fevereiro 25, 2015

BRASIL ESPERA POSIÇÃO DO STF E DO SENADO SOBRE A LEI DA TESOURA ESTÚPIDA

Um assunto sumiu do noticiário, mas não deve ser esquecido jamais, sob hipótese alguma, porque afeta diretamente a liberdade de expressão: a Lei da Biografias.

Que se saiba, o Brasil é o único país do mundo em que biografados com vocação policialesca, órfãos de Adolf Hitler, podem fazer o papel de censores e simplesmente proibir previamente a publicação de um livro – ou, então, mandar os exemplares já impressos para a fogueira. A citação ao nome de Hitler não é gratuita: a visão de livros ardendo em fogueiras ou recolhidos das prateleiras por policiais provoca este sentimento.

Há um argumento pior ainda: gente que diz que biógrafos só querem ganhar dinheiro. Deus do céu. Quem faz esta "acusação" é gente que mede os valores da vida e da civilização com uma nota de cem reais na mão. Ou seja: nem merece ser levada a sério.

É patético ter de repetir: em sociedades democráticas, é livre a circulação de informação. Ninguém pode exercer a censura prévia. Ninguém.

Já se disse um trilhão de vezes, não custa nada repetir: em qualquer país civilizado do mundo, quem se sente prejudicado por uma publicação recorre à Justiça. Ponto. Se algum abuso for cometido, a Justiça sabe o que fazer. Funciona assim há séculos nas democracias.

Mas não neste país: aqui, biografados e herdeiros que tenham vocação censória vestem, lépidos, o uniforme nazista e tratam de cumprir o tristíssimo papel de censores. Neste momento, o Brasil parece uma republiqueta de décima-oitava categoria.

Deus do céu: basta ver as prateleiras de livrarias em qualquer país. Estão entulhadas de biografias. Se editores e leitores de países como Inglaterra, França, Alemanha, Estados Unidos (e centenas de outros) ouvissem alguém lhes falar a sério sobre censura prévia exercida por biografados e herdeiros, rolariam no chão de tanto rir diante de tamanha estupidez. De fato: o tema seria risível, se não representasse uma tragédia.

Pergunta-se: todos os países democráticos estão errados e só o Brasil é que acertou? Óbvio que não.

Mas nem tudo é estupidez. Como se sabe, a Câmara dos Deputados aprovou o fim da LTE – ou seja: a Lei da Tesoura Estúpida (eis aí um nome justo para tal aberração). O projeto seguiu para o Senado, que terá a grande chance de tomar uma providência de fato merecedora de aplausos nacionais. Mas as coisas andam em ritmo de tartaruga pelos corredores legislativos.

O Brasil espera o pronunciamento dos ilustríssimos senadores. Não haveria uma maneira de apressar a tramitação?

Em outra instância, uma ação que declara inconstitucional a Lei da Tesoura Estúpida corre no Supremo Tribunal Federal.

A ministra Cármen Lúcia – relatora do processo que joga no lixo esta aberração – não se pronunciou ainda. Faz meses e meses que se espera que ela dê sinal de vida.

Por ironia, ao se pronunciar sobre uma lei que trata exatamente de biografias, a ministra terá diante de si uma escolha dramática: se fizer coro com os obscurantistas que defendem censura prévia, estará jogando a própria biografia no lixo. O que se espera, claro, é que a ministra jogue no lixo não a própria biografia, mas o artigo que transforma biografados e herdeiros em censores.

Ao que se sabe, a ministra é uma figura acima de qualquer suspeita. De qualquer maneira, uma notícia preocupantíssima foi publicada, faz algum tempo: a ministra recebeu Roberto Carlos, bom cantor travestido de censor de biografias, em uma audiência. É preocupante. O que Carlos terá dito à ministra? Imagina-se que tenha feito "lobby" a favor da escuridão. É o que tem feito desde que teve a péssima ideia de virar militante da tesoura.

(Não faço estes comentários com alegria: RC é um grande cantor. Como letrista, há controvérsias: aquele verso "meu cachorro me sorriu latindo" é indefensável sob qualquer critério: estético, ético, veterinário, filosófico, artístico, musical, sinfônico, sociológico ou antropológico).

De volta às biografias: é tristíssimo que Roberto Carlos tenha manchado para sempre a própria biografia com esta cruzada obscurantista.

Pergunta-se: quantas audiências a ministra concedeu aos que consideram esta lei uma estupidez indefensável?

É estupidamente simples: se o Brasil finalmente jogar no lixo a Lei da Tesoura Estúpida, o país dará um passo adiante no difícil, esburacado e tortuoso caminho rumo à civilização. Incrivelmente, o primeiro grande passo neste sentido foi dado pela Câmara dos Deputados. Nem tudo se perdeu!

Posted by geneton at 11:37 PM

fevereiro 21, 2015

PAULO FRANCIS, O LOBO HIDRÓFOBO, DISPARA: PRESIDENTE AMERICANO É "AMÁVEL, AFÁVEL, SORRIDENTE E INCOMPETENTE" ( É NESTE DOMINGO, ÁS 23:30, NO CANAL BRASIL )

Paulo Francis dá uma longa entrevista ao histórico programa ABERTURA, em Nova Iorque, para dizer, entre outras coisas, que o presidente americano Jimmy Carter era "amável, afável, sorridente e incompetente".
Aviso aos navegantes: a entrevista vai ao ar neste domingo, às 23:30, no Canal Brasil, dentro da série de reprises especiais do ABERTURA, programa que "marcou época" na extinta TV Tupi, porque reunia inteligência e ousadia, com elenco de "convidados" notáveis: gente como Glauber Rocha, João Saldanha, Nélson Rodrigues, Darcy Ribeiro, Henfil etc.etc.etc.

Recém-saído da faculdade, eu acompanhava com toda atenção, nas noites de domingo, no Recife, as edições do programa que a TV Tupi levava ao ar. Trinta e cinco anos depois, para minha sincera surpresa, fui convidado pelo produtor do programa ABERTURA original - o homem de tevê Carlos Alberto Vizeu - para comentar as reprises. Não é minha especialidade ( em jornalismo, a única coisa que ainda me interessa é fazer perguntas em entrevistas ) mas terminei topando. Devo dizer que é uma honra ter o nome ligado, ainda que tardiamente, ao programa.
Não quero dar uma de "saudosista", mas cada reprise do ABERTURA reacende um sentimento inevitável: como o Brasil se mediocrizou! Deus do céu! Descontadas as exceções de praxe, uma espessa onda de mediocridade parece ter engolfado a música, o cinema, a literatura, o jornalismo, a política. A Conspiração Mundial da Mediocridade venceu.
Ali pela segunda metade dos anos noventa, Paulo Francis dizia que se sentia "tecnicamente morto" diante do triunfo da vulgaridade. Hoje, certamente ele diria que ficaria satisfeito em se internar voluntariamente no setor de múmias do Museu Britânico, para escapar dos respingos da Grande Onda Medíocre.
Vale ouvir, então, o que o "Lobo Hidrófobo" disse ao ABERTURA.
Virou um enorme lugar-comum dizer que Francis faz falta. E faz - muitíssima! Hoje, ele estaria certamente dizendo de Obama o que disse de Jimmy Carter.
Enquanto a reprise do ABERTURA não vai ao ar, reviro meus arquivos virtuais tão não implacáveis. Eis o texto completo de uma das entrevistas que fiz com ele ( é nesta entrevista que ele confessa que estava se achando parecido com um "lobo hidrófobo...):
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HORA DA SAUDADE. PAULO FRANCIS, RIO, 1994: RELATO COMPLETO DE UM ENCONTRO COM O "LOBO HIDRÓFOBO"
RIO - A presença de Paulo Francis intimida, porque ele é um caso clássico de "monstro sagrado" do jornalismo. Quando Jack Nickolson, no papel de âncora de telejornal de rede, vai visitar um escritório regional provoca em torno de si uma onda de silêncio reverente pontuado por olhares inquisidores,no momento em que, superior, entra na redação.A cena é do filme "Nos Bastidores da Notícia".
Paulo Francis não chega a tanto, mas, quando sai, deixa ecos atrás de si. Fiz uma entrevista com ele para o "Fantástico". Um dia depois do programa,Paulo Francis foi à redação, para, civilizadamente, dizer que tinha gostado do material. Fez uma cópia da entrevista em VHS. Ia levar para Nova Iorque. Segundos depois da saída de Francis, ouvi comentários de todo tipo. Um amigo, brincalhão, simpatizante do PT,saiu-se com essa :"Ok, agora só falta você fazer matéria com o outro Paulo - o Maluf" - uma referência enviesada às críticas contundentes que Paulo Francis passou anos fazendo à administração Erundina na Prefeitura de São Paulo. Outro amigo veio correndo me cumprimentar, brincalhão: "Gostei de ver ! Paulo Francis veio bater continência...". Luiz Petry, excelente poeta que nas horas vagas é editor do Fantástico, confessa, ao lado, que aprendeu com Paulo Francis a escrever em estilo direto, com frases curtas. O que mais um jornalista pode querer,além de espalhar influências pelas redações ?
Hélio Fernandes rugiu na Tribuna da Imprensa: "Melancólica, humilhante, ridícula e até vergonhosa a apresentação de Paulo Francis no Fantástico. É natural que ele queira iludir os espectadores para vender o seu livreco". Ninguém fica indiferente à fera.
Ao contrário de todas as aparências, Paulo Francis não late nem morde. É um "doce de pessoa" - dizem os que convivem profissionalmente com ele. Bem humorado, brincalhão, solta gargalhadas quando conta piadas sobre a aparição do "horto florestal" de Lílian Ramos no camarote de Itamar Franco, no Sambódromo. Parece sinceramente espantado quando lhe faço um breve relato das reações raivosas que provocou em Pernambuco quando deu uma pichada no suposto provincianismo do então ministro Gustavo Krause.Disse que depois elogiou a posição correta de Krause numa votação no Congresso. Além de tudo,chamou o Nordeste de região "desgraçada" - não os nordestinos.
"Desgraçado",entre outras coisas, quer dizer "muito pobre,miserável,indigente", informa o Dicionário Aurélio, nosso pai. Era,certamente,o que Paulo Francis queria dizer sobre o Nordeste. Por acaso é mentira ? Num comentário bem-humorado feito ao jornalista pernambucano George Moura - que o escolheu como tema de uma tese universitária - Francis disse,sorrindo,que o filme "Os Imperdoáveis" é sucesso em Pernambuco....
Provincianismo existe em Pernambuco e em Nova Iorque. Pausa para uma digressão na primeira pessoa do singular. Há pouco,convidado a escrever um punhado de linhas sobre um livro escrito, impresso e lançado no Recife, vi meu texto, adulterado, ser trucidado por erros de concordância. Pensei em comprar uma página inteira para dizer, em matéria paga, que Pernambuco é o único lugar do mundo em que você é convidado a fazer um elogio a um livro e o que acontece ? Suas palavras são reescritas, desarrumadas,distorcidas e, finalmente, impressas na orelha do livro. Pode existir caso maior de provincianismo ? Isso também é sintoma de desgraça. Não quer dizer que se deva condenar o Nordeste a arder no quinto dos infernos. Ponto. Parágrafo.
Francis começa a falar. Vai logo escolhendo um político pernambucano entre os pouquíssimos de quem seria capaz de comprar um carro usado. É sinal de armistício com Pernambuco ? Pode ser."Bandeira branca,amor".
Francis diz estar plenamente convencido de que não tem influência alguma sobre o comportamento dos outros.Mas tem, sim. Ninguém precisa concordar com o que ele diz, é claro. Mas a gente aprende com Francis a -pelo menos- tentar ser independente, a marcar posições,a não avalizar a mediocridade, a não seguir o rebanho geral com a docilidade de um boi zebu cabisbaixo a caminho do matadouro, a não referendar as imposturas dos poderosos. Ok, nem precisa tanto. Aprender com Paulo Francis a tentar escrever simples, direto, já é uma grande coisa. É tudo o que um jornalista deve querer.
O lobo vai falar. Senhoras e senhores,com vocês, Paulo Francis, o lobo hidrófobo - de volta às paradas de sucesso nas páginas do livro recém-lançado "Trinta Anos Esta Noite", um texto que é um achado, porque mistura em doses certas a memória pessoal com a memória nacional.
1-De qual dos políticos brasileiros você compraria um carro usado ?
Francis - De vários.Tasso Jereissati, Fernando Henrique Cardoso - a quem dou um crédito de confiança grande, porque sei que é uma pessoa honesta,que vem fazendo o melhor que pode.Como é o nome daquele prefeito do Recife ? Jarbas Vasconcelos.Três já bastam.
2-Você é frequentemente criticado porque teria se transformado de revolucionário em conservador.Você aceita essas críticas ?
Francis - Passei de criança a adulto.Eu era uma criança que confundia desejo com realidade.Eu tinha certos desejos -que eram fraternais com relação à minha situação privilegiada e à situação desprivilegiada de outras pessoas.Mas descobri,ao ver o mundo aí fora,que a maneira de resolver esses problemas não é a maneira pregada pelos principais grupos populares aqui do Brasil.A grande transformação foi esta.Vi que os países ricos são países que se abrem para o capital e fazem iniciativa privada.Como é que você vai empregar os brasileiros sem iniciativa privada ? Vai fazer de todo mundo funcionário público ? As repartições públicas já estão falindo ! E com esses milhões que estão aí o que é que você vai fazer ? É preciso abrir desde botequim a fabrica.Isso só com capital privado !
3-Você confessa hoje que tem simpatias pela social-democracia.O caminho para o Brasil pode ser esse ?
Francis - Certamente.A social democracia é imperfeita -sem dúvida- mas é a coisa mais justa que há.Porque garante o mínimo necessário a quem não pode lutar pela sobrevivência e,ao mesmo tempo,permite que quem pode se expanda sem ditadura sem nada.Veja os países mais avançados do mundo : sÃo os escandinavos.A própria Alemanha é uma social-democracia,a França ... E os Estados Unidos são uma social democracia - desorganizada,mas,se você falar assim nos Estados Unidos,eles acham que você é comunista.O que tem de auxílio às pessoas necessitadas é igual a qualquer social-democracia européia.
4-Você se considera o último representante de um tipo de jornalista que tem opinião própria e ocupa espaço privilegiado na grande imprensa ? Hoje,você é um caso único no Brasil...
Francis - Há vários outros que estão por aí.A minha tendência -escrever,discutir,ter opiniões - caiu muito de moda.A tendência hoje é fazer tudo curto,tudo pequenininho - mas trabalho também no curto e no pequenininho.Tanto é que faço comentário de um minuto na televisão. Mas há um desequilíbrio hoje entre as duas tendências.O período da minha juventude foi um grande período jornalístico,com Carlos Lacerda,Joel Silveira, Moacyr Werneck de Castro,Paulo Silveira, Octavio Malta - são incontáveis.Todos eram pessoas com opiniões definidas que se expressavam.Não estou nem julgando tendências.Só estou falando da qualidade.Hoje,na imprensa brasileira,há uma falta grande de gente que discute e dá opiniões.Eu de fato sou um dos que vai contra a corrente.
5-Quando publicou o romance Cabeça de Papel,você ficou deprimido com a falta de repercussÃo cultural aqui no Brasil.Isso ainda assusta você ?
Francis - Não. Resolvi botar o freio nos dentes e ir em frente(rindo).Você deve fazer aquilo que quer."Trinta Anos esta Noite" é um livro que senti muito prazer em escrever.Afinal de contas,1964 foi o acontecimento decisivo na minha geração.Eu tinha a idade de Cristo - 33 anos.O mundo que eu imaginava era completamente diferente do que viria a acontecer.As gerações mais jovens - que não têm idéia do que foi 1964 -sofreram sem saber uma influência profunda do acontecimento.Por isso,eu quis tornar público o meu depoimento,porque há poucas histórias de 1964. Não estou dizendo que a minha história seja a única.Mas é uma versão da história que eu conheço e testemunhei. Não pretendo saber o que estava na cabeça de A,B ou C.
6-Como é que você espera ver o Brasil nesses próximos anos ?
Francis - Eu li em sete de fevereiro de 1994 uma nota surpreendente -para mim,pelo menos - no Wall Street Journal : em 1992 e 1993,entraram mais de 50 bilhões de dolares no Brasil.Você sabe a que isso se deve ? A pequenas entreaberturas que o senhor Fernando Collor fez quando presidente,como baixar tarifas, por exemplo.Se o Brasil abrir,entram 500 bilhões de dólares ! Vai haver emprego e vai haver prosperidade.É essa a minha esperança.
7-Em qual dos atuais presidenciáveis você apostaria uma ficha ?
Francis - Não cheguei ainda a uma conclusão. Certamente não apostaria em Lula. Não há a menor dúvida, porque ele quer um retrocesso quando fala em reestatizar. O maior problema brasileiro são as estatais ! A grande dívida interna brasileira,a razão central da inflação - não a única - é esta máquina estatal que devora os recursos e toma todo o capital.Você não pode abrir uma empresa porque os juros estão na lua ! Pela constituição,o governo nÃo pode imprimir dinheiro. Então,ele tem de tomar dinheiro emprestado.Para emprestar a um governo desse,você tem de emprestar a juros altíssimos.Quanto mais diminui o dinheiro,mais aumentam os juros.
8-E se João Goulart tivesse resistido em 1964 ?
Francis - Você teria certamente o início de uma guerra civil, mas,dado o temperamento brasileiro,haveria um acordo,um armistício dos militares.Talvez se convocasse uma eleição.Nós estávamos a um ano de uma eleição. A verdade era essa.Teríamos com toda certeza uma guerra civil, porque Jango tinha amplas condições de resistência. Quanto à guerra civil,tenho certeza. Quanto ao acordo,estou especulando - haveria um acordo entre os militares para o cessar-fogo. Haveria uma eleição que estava prevista para o ano seguinte,onde Carlos Lacerda defrontaria Juscelino Kubitscheck.
9-Jango estava mal informado sobre a conspiração ?
Francis - A meu ver,estava totalmente desinformado,porque ele nÃo tinha uma assessoria capaz,o que é um problema aliás muito de político brasileiro.A assessoria militar de Jango era especialmente fraca.Eu me refiro a Assis Brasil - que era um homem de grande coragem pessoal,general corajoso pra chuchu,mas um homem entediado.Não informava Jango da disposição de outros generais,como deveria informar.
Vou fazer uma revelação a você : participei como espectador de uma reuniÃo -nem contei no livro,é uma coisa confidencial,nÃo posso nem dar o nome das pessoas.Mas participei de uma reunuiÃo de generais
que me mostrou -a mim e a outros civis- como os quadros do Terceiro Exército que tinham empossado Jango estavam sendo pouco a pouco substituídos por generais hostis ao presidente.
10-Quem foi a vedete que ia ver João Goulart no exílio ?
Francis - Há uma frase em inglês que diz:"Kiss and tell"-beijar e contar.Sou inteiramente contra essa frase....(rindo).
11-Qual foi a melhor e a pior herança deixada por 1964 ?
Francis - A melhor foi a do crescimento econômico.Pela estrutura montada no governo Castelo Branco pelo senhor Roberto Campos e pelo senhor Gouveia de Bulhões,o Brasil nos períodos seguintes -no governo Médici- cresceu como nunca na história.A pior foi a despolitização total do nosso povo- uma espécie de névoa que caiu sobre a sociedade civil brasileira e arruinou várias gerações que poderiam ter sido líderes políticos e não vieram a ser.Hoje,estamos aprendendo duramente com esses líderes de quinta categoria que temos aí
12-Você diz que quando era criança parecia um cão hidrófobo .E hoje, você se parece com o quê ?
Francis - Que tal um lobo hidrófobo ?
13-O fato de ser imitado em programas de humor incomoda voce ?
Francis - De jeito nenhum.Acho que se você é uma figura publica - como e o caso de um jornalista de televisão - você tem de estar preparado para tudo.A imitação e a mais expressiva forma de lisonja - esta e que e a verdade.
14-Qual o personagem mais interessante da história recente do Brasil ?
Francis - Acho que Getúlio Vargas inventou o Brasil moderno,o Brasil uniformizado.A influência de Getúlio Vargas é tão positiva quanto nefasta. Vargas é contraditório. O sujeito mais difamado do Brasil é um homem que participou de todas as decisões econômicas importantes do Brasil. Chama-se Roberto de Oliveira Campos - que indiscutivelmente é uma presença intelectual fortíssima na vida brasileira,mas negada pelos seus inúmeros inimigos,tanto quando Getúlio Vargas foi uma presença política muito mais forte do que qualquer outra pessoa no nosso tempo.
15-Quando é afinal que o Brasil vai ser um pais rico e feliz ?
Francis - O Brasil só não é rico porque não quer.
Viajei para o Brasil com o diretor de uma grande empresa americana - que adora o nosso país.Vai se aposentar aqui.Fica estupefacto com as chances que nós perdemos de ficarmos ricos.Temos de vencer uma certa infantilidade que há no nosso temperamento,uma confusÃo de desejo com realidade.Mas felicidade é um conceito mais complexo.Ser rico não significa necessariamente ser feliz.Mas é claro que ficar rico ajuda bastante.O Brasil tem um dever consigo próprio de eliminar as necessidades básicas do ser humano - e o Brasil não cumpre isso,os governos não cumprem isso,a nossa sociedade não cumpre isso".

Posted by geneton at 01:32 PM

fevereiro 19, 2015

UM CIENTISTA ANUNCIA QUE VAI MORRER

Em artigo publicado no New York Times, o professor Oliver Sacks
- neurologista que se consagrou como escritor - anunciou que vai morrer em breve.
Aos 81 anos, acaba de receber diagnóstico: metástase. Como ele próprio informa: um câncer que já não pode ser detido atingiu o fígado.
Disse que, daqui por diante, já não verá os telejornais da noite, já não se interessará por discussões políticas, já não acompanhará os debates sobre o aquecimento global ou a crescente desigualdade ou o Oriente Médio.


Ainda se preocupa profundamente com tais temas, mas eles "pertencem ao futuro". Sacks já não pode devotar a eles o tempo que lhe resta. Uma nota de otimismo: o esperançoso Sacks carrega a sensação de que o futuro estará nas "boas mãos" dos jovens talentosos de hoje. Neste rol, ele inclui os jovens médicos que fizeram a biópsia e lhe transmitiram a notícia que, obviamente, ele não queria ouvir.
Por ora, o que Sacks quer "é aprofundar as amizades, dizer adeus àqueles a quem amo, escrever mais, viajar - se tiver força, atingir novos níveis de entendimento".
Por fim, arremata:
"Não haverá alguém como cada um de nós quando partirmos, assim como jamais houve alguém igual a outro. Quando alguém morre não poderá ser substituído. Deixa vazios que não podem ser preenchidos, porque este é o destino genético dos seres humanos: o de serem indivíduos únicos, encontrar seus próprios caminhos, viver suas próprias vidas e morrer suas próprias mortes (...) Não posso fingir que não estou com medo. Mas meu sentimento predominante é de gratidão".
( Aqui, o artigo, no New York Times de hoje:
http://goo.gl/v6C3mv )

Posted by geneton at 01:27 PM

UM CIENTISTA ANUNCIA QUE VAI MORRER

Em artigo publicado no New York Times, o professor Oliver Sacks
- neurologista que se consagrou como escritor - anunciou que vai morrer em breve.
Aos 81 anos, acaba de receber diagnóstico: metástase. Como ele próprio informa: um câncer que já não pode ser detido atingiu o fígado.
Disse que, daqui por diante, já não verá os telejornais da noite, já não se interessará por discussões políticas, já não acompanhará os debates sobre o aquecimento global ou a crescente desigualdade ou o Oriente Médio.


Ainda se preocupa profundamente com tais temas, mas eles "pertencem ao futuro". Sacks já não pode devotar a eles o tempo que lhe resta. Uma nota de otimismo: o esperançoso Sacks carrega a sensação de que o futuro estará nas "boas mãos" dos jovens talentosos de hoje. Neste rol, ele inclui os jovens médicos que fizeram a biópsia e lhe transmitiram a notícia que, obviamente, ele não queria ouvir.
Por ora, o que Sacks quer "é aprofundar as amizades, dizer adeus àqueles a quem amo, escrever mais, viajar - se tiver força, atingir novos níveis de entendimento".
Por fim, arremata:
"Não haverá alguém como cada um de nós quando partirmos, assim como jamais houve alguém igual a outro. Quando alguém morre não poderá ser substituído. Deixa vazios que não podem ser preenchidos, porque este é o destino genético dos seres humanos: o de serem indivíduos únicos, encontrar seus próprios caminhos, viver suas próprias vidas e morrer suas próprias mortes (...) Não posso fingir que não estou com medo. Mas meu sentimento predominante é de gratidão".
( Aqui, o artigo, no New York Times de hoje:
http://goo.gl/v6C3mv )

Posted by geneton at 01:27 PM

fevereiro 18, 2015

INFORMA O DEPARTAMENTO DE ESTATÍSTICAS CARNAVALESCAS

Deu trabalho, mas consegui fazer um cálculo rápido: se os jornais, rádios, TVs e sites recebessem uma multa a cada vez que a expressão "arrasta multidão" fosse pronunciada ou publicada na cobertura do carnaval, o dinheiro arrecadado seria suficiente para recuperar toda a grana roubada da Petrobrás e ainda sobraria verba para construir 34 ferrovias, multiplicar por quatro a capacidade de armazenamento d´água em São Paulo, equipar 435 hospitais, furar 30 mil poços no sertão nordestino, modernizar 58 portos e abrir uma estrada supermoderna ligando o Oiapoque ao Chuí. A conta é confiável.
O incrível é que ainda sobraria dinheiro para contratar uma equipe internacional de juristas de altíssimo nível para redigir uma lei que tornasse, para sempre, crime inafiançável o uso das expressões "samba no pé" e "a festa não tem hora para acabar".
PS: Por falar em carnaval: a apuração do tediosíssimo desfile das escolas de samba começa já, já. A primeira nota sai aqui e agora:
dez, nota dez para o fim do carnaval!

Posted by geneton at 01:28 PM

fevereiro 15, 2015

E, EM MEIO A UM CALOR DE MIL DESERTOS, O SOM DE UM "VENTO NORDESTE"....

Pequeno intervalo musical. Para matar a saudade: "Vento Nordeste", na bela interpretação de Terezinha de Jesus.
"Viaja o vento Nordeste / cavalo de meu segredo / Se estás comigo, distraio / Se vais, eu morro de medo".
Bela música de Sueli Costa, bela letra de Abel Silva.
Saudades nordestinas, saudades nordestinas:
https://www.youtube.com/watch?v=wTBqROsaXAU

Posted by geneton at 01:30 PM

A MÁQUINA DE FABRICAR PALAVRAS: O "TELEPROMPTER"

Navegações pelo Youtube: termino encontrando uma matéria antiga de Marcelo Tas, em que ele mostra como é possível fazer qualquer pessoa dizer qualquer coisa de maneira "convincente" diante de uma câmera. Graças a uma "máquina" chamada teleprompter, a mulata Globeleza faz discurso firme sobre os meandros da globalização da economia e a loura do Tchan pontifica corretamente sobre as leis da física....
Tas faz uma pergunta: é possível "fabricar" um político?
Munido de um fonoaudiólogo, uma maquiadora e uma figurinista, ele vai para a rua, com um teleprompter, para fazer o teste: é possível transformar, "num passe de mágica", qualquer transeunte num suposto candidato, capaz de dizer coisas com razoável firmeza diante de uma câmera?
É,sim.
Eis aí um tema que certamente renderia um documentário interessantíssimo. O personagem principal, claro, seria ela - A Incrível Máquina de Fabricar Palavras.
Divertido:
http://goo.gl/RY2FcI

Posted by geneton at 01:29 PM