador não decidiu criar vida em outro lugar deste universo ? Não consigo imaginar que nós, na Terra, somos a única forma de vida em todo o universo. Não consigo aceitar! ”.

Posted by geneton at 10:27 AM

setembro 09, 2010

JONATHAN STERNE

PROFESSOR DIZ QUE DIVULGAÇÃO DO ROSTO DE BIN LADEN RESOLVEU “PROBLEMA” DO GOVERNO AMERICANO DEPOIS DO 11 DE SETEMBRO: O INIMIGO PRECISAVA TER UMA FACE

A Globonews reapresenta, neste domingo, ao meio-dia e meia, no DOSSIÊ GLOBONEWS, uma entrevista com um professor que analisou um aspecto pouco avaliado do 11 de Setembro (o programa terá reprise também na segunda-feira, às três e meia da tarde):

Um professor americano, naturalizado canadense, causou surpresa ao meio acadêmico ao escolher,como tema de estudo, um tema aparentemente inusitado: a voz e a imagem de Bin Laden, o terrorista mais procurado do planeta.

Diretor do Departamento de História da Arte e de Estudos em Comunicação da Universidade McGill,em Montreal, no Canadá, o professor Jonathan Sterne chama a atenção para um detalhe :

o rosto e a voz de Bin Laden cumpriram, no “imaginário” americano, um papel importante depois dos ataques de 11 de setembro de 2001, porque “personalizaram” um inimigo que parecia abstrato: ninguém conhecia os terroristas que jogaram os aviões contra o World Trade Center e o Pentágono. Bin Laden “preencheu” esta lacuna.

O rosto foi intensamente divulgado. Já a voz mereceu restrições : o governo Bush chegou a apelar às redes de TV para que elas não divulgassem as mensagens gravadas por Bin Laden. Motivo: as mensagens supostamente gravadas por Bin Laden poderiam trazer códigos secretos endereçados a terroristas, uma suposição que o professor considera inteiramente infundada.

De qualquer maneira, ele defende uma tese interessante sobre a voz e o rosto do superterrorista ( o professor escreveu um trabalho intitulado The Enemy Voice / A Voz do Inimigo ).

O incrível, o inacreditável, o extraordinário é como existe tanta gente que, por ignorância, por desinformação ou por um puro e tosco antiamericanismo, ainda é capaz de acreditar que os Estados Unidos perpetraram o atentado contra Nova Iorque porque precisavam de um “pretexto” para invadir o Iraque, por exemplo. Deus do céu, Deus do céu, Deus do céu, socorrei nossos ouvidos. Do que é capaz a mente humana….Se o governo Bush quisesse invadir o Iraque, bastaria deslocar tropas para lá. Ponto.

Um trecho da entrevista:

Qual o efeito do que o senhor chama de “repetição infindável” do rosto de Bin Laden em livros,revistas, TV e até em camisetas ?

Jonathan Sterne : “O governo dos Estados Unidos, durante a administração Bush, esteve particularmente interessado em divulgar o rosto de Bin Laden, para sacramentar a imagem do inimigo. Os ataques do 11 de setembro de 2001 foram praticados por gente cujos rostos eram desconhecidos do público americano. Eram “abstratos”. O que havia eram aviões batendo em edifícios. A função do rosto de Bin Laden – portanto – foi o de atribuir a ele uma “persona”, mostrar o rosto do inimigo, aquele a quem nos opomos. Quando essa imagem entrou em circulação – em 2001 já vivíamos a era da Internet e as imagens já circulavam promiscuamente -, o rosto de Bin Laden começou a aparecer em muitos meios, porque, por um lado, as pessoas viam naquilo algum sentido. Mas havia também os que queriam faturar, como no caso do papel higiênico com a imagem de Bin Laden – que é certamente muito mais caro do que qualquer outro…”.

Posted by geneton at 10:27 AM

setembro 04, 2010

ZIRALDO

ZIRALDO LANÇA ALERTA AOS PAIS : DEIXAR FILHO SOZINHO NO QUARTO COM COMPUTADOR É IGUAL A DEIXÁ-LO “NA ZONA OU NO CAIS DO PORTO”. E MAIS: “A HUMANIDADE É DÉBIL MENTAL”

Aviso aos navegantes: a Globonews reapresenta nesta segunda, às três e meia da tarde, no programa ALMANAQUE, uma entrevista em que Ziraldo levanta temas que merecem ser discutidos.

Sem medo de polêmica, o autor de livros infantis recordistas de vendagem lança um alerta aos pais: deixar filho adolescente ou pré-adolescente sozinho no quarto com um computador equivale a deixá-lo “na zona”. Deslumbrado com as maravilhas da Internet, Ziraldo faz esta ressalva: “Não se deve deixar computador no quarto do filho de jeito nenhum! O computador tem de ficar num lugar onde todo mundo passa”. Motivo: o mau uso que se faz da Internet pode atingir crianças e adolescentes.

“A humanidade - diz ele – é débil mental”.

Trechos da entrevista:

Artistas precisam de reconhecimento alheio. Você, a caminho dos setenta e oito anos de idade, ainda persegue este reconhecimento?

Ziraldo:”Sou o rei da carência! Mas melhorei muito. Vou fazer uma revelação. Por que é que trabalho tanto? Por que é que não paro de trabalhar ? Fiz dez páginas para os trinta e cinco anos da Playboy. Fiquei até de madrugada desenhando. Minha mulher dizia: “Ziraldo,pare com isso! Ficar desenhando…Você não tem de provar nada…”. E eu: “Claro que não tenho de provar. Estou pelo prazer de fazer”.

“Mas aí faço uma “análise esquizofrênica” – que é a seguinte: acho que sou ótimo. Enquanto todo mundo não achar que sou ótimo, tenho de lutar para poder provar. “Você não está vendo que sou ótimo?”. Se disserem “você é mais ou menos”, eu tenho de fazer de novo.Só pode ser isso! Não sou workholic não.Gosto de fazer o que faço.Como diria Cervantes criando Dom Quixote: meu repouso é o campo de batalha”.

Você foi criticado recentemente porque disse que a internet é “um antro de débeis mentais”.Você mantém ou retira esta declaração ?

Ziraldo: “Não! Eu mantenho! O pessoal que se chateou na internet é o pessoal que considera os internautas um clube. Não existe um clube dos internautas.O usuário da internet é a humanidade inteira. Não se pode dizer: “Sou um internauta. Você me respeite…”. O que é isso ? Já é uma forma de debilidade mental! Confirma a minha tese”.

“A internet vai mexer mais com o mundo do que a imprensa – de uma maneira extraordinária, fantástica. Hoje, não há uma informação que você procure que não esteja na internet! É inacreditável, uma coisa absurda. Mas o mal uso que fazem da internet é o mau uso que a humanidade faz da vida. A humanidade não sabe viver direito! A maioria do ser humano quer comprar feito. Não cria nada”.

“Como dizia Bernard Shaw, o homem de bom senso aceita o mundo como ele é : só os loucos querem mudar o mundo. Logo, todo progresso depende dos loucos. Isso é uma frase irônica do Bernar Shaw, mas o mundo caminha por causa dos cinco por cento que estão preocupados com o próximo, com o mundo, com o futuro”.

“Você veja a quantidade de jornais que se vendem por dia, numa população de cento e oitenta milhões de pessoas.O número de jornais que se vendem é mais ou menos a média de quem está pensando. Já na internet qualquer um entra. Eu estou mobilizado com um pessoal fazendo uma campanha : você ir para cama dormir e deixar o filho adolescente ou pré-adolescente no quarto com a internet ligada é melhor deixá-lo na zona ou no cais no porto – a filha, inclusive! Porque a internet é mais perniciosa e mais perigosa do que um bandido que vai pegar você. Diante de um bandido, você pode sair correndo. E, ali,você não grita socorro ao pai”.

“Um dos capítulos desse trabalho do pessoal quer avisar ao mundo que não se deve deixar computador no quarto do filho de jeito nenhum! O computador tem de ficar num lugar onde todo mundo passa. Porque você não sabe com que companhia o seu filho está andando. Acontece que – de madrugada – metade do mundo está acordada”.

“A quem você deixou o seu filho entregue ? É alguém que você não sabe quem é. Então, a internet é perigosa. Qualquer informação que você busca lá é sensacional. A internet é fundamental para o mundo. Não posso viver sem ela um segundo.Mas, o uso que faz da internet é o mau uso que se faz da vida! Não existe a categoria do internauta. Não é um clube.É a humanidade. E a humanidade é débil mental! Cinco por cento salvam a humanidade. O que é isso ? Agora, vão dizer: “Ziraldo falou que nós somos débeis mentais…”. Vocês são mesmo!”.

Você não teme ser acusado de olhar principalmente para o lado ruim, não para o lado bom da internet ?

Ziraldo: “Acabei de falar com você : a maior dádiva que o ser humano recebeu é o chip. O dia em que ele saiu da válvula para o chip….A Galáxia de Gutemberg agora é a Galáxia da Internet. Tenho a máquina de escrever, mas tenho toda a parafernália de que preciso. Não se pode viver um segundo sem ela.Qualquer coisa que eu preciso encontro lá, na internet. Eu baixo música !”.

“Deus do céu, que coisa impressionante. Quero ver um quadro, vejo. Tudo o que tenho de livro…Tenho todas as enciclopédias que você possa imaginar, todos os dicionários.Se eu quiser desenhar um cavalo de corrida. Tenho pastas com recortes. Outro dia, eu estava precisei desenhar um camarada num periscópio para um cartum que fiz para a Playboy. Meus livros não tinham. Pedi: me dá aí o que tiver de periscópio. Veio tudo! O que é um periscópio,como funciona : em cinco segundos! Não há hipótese de eu ser acusado de achar que a internet é um mal. É um bem.Mas a humanidade cria o bem,a necessidade e,depois, o crime”.

Você acha que já se livrou da fama de machista ?

Ziraldo: “Ah, já. Na verdade, não é a fama de machista. Não há jeito de você tirar de suas vísceras a certeza de que mulher foi um ser feito a seu serviço. Elas é que botaram na cabeça da gente: as tias, a mãe,as avós, as moças que faziam enxoval de casamento…Sua posição de achar que direitos são iguais e capacidade igual tem de ter a mesma remuneração, toda essa consciência de como deve ser esta convivência perfeita, você chega a ela pela razão,não pelo instinto…”

“Parece a todo mundo que um camarada que, instintivamente, tem um gesto de dominação sobre a mulher é machista. Não. É assim mesmo. É perigoso você falar sobre isso como é perigoso falar sobre a homossexualidade. Ainda que você acredite que esta não é uma qualidade nem um defeito do ser humano, mas uma característica, vão dizer : “esta frase que você fala é homofóbica!”. Você não sabe o que dizer. Porque podem achar homofobia!”.

“Já escrevi sobre esta coisa de nomear mal algo que parece justo mas que pode se perder pelo nome.Casamento entre homossexuais se perde pelo nome. Casamentos, no conceito que nós temos, são feitos na igreja,ainda são cristãos entre nós. É aquela coisa de casamento na igreja com Cristo. É casar com alguém do sexo diferente para procriar, para fazer família. O casamento tem essa coisa arraigada”.

“Se dois homossexuais querem viver juntos, sejam mulheres ou sejam homens, têm todo o direito. Os dois têm direito a todos os benefícios de uma união equivalente ao casamento mas deveria se chamar “união legal”. Sou a favor de união legal de homossexuais. Claro! Total e completamente. Mas não chamem de casamento. Porque não é casamento! Dizem :”Você também ? Você também”. Querem casar, mas este é detalhe de um direito líquido e certo – o de viver junto. É uma escolha que você faz”.

“Toda esse negócio de nome errado é engraçado. Fiz uma cartilha sobre trabalho infantil. “Ser contra o trabalho infantil”. Disse: “Pelo amor de Deus, não façam este negócio de ser contra o trabalho infantil! “. Trabalho dignifica o homem! Você diz a um cara da roça,no interior: “Sou contra que o teu filho trabalhe…” E ele dirá assim: “Você quer que eu crie malandro ? “. Sou contra é a exploração de mão-de-obra infantil! É este o nome da coisa! Mas os que são favoráveis à luta contra o trabalho infantil não admitem. Querem botar: “Sou contra o trabalho infantil”. Mas aí complica”.

Você foi duramente criticado porque pediu e recebeu do governo indenização por ter sido perseguido durante o regime militar.As críticas ainda irritam você ?

Ziraldo: “Profundamente! Claro! Como é que vou explicar esta história ? Nenhum de nós – de nosso grupo – pediu esta indenização. O Sindicato dos Jornalistas naquela época era muito atuante. O filho de Nélson Rodrigues convocou o departamento jurídico do Sindicato dos Jornalistas para preparar,com auxílio do Marcelo Cerqueira e do Barbosa Lima Sobrinho – que tinha sido avaliador deste projeto – a relação de jornalistas que tinham tido jornais fechados. Elencou um monte e nós entramos. O Departamento Jurídico pediu que a gente anexasse documentos. Fomos até Niterói, para ver o que a polícia falava da gente. Pegamos todo o dossiê contra nós, a relação das prisões que tivemos, as bombas no Pasquim. Alguém montou tudo isso com a ajuda do Departamento Jurídico e foi entregue. E eu nunca mais falei disso na minha vida! “.

“Começou uma crítica- até de amigos da gente – muito violenta. Alguns de nós renunciaram a esta indenização. Mas eu não me interessei mesmo. Nunca perdi emprego por causa do golpe militar e da minha luta. Perdi as coisas que eu fazia :perdi a Turma do Pererê – a revistinha que eu fazia-, perdi O Pasquim,perdi o Cartum JS. Foram fechando as coisas que eu fazia, fora as prisões que a gente teve,fora as bombas no Pasquim,fora as ameaças”.

“Dezenove anos depois, recebo um telefonema dizendo: “Você vai fazer indenizado”. Ah,mas este negócio está rolando ? Falei: “Oh, que coisa boa…Se é um direito que tenho, manda vir”. O relator do meu processo descreveu um herói tão maravilhoso…Se você visse o relatório justificando minha indenização, eu não sabia que eu era esse herói…Fui aplaudido.Quando fui saindo, numa entrevista, perguntaram o que é que eu estava achando. Eu disse: “Ah, um bando de bundas moles estão falando mal da gente.Porque, na hora da briga mesmo, ninguém se comprometeu. Agora vêm chamar a gente de canalha!”. Eu disse: “Ah,manda esses caras….”. Virou manchete de jornal. Virei um “canalha”. Quero dizer a você o seguinte: eu tinha de receber um milhão e duzentos, porque o processo corre desde o dia em que ele entra na pauta. Como ganhei a indenização, eles teriam de me pagar todos os atrasados de dezenove anos. Não recebi. Ninguém recebeu”.

“Determinou-se que o que eu ganhava na época equivalia a ganhar quatro mil reais hoje. Então, há cerca de dez,doze meses recebo quatro mil reais por mês. Com mil de aposentadoria do INSS, sou um aposentado aos 78 anos de idade de cinco mil reais por mês (…)Eu mereço,eu mereço. Mereço até mais do que isso. Mas nunca pedi, porque não gosto de ficar pedindo as coisas. Mas,se me pagarem este um milhão de duzentos mil de atrasados, vou aceitar. Eu treriade devolver pro Tesouro Nacional. Não tenho nem como devolver.Não existe uma forma jurídica de devolver este dinheiro, a não ser que eu dê para uma instituição de caridade”.

Posted by geneton at 10:33 AM