agosto 30, 2015

CAMPANHA MUNDIAL CONTRA OS MAUS MODOS INTERNÉTICOS: TODA VEZ QUE VOCÊ ESTIVER TENTANDO FALAR COM ALGUÉM E ELE ( OU ELA ) COMEÇAR A DIGITAR ALGUMA COISA NO CELULAR OU NUM TABLET, REPITA COMPULSIVAMENTE A FRASE "KLAATU BARADA NIKTO" NUM TOM DE VOZ CRESCENTE

Chega! Basta! É hora de lançar uma campanha mundial que, certamente, arrebanhará gente de todas os credos. O slogan da campanha é "Klaatu Barada Nikto".
A saber:
Os terráqueos estão vivendo a era da super-conexão: todo mundo conectado com algum aparelho ( celular, computador etc.etc. ). A maravilha da conexão produziu um efeito colateral horrível: um grande um festival de "maus modos" internéticos.
O exemplo mais escandaloso: gente que, enquanto conversa com alguém, desvia o olhar e fica digitando alguma coisa num celular, num tablet ou algo do gênero.
É um caso espetacular de pouco caso com o interlocutor - uma maneira indireta de dizer "pode continuar falando para o vento, otário, porque eu estou mais interessado no teclado do meu celular ou do meu computador"...
Uma boa solução seria a seguinte: toda vez que que você estiver falando com alguém e ele - ou ela - começar a ler ou a digitar alguma coisa num celular ou num computador, passe a repetir, mecanicamente, por pelo menos dez vezes, num tom de voz crescente, a expressão "klaatu barada nikto". ( a frase enigmática é pronunciada por um alienígena no filme "O Dia em que a Terra Parou". Não quer dizer nada. Justamente por não querer dizer nada, pode ser que, por milagre, traga de volta para você a atenção do digitador compulsivo ).
Bem que a frase enigmática pode se transformar numa espécie de antídoto contra os que, hipnotizados por um teclado, são incapazes de conceder um segundo de sincera atenção ao interlocutor real.
( aliás, há algo que, sinceramente, sempre me impressionou: gente que fica surda quando lê ou quando escreve. Ou seja: gente que, quando lê alguma coisa numa tela de computador ou quando tecla alguma frase, é incapaz de ouvir o que os outros dizem, ali, ao lado. Eis um caso esquisitíssimo de privação de sentidos. Um neurocientista poderia explicar: o que leva ou ouvidos de alguém a sofrer um horrível bloqueio quando os olhos estão voltados para uma tela? ).
Começa aqui a campanha mundial "Klaatu Barada Nikto" - um grito contra os maus modos cibernéticos!

Posted by geneton at 11:56 AM

agosto 26, 2015

HÁ UM CARGO VAGO EM BRASÍLIA: O DE DEFENSOR GERAL DA LÍNGUA PORTUGUESA! SENADORES TRATAM LÍNGUA COMO SE ESTIVESSEM NUMA REDAÇÃO: A PONTAPÉS!

Em questão de trinta segundos, um senador que participa da sabatina do procurador-geral disse "vinheram" quando queria dizer "vieram". Outro diz "veicularam de que" quando queria dizer "veicularam que....".
A língua portuguesa é tratada a pontapés no Congresso Nacional. Não é novidade. Acontece todo dia.
Parece até que o Congresso é uma redação.
( daqui a pouco, vai ter senador começando discurso com a expressão "olha só, gente! Olha só, gente!". Ou escrevendo trocadilhos. Ou dizendo "fulano pontuou que...").
Que coisa...
Fica a dúvida: não vão nomear também um Defensor Geral da Língua Portuguesa no Palácio Central do Brasil?
O cargo sempre esteve vago.

Posted by geneton at 11:56 AM

agosto 24, 2015

ENTREVISTA DE EMPREGO

Se eu fosse enfrentar hoje uma entrevista de emprego e se me pedissem para dizer em trinta segundos o que penso do jornalismo, eu diria, com toda sinceridade:
"Depois de décadas na estrada, tenho a nítida, nitidíssima sensação de que, no fim das contas, como escolha profissional, o jornalismo foi um equívoco envolvido num engano dentro de um grande erro. Mas agora é tarde para voltar atrás. Bola pra frente, então! Faz de conta que é a melhor profissão do mundo!
E é - para os que se descobrem tecnicamente incapazes de fazer alguma coisa que seja de fato útil ao avanço da humanidade!".


( a frase foi inspirada na máxima de Winston Churchill sobre a Rússia: "É uma charada envolvida num mistério dentro de um enigma" ).
Nem preciso dizer que eu seria imediatamente dispensado pelo burocrata do Departamento de Recursos Humanos encarregado de selecionar os candidatos.
Eu ouviria o aviso de dispensa sumária, me levantaria, cumprimentaria o dispensador e diria: "Parabéns! Você nunca tomou uma decisão tão acertada!".
Parabéns! Parabéns! Lugar de quem tem dúvida sobre a profissão que escolheu é em casa - de preferência, com um bom livro na mão!".
E partiria, alegre e satisfeito, rumo a um mergulho intensivo nas páginas de
H.L. Mencken ou Nélson Rodrigues ou Gay Talese ou Truman Capote ou Joel Silveira. Isso,sim, é jornalismo.

Posted by geneton at 11:58 AM

ENTREVISTA DE EMPREGO

Se eu fosse enfrentar hoje uma entrevista de emprego e se me pedissem para dizer em trinta segundos o que penso do jornalismo, eu diria, com toda sinceridade:
"Depois de décadas na estrada, tenho a nítida, nitidíssima sensação de que, no fim das contas, como escolha profissional, o jornalismo foi um equívoco envolvido num engano dentro de um grande erro. Mas agora é tarde para voltar atrás. Bola pra frente, então! Faz de conta que é a melhor profissão do mundo!
E é - para os que se descobrem tecnicamente incapazes de fazer alguma coisa que seja de fato útil ao avanço da humanidade!".


( a frase foi inspirada na máxima de Winston Churchill sobre a Rússia: "É uma charada envolvida num mistério dentro de um enigma" ).
Nem preciso dizer que eu seria imediatamente dispensado pelo burocrata do Departamento de Recursos Humanos encarregado de selecionar os candidatos.
Eu ouviria o aviso de dispensa sumária, me levantaria, cumprimentaria o dispensador e diria: "Parabéns! Você nunca tomou uma decisão tão acertada!".
Parabéns! Parabéns! Lugar de quem tem dúvida sobre a profissão que escolheu é em casa - de preferência, com um bom livro na mão!".
E partiria, alegre e satisfeito, rumo a um mergulho intensivo nas páginas de
H.L. Mencken ou Nélson Rodrigues ou Gay Talese ou Truman Capote ou Joel Silveira. Isso,sim, é jornalismo.

Posted by geneton at 11:58 AM

agosto 22, 2015

PEQUENO TRATADO SOBRE A VERGONHA ALHEIA

"Vergonha alheia" é um sentimento esquisito, esquisitíssimo. E acrescento: é uma legítima demonstração de altruísmo. A gente vê alguma coisa constrangedoramente ruim na tevê, no cinema, no teatro - para ficar nos exemplos mais frequentes. E fica tentando esconder de si mesmo um enorme, um imenso, um irrefreável constrangimento. A vergonha - claro - deveria ser do outro. Ou seja: daquele que faz, sem nem desconfiar, algo constrangedoramente ruim. Mas, não! Os praticantes da "vergonha alheia" é que tomam para si, altruisticamente, o embaraço. Por esta razão, sempre achei que os praticantes de "vergonha alheia" deveriam ser canonizados.
( o pior é que todos nós, em algum momento, sem saber, já produzimos momentos devastadores de vergonha nos outros ). C´est la vie. De resto, um tratado que reunisse os exemplos mais clamorosos de vergonha alheia seria leitura interessante. Quem se habilita a fazer uma lista? Dizei, ó terráqueo, o que é que provoca vergonha alegria em ti?

Posted by geneton at 11:59 AM

agosto 21, 2015

INTERVALO MUSICAL: DIRETO DE HAVANA, "IOLANDA"

Pablo Milanez deve ter composto "Iolanda" numa noite de lua cheia, clara e saudosa em Havana. Só pode ter sido. É uma das mais belas canções de amor já escritas. Chico Buarque deve ter feito a versão de "Iolanda" numa noite de lua clara no Leblon. Só pode ter sido. "Se me faltares, nem por isso morro/ se é pra morrer, quero morrer contigo / rezando o credo que tu me ensinaste / olho teu rosto e digo à ventania: Iolanda, Iolanda, eternamente Iolanda":
https://goo.gl/a3yXCs

Posted by geneton at 12:02 PM

agosto 12, 2015

ACONTECEU: O ESCRITOR MALBA TAHAN, AUTOR DE "O HOMEM QUE CALCULAVA" E "MAKTUB", ME DÁ ENTREVISTA E VAI EMBORA PARA O HOTEL - PARA MORRER

O Diário de Pernambuco me pede um texto sobre o escritor Malba Tahan, personagem inesquecível do início das andanças do locutor-que-vos-fala por redações. Tentei alinhavar as lembranças daquele dia de 1974. Lá vai:
"Deve ter sido o primeiro susto que tive no jornalismo. Repórter iniciante, eu tinha meus dezessete anos de idade. Trabalhava no Diario de Pernambuco à tarde e fazia o primeiro ano de jornalismo na Universidade Católica à noite. Quando cheguei para trabalhar, pouco antes das duas da tarde, o então chefe de reportagem, Ricardo Carvalho, me perguntou, ansioso: "Você guardou alguma coisa da entrevista com Malba Tahan ou usou tudo na matéria que saiu no jornal de hoje? ". Respondi com uma pergunta: "...Mas por quê?". E ele: "O homem morreu! Teve um enfarte no hotel! Fulminante!". A incredulidade se instalou no ar. Só havia uma coisa a dizer: "O quê? Não é possível!". Mas era: o escritor que me dera entrevista poucas horas antes, na sede do Diário de Pernambuco, saíra do jornal para morrer num quarto de hotel, em Boa Viagem.

Eu tinha entrevistado o escritor Malba Tahan no final da tarde do dia anterior, na sala do então superintendente do jornal, Gladstone Veira Belo. A lembrança é clara: eu estava me preparando para deixar a redação e ir para a aula quando fui convocado a comparecer à sala da direção para entrevistar um visitante. Em situações normais, os pobres dos repórteres reagem com um muxoxo quando são chamados a fazer as tais entrevistas com visitantes ( em geral, autoridades que dificilmente pronunciarão algo de relevante numa "visita de cortesia" aos bravos rapazes da imprensa...). Mas ali era diferente.
Posso até ter reagido com um muxoxo, mas o visitante era uma espécie de "ídolo" literário dos meus tempos de infância: eu tinha lido, para um trabalho escolar, o livro "O Homem que Calculava" ( ou terei ganhado de presente um exemplar? Aqui, minha memória claudica miseravelmente ). Depois, um exemplar de Maktub fora parar em minhas mãos. Maktub - a gente logo aprendia - queria dizer "estava escrito". A palavra "maktub", portanto, carregava um certo peso dramático: parecia avisar que a vida pode ser regida por maquinações indecifráveis do destino.
Os livros falavam de mundos mágicos e misteriosos, personagens que se moviam por paisagens orientais de uma beleza cintilante. O nome Malba Tahan tinha o poder de deflagrar, num passe de mágica oriental, essas lembranças "literárias". E lá estava ele: efusivo, entusiasmado, falava da visita ao Recife como se fosse marinheiro de primeira viagem. Guardei um detalhe: Malba Tahan trajava um paletó quadriculado. Fora visitar o Diário, na Praça da Independência, em companhia da mulher. Voltei às pressas para a redação para redigir a entrevista que seria publicada no dia seguinte. Zarpei para a escola. O escritor seguiu para o hotel. Estava escrito que aquelas seriam as últimas horas do autor de Maktub. Estava escrito que Malba Tahan, na verdade, nunca existiu: era apenas o pseudônimo de um professor de matemática carioca chamado Júlio César. Jamais visitara o Oriente. Que importa?
O que interessa é que tinha virado sinônimo de mundos mágicos, distantes, inalcançáveis. Estava escrito que, lastimavelmente, aquela seria a última fala de Malba Tahan - e o primeiro grande susto do jovem repórter. Estava escrito: maktub, maktub, maktub".

Posted by geneton at 12:11 PM

agosto 09, 2015

....E O REPÓRTER SAI ABALADO DA ENTREVISTA COM O CIENTISTA QUE AJUDOU A FABRICAR A BOMBA ATÔMICA...

Um dos cientistas que trabalharam na fabricação das bombas atômicas derrama lágrimas pelas vítimas de Hiroshima e Nagasaki. Eis um personagem inesquecível no ( a essa altura, vasto ) elenco de entrevistados do locutor-que-vos-fala. Tentei descrever o encontro com este personagem num texto para o Jornal das Dez - da Globonews -, narrado por Toni Marques. Confesso: saí da entrevista abalado e comovido. O drama de consciência do cientista era sincero:
http://goo.gl/HHa3Wr

Posted by geneton at 12:15 PM

agosto 07, 2015

A SORTE DE TER O TEXTO DE UMA REPORTAGEM NARRADO POR SÉRGIO CHAPELIN ( OU: POR QUE, NESTE CASO, REPÓRTER NÃO DEVE PASSAR NEM PERTO DE UMA CABINE LOCUÇÃO... )

Cabine de locução. Gravação de texto com Sérgio Chapelin. Vai para o ar neste sábado, às nove da noite, na Globonews: Dossiê Especial com a íntegra de entrevistas com militares americanos que jogaram as bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki. Material foi gravado originalmente para o Fantástico. Maior parte ficou inédita. Agora, depoimentos vão ser apresentados pela primeira vez na íntegra. É um documento: a palavra de quem participou diretamente dos mais devastadores ataques militares já realizados da história. Calcula-se que a bomba de Hiroshima tenha provocado cem mil mortes nos dez minutos seguintes à explosão.

CHAPELIN.jpg


Qualquer texto lido por Sérgio Chapelin ( foto: @Rodrigo Bodstein) ganha imediatamente peso, qualidade e clareza. Eu me arrisco a dizer que daqui a cinquenta anos aparecerá alguém com uma voz tão bonita e uma narração tão sóbria. Chapelin faz parte do primeiríssimo time. Tenho sorte de contar - já há tantos anos - com uma voz tão espetacular para ler meus pobres textos. Tento aproveitar ao máximo a chance.
( neste trabalho em tevê - que nunca foi minha especialidade, sempre preferi a "imprensa escrita" - tive a chance estupenda de ter textos narrados por outras grandes vozes, como as Cid Moreira, Eliakim Araújo, Celso Freitas. Logo aprendi que narração como a destes mestres da voz enriquece imediatamente qualquer matéria).
Conclusão: repórter que pode contar com o auxílio luxuosíssimo de Chapelin para a narração de suas matérias não deve passar nem perto de uma cabine de locução. Basta pedir a ele que narre o texto. A qualidade da narração já fica garantidíssima. A voz de Chapelin faz uma diferença enorme. A bem da verdade: uma diferença absurda. Em suma: toda diferença.

Posted by geneton at 12:17 PM