novembro 29, 2008

CENA REAL: O AVIÃO AMEAÇA CAIR. O PILOTO TENTA VOLTAR AO AEROPORTO DE ORIGEM. A BORDO, O POETA ESCREVE UM POEMA: "AGORA, TENS APENAS UMA HORA/PARA APAGAR O QUANTO ANTES A CARRANCA DA MORTE/E AFIRMAR TUA MILITÂNCIA PELA VIDA"

AQUI:
http://www.geneton.com.br/archives/000294.html

Posted by geneton2 at 12:17 PM

ATENÇÃO, SENHORES PASSAGEIROS. PANE NUMA TURBINA. O AVIÃO PODE CAIR NO OCEANO. O QUE O POETA FAZ NUMA HORA DESSAS ? UM POEMA !

É tiro e queda: navegações pelo Planeta Blog ( já, já, chegará o dia em que o número de blogueiros superará o de leitores) podem trazer recompensas inesperadas. O internauta se transforma num Pedro Álvares Cabral: sem esperar, pode dar com os costados num porto seguro.

Uma ressalva: por uma questão de justiça, deve ficar consignada na ata a constatação de que o lixo internético é imenso, enorme, paquidérmico. Fiz os cálculos: se pudessem ser armazenadas em sacos de lixo, as idiotices escritas por antas desocupadas - entre as quais, listam-se celebridades e subcelebridades de todos os calibres possíveis e imagináveis - seriam suficientes para encher quatro mil e oitocentos e cinquenta caminhões-caçamba por hora.

Mas há, como sempre, o reverso da moeda: com uma frequência maior do que se imagina, pepitas reluzem no Planeta Blog.

Um exemplo, entre centenas: o blog de Homero Fonseca, jornalista pernambucano, publica belos versos, escritos por um poeta dominicano sob circunstâncias dramáticas: o avião em que o poeta fazia uma viagem do Recife para Miami sofre uma pane sobre o Oceano. O que fazer numa situação dessas ?

Com a palavra, Homero Fonseca & o poeta que escapou mas que, ainda que morresse, teria sido salvo pela poesia (http://www3.interblogs.com.br/homerofonseca/) :


"Rei Berroa, 59 anos, poeta dominicano, professor na George Mason University no estado da Virginia, EUA, regressava do Recife para Miami, após participar da Fliporto, domingo 9 de novembro, quando o avião em que viajava sofreu uma pane numa turbina e teve de retornar uma hora depois de estar sobrevoando o Atlântico. Foi uma hora de pânico, choro e reza entre os passageiros. O poeta, entretanto, resolveu escrever um poema sobre aquele momento extremo que estava vivendo. Foi uma atitude verdadeiramente poética. O poema me comoveu, como raramente me ocorre com a poesia contemporânea. Transcrevo-o a seguir, assim como a tradução que intentei, para a qual tive a colaboração em forma de mirada crítica de Eduardo César Maia, cabendo-me, entretanto, toda a responsabilidade pelo eventual resultado pífio.

----------------------- QUE FAZER
SE CANCELAM TEU VÔO
NO MEINHO DO ATLÂNTICO E ESTÁS
NO AR A NOVE MIL METROS DA CRISTA DAS ONDAS


O primeiro deve ser que de nada serve
preocupar-te nessas circunstâncias.
De nada serve rezar
a deuses que estão sempre tão distantes
quando se trata de nossa frágil
humanidade cheia de incertezas e esperanças.


Que nunca te surpreenda o desalento
quando sintas que tua existência se encontra ameaçada.

Ao contrário, tens que mirar fixamente a branca
morte no umbigo, arrancar-lhe
seus sons pavorosos e ousadia osteoporósica.
Depois, sopra com força em suas narinas, até
que, resfolegante de raiva, ela se estilhace em mil pedaços
e te deixe tranqüilo nesse transe
quase último de tua enteléquia.

Agora tens apenas uma hora
para apagar o quanto antes a carranca da morte
e afirmar tua militância pela vida.

Logo tens que olhar ao redor e sorrir
aos que contigo abraçam esta hora
em que deslizas nesse vôo do destino
nas mãos do piloto que não notaste antes
e recordas todos esses anos
em que a vida foi tão generosa com teus anseios
e sabes que tens vivido como sempre quiseste
pois deste asas feitas de palavras aos teus desejos
e alimentaste os sonhos de outros em tua casa,
onde Ana e Olívia amanhã se queixarão
da desordem em que deixaste tua mesa
e de todos esses livros em projeto
que ninguém jamais escreverá,
nem mesmo teus irmãos, teus amigos, os alunos e colegas

inclusive os que em ti talvez
algo alguma vez puderam invejar
e por isso é normal que te acusassem
pois talvez tivessem medo da verdade
e viravam o rosto cada vez que algum entre vocês
denunciava falsidades
e celebrava os mais vulneráveis
ante a mesquinhez do prepotente que brande
sua insegurança sobre o futuro dos homens.


Lembra-te de que só se atiram pedras
na árvore que dá frutos.

Por isso, agora,
nesses preciosos três mil e seiscentos segundos
em que, apesar de ti, regressas ao porto de partida
e todas as lembranças te golpeiam
de repente na memória e o que vês
no outro lado da janela do avião não são
nada mais que brancos cúmulos, nuvens
feitas de consciência e alegrias prateadas,

agora mesmo, te dizias, só importa
que amanhã será outro dia e estarás
ou em pequenos pedaços na barriga
de alguns tubarões não fictícios do Atlântico
ou na internet
descrevendo a teus amigos tua odisséia
um nove de novembro a nove mil
metros da crista das ondas
no vôo nove oitenta do Recife a Miami.


Se é verdade que esta é tua hora,
deves seguir escrevendo com lápis e papel
e que a morte te flagre entregue
à dona de todas tuas idades e atenções,
à tua amiga, amante e companheira,
tua senhora, a Poesia.

Posted by geneton at 11:49 AM

novembro 28, 2008

MENINOS, EU VI. A NOITE EM QUE NORMAN MAILER DECRETOU O FIM DE UMA ERA : A "CULTURA LITERÁRIA" DEU LUGAR À "CULTURA TELEVISIVA"

AQUI:
http://www.geneton.com.br/archives/000174.html

Posted by geneton2 at 12:05 PM

NOSSA SENHORA DO PERPÉTUO ESPANTO, ROGAI POR NÓS

1
Ah, o indizível tédio. Quando um desses Profetas do Apocalipse previam o fim da imprensa escrita, eu vos confesso que reagia com o meu melhor sorriso de desdém.

2
Que é assim: uma ligeira contração na interseção esquerda do lábio superior com o inferior. Mas minha descrença nas profecias sobre o fim do jornal impresso foi atropelada pelos fatos. Passei a conviver com uma dúvida inconfessável: quem sabe se os Profetas do Apocalipse não teriam razão?


3
Com o tempo , a dúvida se propagou, como um incêndio fora de controle, por minhas florestas interiores. Hoje, procuro com uma lanterna na mão um Guardião do Cálice Sagrado que possa, enfim, responder: se noventa e cinco por cento das notícias da primeira página já foram divulgadas na véspera pela TV e pela Internet, que papel caberá aos jornais, no futuro?

4
A geração habituada a trafegar na Infovia de Papel, como o locutor que vos fala, uma pré-múmia cinquentenária, consome jornais por hábito, mas os novos infornautas já não concedem tanta importância a esta superfície lisa e retangular que reinou, soberana, por décadas : a página de jornal. As telas dos computadores são a fonte que lhes mata a sede de informação.

5
Se tivesse a chance, eu perguntaria ao Guardião do Santo Graal : os jornais não estariam cavando a própria sepultura, ao repetir, acomodados, o que a gente já sabe desde a véspera ?

6
Por que será que há anos e anos todos dizem que os jornais devem investir pesadamente em grandes reportagens, em opinião qualificada, em "contextualização" dos fatos, mas ninguém põe em prática estas recomendações? É como se todos concordassem com o diagnóstico de um paciente, mas ninguém fizesse nada, nada, nada para lhe dar o remédio salvador.

7
Quanto a noviços autores dos livros: se o número de frequentadores de um blog bem visitado é invariavelmente superior ao de possíveis leitores de um livro, um autor novo certamente perguntará a seus botões : quem disse que vale a pena enfrentar a peneira das editoras, as edições mirradas, a distribuição difícil, a venda pingada, tudo em nome da fugaz glória de ver o nome impresso na capa de um livro exposto na quarta prateleira à esquerda de quem entra na livraria?
A tiragem média de um livro no Brasil é de três mil exemplares. Direitos autorais :dez por cento sobre o preço de capa. Distribuição: irregular. Repercussão : baixa. Ou nula.

8
Já se disse que o papel fica, a Internet se esvai. Mas quem disse que os arquivos digitais também não terão vida longa? Quem disse que os grandes arquivos da Internet não serão acessados daqui a cem anos?

9
Kurt Vonnegut dizia que era devoto de Nossa Senhora do Perpétuo Espanto. A revolução da Internet espalha espantos. Destrói certezas. Deixa no ar todas estas interrogações.
Um dia, Nossa Senhora do Perpétuo Espanto nos responderá.
A ela, haveremos de acender velas imaginárias a cada vez que a lista de perguntas-sem-respostas e dúvidas-sem-saída incomodar nossas frágeis certezas.

10
Palpiteiro amador, arrisco dizer que o livro-objeto não desaparecerá. É a maior invenção da humanidade.

( Em segundo lugar na lista das invenções, distante, vem a Coca-Cola. Em terceiro, os melhores parágrafos de "O Leopardo","A Montanha Mágica", "Quarup" e "A Pedra do Reino". Em quarto,o chocolate Diamante Negro. Em quinto, o disco Abbey Road. Em sexto, a visão de Veneza à noite, no inverno. Em sétimo, os olhos de Charlotte Rampling, nos anos setenta. Em oitavo, o poema "A Máquina do Mundo" (Carlos Drummond de Andrade). Em nono, o riso discreto de Scarlet Johansenn. Em décimo, a Internet, com chances reais de subir para o primeiro).

11
Como eu ia dizendo antes de ser interrompido por esta lista urgente, o livro há de resistir aos cataclismos internéticos, mas os jornais, tal como existem hoje, vão nadar, nadar, nadar, mas não chegarão à praia.

12
Ou mudam de rumo ou naufragam, quem sabe, ao som de uma orquestra, como o Titanic. Um dia, os arqueólogos do futuro mergulharão nos baús para mostrar ao mundo que aquele punhado de folhas amareladas já foi chamado de jornal.

Posted by geneton at 11:13 AM

novembro 27, 2008

A RECEITA DA FELICIDADE TERRENA


Se, por escassas vinte e quatro horas, todas as TVs do mundo parassem de ladrar; se todos os jornais e revistas de todas as cidades do planeta sumissem provisoriamente; se todos os blogs de todos os continentes saíssem do ar; se as editoras parassem de despejar a cota diária de lançamentos na livrarias; se todos os sites estancassem de repente; se todo mundo em todos os lugares fizesse um voto de silêncio planetário nem que fosse por um dia; se, enfim, todas estas maravilhas acontecessem diante de nossas retinas descrentes, o Paraíso estaria instalado nesta esfera esvoaçante também conhecida pela alcunha de Terra.

A receita da felicidade terrena é simples assim. Mas inalcançável.

Que prossiga a barulheira, então.

Posted by geneton at 12:31 PM

DONA IMPRENSA, AQUELA VELHA SENHORA, FOI AO MÉDICO. DIAGNÓSTICO: "A SENHORA SOFRE DE CM, CHATICE METASTÁTICA. MAS AINDA PODE SE SALVAR"

Jornalista: o grande, o irremovível, o intransigente, o impermeável, o indiscutível, o plenipotenciário inimigo da notícia.

Parece uma frase para impressionar leigos,mas é a mais cristalina verdade: o maior inimigo da notícia é o jornalista, sim!

É este o motivo que leva Dona Imprensa a padecer de uma doença grave: a CM (chatice metastática: já se espalhou por todos os órgãos).

Há exceções, claro. Mas quem já passou quinze minutos numa redação sabe que "jornalista" tido como eficiente não é aquele que reúne o melhor de suas forças para levar ao público histórias, cenas e personagens interessantes. Não ! Claro que não ! "Jornalista" de verdade é aquele que passa vinte e três horas por dia procurando um motivo para NÃO publicar uma história. Vive com uma espingarda imaginária nas mãos, pronto para disparar um petardo que ferirá de morte a primeira história interessante que passar pela frente.

As crianças não acreditarão, mas é exatamente assim que as redações funcionam.

.
"Jornalista" cria uma escala de valores absurda - que só existe na cabeça de jornalistas - para exterminar reportagens : "não vale", "não é nova", "já saiu em outro jornal", "qual é o gancho ?".

O "jornalista" acha que o leitor ou telespectador é um maníaco que lê todos os jornais, todas as revistas e vê todos os programas, para, depois, comparar um com o outro. Basta que uma história qualquer - por melhor que seja - saia na página dezoito de um jornal "concorrente". Pronto. Acabou. Deve ser solenemente ignorada. O resultado? A história é abatida a tiros ali, antes de nascer. O leitor ( ou telespectador) fica a ver navios.

Em resumo: o maior pecado do jornalista é fazer jornal (ou revista ou TV) para jornalista. Não para o leitor ou telespectador. O resultado ? A epidemia de chatice jornalística se espalha, indomada.

Uma reportagem só chega às mãos do leitor - ou aos olhos e ouvidos do telespectador - depois de enfrentar uma terrível, desgastante e patética corrida de obstáculos dentro das redações. Quando, finalmente, chega a público, exibe a aparência de um bicho ferido, maltratado, destroçado pelas garras dos exterminadores de matérias.

Com um atraso de três décadas e meia, faço uma oração para Nossa Senhora do Espanto e constato : não, esta não é minha tribo.

Procuro uma atividade mais útil : que tal - por exemplo - fiscal de animais de grande porte ? ( diz a lenda que existia este cargo na folha de pagamentos de uma prefeitura pernambucana). Ou observador de aviões em trânsito ? Ou, quem sabe, fabricante de bolhas de sabão.

Fiquei de pensar.

Posted by geneton at 12:03 PM

JOGANDO GASOLINA NA FOGUEIRA DO DEBATE SOBRE OS BUROCRATAS DO JORNALISMO

Um texto inicialmente publicado aqui, neste site mambembe, ganhou vida própria e se espalhou pelo Planeta Blog.

Ricardo Kotscho, grande repórter que nunca deixou de acreditar no Jornalismo, ofereceu apoio, num texto generoso que publicou no blog Balaio do Kotscho http://colunistas.ig.com.br/ricardokotscho/:
26/11/2008 - 17:45

Mídia em debate e um anúncio fúnebre
A mídia, que tudo sabe, julga e contesta, não gosta de discutir a mídia, costuma dizer mestre Alberto Dines. Nossa imprensa quase nunca é notícia _ e não gosta que se fala dela. Jornais e jornalistas não aceitam esse negócio de ter o seu trabalho discutido, muito menos criticado ou regulamentado.

Mas há exceções. Amanhã, quinta-feira, dia 27, teremos um importante e raríssimo ( pelo peso dos participantes) evento para discutir o tema “Mitos e verdades sobre o Brasil de hoje _ A visão da mídia”. Local e horário: auditório do Jockey Club, no centro de São Paulo (rua Boa Vista, 280), a partir das 9h30.

Organizado pela Mega Brasil, do meu amigo Eduardo Ribeiro, participam do debate os diretores editoriais dos jornais Folha de S. Paulo (Otavio Frias Filho), O Estado de S. Paulo (Ricardo Gandour) e Josemar Gimenez (Correio Braziliense). Dos diretores dos principais jornais brasileiros, só ficou de fora Rodolfo Fernandes, de O Globo. Os ingressos já estão esgotados.

Bem na véspera, por mais uma feliz coincidência, dou de cara com um antológico texto de Geneton Moraes Neto, repórter e editor do “Fantástico”, da TV Globo, um dos melhores e mais respeitados jornalistas brasileiros da sua geração.

A começar pelo título_ “Anúncio fúnebre: os jornalistas estão enterrando o jornalismo” _ , o artigo de Geneton, que reproduzo abaixo, é um libelo em defesa do jornalismo e de ataque aos jornalistas que estão matando, nas redações, aquela que considero a mais bela profissão do mundo.

Na mensagem que enviou junto com o texto, ele me escreveu que seu objetivo era mesmo “jogar gasolina na fogueira dos debates sobre a nossa profissão. Você sabe melhor do que eu, que aquilo tudo é verdade. Diria que fui até condescendente…”.

Geneton não poderia ter encontrado momento melhor do que este que antecede o inédito debate entre os diretores das nossas grandes redações. pode até servir de pauta para os participantes.

De fato, como ele diz, é tudo muito triste o que está acontecendo nas redações dos nossos jornalões, mas, infelizmente, é tudo verdade o que o Geneton escreveu.

Sua corajosa profissão de fé na profissão de jornalista ganha ainda mais valor por se tratar, não de um acadêmico frustrado ou um amargurado jornalista em final de carreira, mas de uma das estrelas do jornalismo, trabalhando da maior empresa de comunicação do país, no auge da sua carreira.

Já escrevi demais. É melhor ler logo o Geneton:

(aqui: http://colunistas.ig.com.br/ricardokotscho/2008/11/26/midia-em-debate-e-um-anuncio-funebre/#comments)

Internautas aderiam ao debate no espaço reservado aos comentários.

Idem com o portal Comunique-se, na seção "Em Pauta":

http://www.comunique-se.com.br/

Fiz uma busca rápida. Vários outros blogs repassaram adiante o texto.

É uma das maravilhas da internet: a incrível capacidade de reprodução de textos, idéias, provocações.

Obrigado, Vale do Silício!


Posted by geneton at 11:19 AM

novembro 26, 2008

O DIA EM QUE JOEL SILVEIRA ENTROU PARA O SERVIÇO PÚBLICO

Joel Silveira, meu saudosíssimo mestre e guru, repórter puro-sangue, contava essa:
uma vez, recebeu uma sondagem de um assessor direto do presidente Jânio Quadros. O assessor informou que ele, Joel, iria ser nomeado para o conselho consultivo da Companhia Brasileira de Álcalis.

Resposta de Joel à oferta :

- Aceito o convite ! Só quero tirar duas dúvidas. Primeira : quanto vou ganhar ? Segunda : o que é álcalis, pelo amor de Deus ? ”.

Terminou nomeado.

Posted by geneton at 01:44 PM

NÃO! NÃO! NÃO! "O ÓCULOS" NÃO !

Lá vinha eu, entretido com o noticiário da rádio, quando, sem aviso prévio, a locutora começa a falar sobre o roubo dos óculos da estátua de Carlos Drummond de Andrade.

Aos forasteiros, diga-se, aliás, que o Rio de Janeiro é a única cidade do mundo em que se roubam óculos de estátuas....

Quando começa a comentar o ocorrido, direto de São Paulo, a locutora da emissora de rádio fala de "o óculos". Depois, repete a barbaridade duas, três, quatro vezes: "O óculos....".

Deus do céu: fico pensando que profissão é esta, o Jornalismo, em que um ser humano passa quatro anos na faculdade e sai pelo planeta dizendo "o óculos" e "meu óculos".....

Lástima: gente que não sabe diferenciar um plural de um singular acha-se perfeitamente preparada para transmitir a nós, ouvintes otários, as notícias do mundo.

Comigo não, violão.

Desligo o rádio.

Passo a relinchar alegremente. O ruído do relincho faz menos mal aos ouvidos do que alguém dizendo "um óculos".

Gente que não deve nada à língua, como cantores de pagode, zagueiros centrais, celebridades que posam para a Caras, pode até dizer "um óculos" impunemente. E certamente diz, satisfeita com a própria ignorância.

Mas jornalista que fala - e escreve - para o público não pode cometer tais barbaridades.

É simples assim: não pode. Porque a língua é o instrumento de trabalho de quem escreve. Não pode nem deve ser pisoteada publicamente por quem, em tese, teria a obrigação de zelar por ela.

O rádio continuará desligado.

Posted by geneton at 01:37 PM

PAREM AS MÁQUINAS! UMA AULA DE JORNALISMO, COM O REPÓRTER QUE DERRUBOU UM PRESIDENTE!

http://www.geneton.com.br/archives/000275.html

Posted by geneton2 at 10:29 AM

novembro 24, 2008

PERGUNTA FEITA AOS CÉUS - 1

O que será mais divertido ? Ser executado numa cadeira elétrica ou participar de festinhas de fim de ano no trabalho?
É uma escolha dificílima. Preciso de quatro dias para avaliar. Por ora, somados os prós e os contras, dá empate.

Posted by geneton at 09:40 PM

QUE BARULHO É ESSE? SÃO OS COVEIROS DO JORNALISMO CAVANDO A SEPULTURA DA PROFISSÃO!

AQUI:

http://www.geneton.com.br/estado/

Posted by geneton2 at 09:33 PM

ANÚNCIO FÚNEBRE : OS JORNALISTAS ESTÃO ENTERRANDO O JORNALISMO!


Começa a chover. Não me ocorre outra idéia para me proteger do aguaceiro: paro na banca para comprar um jornal. Em época de "crise econômica", eis um belo investimento, com retorno imediato: além de me brindar com notícias interessantes, o jornal, quando dobrado e erguido sobre a cabeça, cumpre garbosamente a função de guarda-chuva.

O jornal é de São Paulo.Poderia - perfeitamente - ser do Rio de Janeiro ou de qualquer outro estado brasileiro.Eu disse "notícias interessantes" ? Em nome da verdade,retiro o que disse.

Pelo seguinte: não sou nenhum fanático por informação, não passo quatorze horas por dia conectado, não sou desses jornalistas que, à falta do que fazer na vida, acham que não existe nada sob o sol além do jornalismo. Em suma: considero-me apenas um consumidor mediano de notícias. Ainda assim, eu já sabia de noventa e cinco por cento do que aquele jornal tentava me dizer na primeira página.

O que o jornal me dizia, nos títulos ? Que o São Paulo "abre cinco pontos sobre o Grêmio". Que novidade! Qualquer criança de dois anos que tivesse passado diante de um aparelho de TV na véspera já sabia. Nem preciso falar da Internet. "Chuvas em Santa Catarina matam 20". Que novidade! "Obama divulga nomes de cargos-chave". Que novidade! "EUA podem injetar até US$ 100 bi no Citigroup". Que novidade!

Não é exagero: eu já tinha recebido todas essas informações na véspera.

Tive a tentação de voltar à banca, para pedir meus dois reais e cinquenta de volta. Mas, não: resolvi dar um crédito de confiança ao jornal. Quem sabe, como guarda-chuva ele teria uma atuação melhor. Teve.


De tudo o que estava nos títulos da primeira página do jornal, só uma informação era "novidade" para mim: "Brasil será o único país do mundo que não eliminou hanseníase". Conclusão: o jornal estava me oferecendo pouco, muito pouco, pouquíssimo.

Tenho certeza absoluta de que milhares de leitores, quando abrem os jornais de manhã, são invadidos pela mesmíssimo sentimento: em nome de São Gutemberg, para quem estes jornalistas acham que estão escrevendo ? Em que planeta os editores de primeira página vivem ? Por acaso eles pensam que os leitores são marcianos recém-desembarcados no planeta ? Ninguém avisou a esses jornalistas que a TV e os milhões de sites de notícias já divulgaram, desde a véspera, as mesmíssimas informações que eles agora repetem feito papagaios no nobilíssimo espaço da primeira página ?

Os autores dessas obras-primas ( primeiras páginas que não trazem uma única novidade para o leitor médio!) são, com certeza, jornalistas que temem pelo futuro do jornal impresso.
É triste dizer, mas eles estão cobertos de razão: feitos desse jeito, os jornais impressos estão, sim, caminhando celeremente para o mausoléu. Não resistirão.

Os coveiros da imprensa estão trabalhando freneticamente: são aqueles profissionais que aplicam cem por cento de suas energias para conceber produtos burocráticos, óbvios, chatos, soporíferos e repetitivos.

Em suma: os jornalistas estão matando o jornalismo.

Quem já passou quinze segundos numa redação é perfeitamente capaz de identificar os coveiros do jornalismo: são burocratas entediados e pretensiosos que vivem erguendo barreiras para impedir que histórias interessantes cheguem ao conhecimento do público. Ou então queimam neurônios tentando descobrir qual é a maneira menos atraente, mais fria e mais burocrática de transmitir ao público algo que, na essência, pode ser espetacular e surpreendente: a Grande Marcha dos Fatos.


Qualquer criança desdentada sabe que não existe nada tão fácil na profissão quanto "derrubar" uma matéria. Há sempre um idiota de plantão para dizer : "ah, não, o jornal X já deu uma nota sobre esse assunto"; "ah, não, o jornal Y publicou há trinta anos algo parecido" e assim por diante. O resultado desse exercício de trucidamento jornalístico é o que se vê: uma imprensa chata, chata, chata, chata. É raríssimo aparecer um salvador de pátria que pergunte: por que jogar notícias no lixo, oh paspalhos ? Por que é que vocês não procuram uma maneira interessante e original de contar - e oferecer ao publico - uma história ? Haverá sempre uma saída!

A regra vale para jornal impresso, revista, rádio, TV, internet, o escambau.

Mas, não. Contam-se nos dedos da mão de um mutilado de guerra os jornalistas que devotam o melhor de suas energias para fazer um jornalismo vívido e interessante. Já os burocratas e assassinos, numerosíssimos, continuam golpeando o Jornalismo aos poucos. Vão matá-lo, cedo ou tarde, é claro.

Não há organismo que resista à repetição dos botes dos abutres ( um dia, quando estiver prostrado à beira de um pedaço de mar verde da porção nordeste do Brasil, farei - de memória - uma lista dos crimes que já vi serem cometidos, impunemente, nas redações. Se tiver paciência para juntar sujeito e predicado, prometo que farei um post. Almas ingênuas podem acreditar que absurdos não acontecem com frequência nos zoológicos jornalísticos. Mas, em verdade, vos digo: acontecem, diariamente. O pior, o trágico, o cômico, o indefensável é que os assassinos do Jornalismo são gratificados com férias, décimo-terceiro, plano de saúde, aposentadoria, seguro de vida e vale-alimentação. Detalhe: lá no fundo, devem achar que ganham pouco....Quá-quá-quá).


Um detalhe inacreditável: em qualquer roda de conversa numa redação, em qualquer congresso ( zzzzzzzzzzz) de Jornalismo, é possível ouvir que há saídas simplíssimas. Bastaria tomar - por exemplo - providências estritamente "técnicas": em vez de repetir papagaiamente(*) nos títulos aquilo que a TV e a internet já cansaram de divulgar, por que é que os jornais não destacam na primeira página a informação inédita, o ângulo pouco explorado, o detalhe capaz de prender a atenção do coitado do leitor na banca ? Pode parecer o óbvio dos óbvios, mas nenhum jornal faz. Qualquer lesma semi-alfabetizada sabe, mas nenhum jornal faz. Se fizessem este esforço, os jornais poderiam, quem sabe, atiçar a curiosidade do leitor indefeso que entra numa banca em busca de uma leitura atraente. Coitado. Não encontrará. É mais fácil encontrar um neurônio em atividade no cérebro de Gretchen.

Fiz um teste que poderia ser aplicado a qualquer estagiário de jornalismo: tentar achar, no exemplar que tenho em mãos, informações que rendam títulos menos burocráticos e mais atraentes do que os que o jornal trouxe na primeira página. Em quinze segundos, pude constatar que havia,sim, no texto das matérias, informações mais interessantes do que as que foram destacadas nos títulos óbvios. Um exemplo, entre tantos: a chamada do futebol na primeira página dizia "São Paulo abre 5 pontos sobre o Grêmio". Por que não algo como "TREINADOR PROÍBE COMEMORAÇÃO ANTECIPADA NO SÃO PAULO" ou "JOGADORES DO SÃO PAULO PROBIDOS DE IR A PROGRAMAS DE TV" ? A matéria sobre as enchentes dizia que, depois do maior temporal dos últimos dez anos, Santa Catarina enfrentava racionamento de água potável - um duplo castigo. E assim por diante. Daria para fazer dez chamadas diferentes. Mas.....o jornal repete na manchete o que a TV já tinha dito.

Quanto ao futebol: com toda certeza, as informações que ficaram escondidas no texto eram mais atraentes do que a mera contagem de pontos que o jornal estampou no título da primeira página! Afinal, cem por cento dos torcedores do São Paulo já sabiam, desde a véspera, que o time disparara na liderança. Não é exagero dizer: cem por cento sabiam. Mas, a não ser os fanáticos por resenhas esportivas, poucos sabiam que o treinador tinha proibido os jogadores de participarem de programas de TV, para evitar comemorações antecipadas. Por que, então, esconder o detalhe mais interessante ? É o que os editores fazem: tratam de sepultar a informação mais atraente em algum parágrafo remoto, lá dentro do jornal. Depois, querem que o leitor saia da banca satisfeito por ter pago para ler o que já sabia....

Estão loucos.

Resumo da ópera: os assassinos do Jornalismo, comprovadamente, são os jornalistas. É uma gentalha pretensiosa porque acha que pode decidir, impunemente, o que é que o leitor deve saber. Coitados. O que os abutres fazem, na maior parte do tempo, em todas as redações, sem exceção, é simplesmente tornar chata e burocrática uma profissão que, em tese, tinha tudo para ser vibrante e atraente.

Mas nem tudo há de se perder. Os jornais podem, perfeitamente, ser usados como guarda-chuva. Fiz o teste. O resultado foi bom: cheguei tecnicamente enxuto ao destino.

(*)Papagaiamente: neologismo que acabo de criar, iluminado por uma inspiração animalesca.

Posted by geneton at 07:59 PM