julho 27, 2015

DUAS OU TRÊS COISAS SOBRE A VELHA BATALHA POR UM TEXTO MINIMAMENTE LEGÍVEL

Escrever não é ciência exata. Se fosse, não teria "graça".
O aprendizado não acaba nunca: recomeça a cada parágrafo. Fico me lembrando das primeiras lições que tive a chance de aprender, faz séculos, na redação do Diário de Pernambuco. "Corria o ano de 1972". Eu transitava dos quinze para os dezesseis anos de idade. Quem terá sido o "professor" improvisado, em meio à correria da redação? Pode ter sido um "copidesque" chamado Rômulo. Ou terão sido todos, no dia-a-dia? Devo ter anotado em algum lugar as primeiras lições. Nunca deixei de segui-las. Não custa nada seguir os bons conselhos. Alguém me ensinou que fica feio começar uma frase com o verbo no gerúndio. Não é errado: é feio. Alguém me ensinou que fica feio emendar uma frase na outra com um "e que". Não é errado: é feio. Quebra o ritmo do texto. Alguém me ensinou que fica feio usar advérbios de modo em excesso. Não é errado: é feio. Idem com os adjetivos. Alguém me ensinou que não se deve fazer trocadilho: é o caminho mais curto para o desastre. Alguém me ensinou que é melhor não colar uma frase à outra com um gerúndio. Não é errado: é feio. Alguém me ensinou que a primeiríssima obrigação de quem escreve é ser claro. "A clareza, a clareza, a clareza!" - é o que nos implora, todo dia, o Nosso Senhor do Bom Texto.

Alguém me ensinou que o texto jornalístico deve seguir minimamente o padrão culto da língua. Não se escreve "tá" e "tão", mas "está" e "estão". Não se escreve "né?", mas "não é?". Alguém me disse que uma das funções do jornalista é, sempre foi e será o de zelar pela língua. É o mínimo que se pode fazer. Alguém me disse que não existe exceção: só escreve bem quem lê muito. Ponto. Alguém me disse que a vaidade e a empáfia são dignas de riso no jornalismo. Porque jornalistas que se julgam importantes jamais serão tão importantes quanto um dia pensaram que fossem. Alguém me disse que fazer jornalismo é simples: basta contar da maneira mais fiel e mais atraente possível o que foi visto e ouvido. É tudo. E assim haverá de ser.

Posted by geneton at 12:18 PM

julho 17, 2015

GHIGGIA, O 'CARRASCO', MANDAVA FLORES PARA OS JOGADORES BRASILEIROS

Duas cenas comoventes me vêm à lembrança agora, quando recebi a notícia da morte de Ghiggia, o mais célebre "carrasco" da história do futebol brasileiro.
Ghiggia nos recebeu para uma longa entrevista, em 2013, na casa modesta onde vivia, em Las Piedras, perto de Montevidéu.

Primeira cena: diante da câmera - e também nos bastidores - ele usou uma palavra bonita para explicar por que evitava falar da Copa de 50 quando se encontrava com os jogadores brasileiros - de quem tinha ficado amigo.

Não falava da Copa de 50 por "respeito" aos brasileiros. "Respeito" - era esta a palavra que ele usava. Porque sabia que a glória dos uruguaios em 1950 era uma dor brasileira.

Pensei, na hora: eis aí um campeão legítimo, um herói uruguaio que, por sobre toda rivalidade com o Brasil, falava em respeito - tanto tempo depois.

Segunda cena: aos 86 anos, Ghiggia fez uma pequena confissão: fazia planos de terminar logo a construção da casa - também modesta - para onde pretendia se mudar em companhia da mulher. Viúvo, tinha se apaixonado por Beatriz, quatro décadas mais nova. Os dois faziam planos para o futuro, como jovens apaixonados.

O campeão não deve ter tido tempo de se mudar para a casa que estava construindo aos poucos. Mas deixou, ali, naquele encontro com o repórter, uma dupla lição: de respeito pelos brasileiros e de amor juvenil por Beatriz.

Uma canção anarquista italiana diz: "mandem flores para os rebeldes que falharam". Era o que Ghiggia fazia: ao declarar "respeito" à Seleção Brasileira de 50, ele estava, na verdade, mandando flores para os jogadores que falharam.

Neste 16 de julho, é a nossa vez: de mandar flores para o campeão que sai de cena e para Beatriz, a última paixão de Ghiggia.

Posted by geneton at 11:31 AM

julho 09, 2015

MINEIRÃO, OITO DE JULHO: DATA DA URUCUBACA! ( MAS O SPORT CLUB DO RECIFE AVANÇA RUMO À GLÓRIA!)

Pausa para uma pequena nota futebolística. Estou convencido de que o oito de julho é a data da urucubaca para o futebol. Há exatamente um ano, o Brasil passou por aquele vexame inapagável: 7 a 1 para a Alemanha, numa semifinal de Copa do Mundo dentro de casa! Daqui a cem anos, alguém estará falando do desastre.
Ontem, novamente num oito de julho, o glorioso Sport Club do Recife, até então único time invicto no Campeonato Brasileiro, perdeu a invencibilidade justamente onde? Lá, no cenário dos 7 a 1: o Mineirão! Atlético Mineiro 2 x 1 Sport !
Conclusão: alguém deve ter deve ter enterrado uma caveira de burro em algum oito de julho imemorial metros e metros abaixo do gramado do Mineirão! Só pode ter sido! A maldição vem funcionando: ninguém passe perto do Mineirão nos dias oito de julho! É risco de desastre!
Gosto do Atlético, mas essa desfeita com o Sport vai ficar atravessada nas gargantas rubro-negras.
O Sport já não poderá ser campeão invicto, mas caminha a passos larguíssimos para o título ou, na pior das hipóteses, para uma campanha heroica, depois, na Taça Libertadores da América, como bravo, legítimo e resplandecente representante do Brasil diante de outras feras sul-americanas.
Quero ver qual é o time argentino, colombiano, paraguaio ou peruano que vai falar grosso na Ilha do Retiro!

Posted by geneton at 12:19 PM

julho 01, 2015

CHEGA DE DISCUSSÕES RASTEIRAS! ACORDA, DARCY RIBEIRO! VEM INJETAR, NO PENSAMENTO BUROCRÁTICO, UMA DOSE MACIÇA DE DELÍRIOS BRASILEIROS!

Um bom sinal: tenho notado um acréscimo no número de conhecidos que se declaram com disposição zero para enfrentar discussões políticas rasteiras.
Porque, hoje, a bem da verdade, a situação é a seguinte: quem disser que considera Fernando Henrique Cardoso um bom presidente é chamado de "direitista", "golpista", "reacionário" e outras pérolas da inteligência político-partidária. Quem disser que considera Lula um bom presidente é chamado de "bandido", "mafioso", "conivente" e outras pérolas da inteligência político-partidária.
O locutor-que-vos-fala também prefere não entrar na guerra de argumentos rasteiríssimos. É um terreno pantanoso. Há manipulação de sobra, cegueira de sobra, estupidez de sobra, relativismo moral de sobra. Há argumentos que só valem para "um lado". Estou fora.


Se alguém disser que quem apontou a roubalheira bilionária na Petrobrás não foi a imprensa ou algum partido, mas funcionários graduados da empresa, é logo chamado de golpista - no mínimo. Se alguém disser que a inclusão social é,sim, uma obrigação histórica do Brasil com os brasileiros despossuídos, é logo chamado de saqueador.
Deste momento em diante, por falta de paciência para esgrimir argumentos estupidamente rasteiros, o locutor-que-vos-fala resolve impor a si mesmo um silêncio obsequioso.
Mas, em algum lugar, lá no fundo de minhas ilusões brasileiras, continuo à espera de um governo - seja, PT, seja PSDB, seja o que for - que promova, por exemplo, uma revolução na educação: que ofereça às crianças brasileiras, como prioridade número um, uma escola de qualidade em tempo integral. É tão difícil assim?
Acorda, Darcy Ribeiro! Vem multiplicar Cieps por todo o território brasileiro, todos os sertões, todos os agrestes, todas as periferias, todos os subúrbios, todas as metrópoles! É tarefa urgente, para ontem!
Por que não fazem, já? Por que as ações são tão tímidas, tão burocráticas? A discussão útil é esta - não é a troca de insultos entre fernandohenriquistas x lulistas e outras variações.
Tenho certeza de que, na liturgia do exercício do poder, haverá sempre lugar para uma certa dose de loucura e de "irresponsabilidade" criadora - como lembrava o próprio Darcy Ribeiro. Queria ver um ministro que ocupasse a tevê às oito da noite, em rede nacional, para anunciar que, a partir de amanhã de manhã, os bilhões de reais usados, por exemplo, em publicidade oficial iriam ser imediatamente "desviados" para a construção de mil, cinco mil, dez mil, vinte mil escolas em tempo integral: as crianças teriam aula e comida.
Pablo Neruda uma vez escreveu: "Os próximos anos serão azuis".
O Brasil poderia emendar o verso: só haverá uma possibilidade de azul, no futuro, se o país se livrar de discussões políticas estúpidas, cegas e rasteiras para apostar na grandeza. Há mil maneiras de fazer esta aposta. Uma das mais óbvias é dizer: acorda, Darcy Ribeiro! Vem injetar, no pensamento burocrático, uma dose maciça de delírios brasileiros!

Posted by geneton at 12:21 PM