junho 29, 2014

CIGANAS, DIGAM LOGO: ONDE E QUANDO VAI SER O PRÓXIMO DRAMA? ( ENQUANTO ELAS NÃO DIZEM, VALE REVER UM FIM DE PRORROGAÇÃO QUE PROVOCOU UMA ONDA DE TAQUICARDIA NO BRASIL - EM 1986...)

Pausa para uma expedição ao Mundo Mágico do vídeo tape:
o jogada mais dramática e mais emocionante que o locutor-que-vos-fala já teve a ventura de testemunhar diante de uma TV aconteceu no fim da prorrogação do jogo Brasil x França na Copa de 86.
Dose de adrenalina em grau máximo: a três minutos do final da prorrogação, o jogador da França dispara sem marcação, rumo ao gol do Brasil, naquilo que os locutores gostam de chamar de "contra-ataque fulminante". O pior é que era verdade: o contra-ataque parecia fulminante, sim! ( nem é preciso dizer que, neste momento, um certo país plantado às margens do Atlântico Sul, "terra adorada entre outras mil", prendeu a respiração ).
O goleiro brasileiro sai da área, desesperado, para tentar deter a corrida do atacante francês. Uma catástrofe brasileira começa a se desenhar: ninguém consegue deter Bellone – que avança, sozinho, para decidir a partida. Ah, a épica solidão do artilheiro na hora fatal! O super-goleiro Carlos voa sobre Bellone. Consegue desequilibrar o candidato a carrasco. Elzo tira a bola da área.
Um segundo depois, contra-ataque do Brasil! A bola chega à pequena área da França, passa a centímetros dos pés de Sócrates - que, exausto sob o sol de Guadalajara, desaba no gramado. Não é exagero: centímetros!
A partida vai para os pênaltis. A França segue adiante, na Copa.
A lembrança destes dois lances "dramáticos" resiste até hoje - vinte e oito anos depois. Dois contra-ataques que pareciam fatais, nos instantes finais de uma prorrogação, num jogo mata-mata de Copa do Mundo - tudo o que o futebol pode ter de drama e emoção.
A Copa de 2014 já produziu cenas que, certamente, vão ser lembradas daqui a vinte e oito anos ( o sufoco do Brasil contra o Chile Mineirão já entrou na lista ).

Quais serão as próximas?
Ciganas, digam logo: onde e quando acontecerá o próximo drama?
O que é que as cartas estão sussurrando?
Aqui, em 01:59:20, os dois lances emocionantes do final da prorrogação de Brasil x França:

Posted by geneton at 11:37 AM

junho 28, 2014

SESSÃO BESTEIROL

Depois de tanto, tanto sofrimento, uma pausa para a Sessão Besteirol. Das dez mil piadas que se fazem depois de cada jogo da Copa, duas foram especialmente boas:
1. Ficam reclamando que as obras de mobilidade urbana não ficaram prontas. Injustiça ! E a Avenida Daniel Alves? Não conta? Começou em São Paulo, foi até Fortaleza, passou por Brasília e chegou a Minas. Agora, volta para Fortaleza - uma maravilha!
2. Fred deve ter um amigaço na Fifa: conseguiu ingressos para ver todos os jogos do Brasil dentro de campo! Quero um também!

Posted by geneton at 01:24 PM

TEORIA GERAL DO CHORORÔ BRASILEIRO

Atenção, sociólogos, antropólogos e psicólogos de plantão: que tal alguém produzir uma Teoria Geral do Chororô Brasileiro? Já é hora.
O capitão da seleção brasileira de setenta, Carlos Alberto Torres, fez um comentário interessante no programa "É Campeão" - que estreou esta noite, no Sportv. Disse que jamais tinha visto tantos jogadores chorarem antes e, até, durante os jogos - como acontece com os brasileiros. "É uma coisa inédita". O programa - bela ideia - reúne quatro capitães de seleções campeãs do mundo: além de Carlos Alberto,o argentino Daniel Passarella, o alemão Lothas Mattaus e o italiano Fabio Cannavaro, sob o comando de André Rizek. A pergunta foi feita aos três estrangeiros: alguém já tinha visto algo assim? Resposta unânime: não.

O transbordamento de lágrimas em momentos improváveis - pelo visto - parece ser um traço brasileiro.
Júlio César, o herói da vitória sobre o Chile, chorou antes da cobrança dos pênaltis - algo jamais visto. Em outros momentos, as câmeras mostraram Tiago Silva chorando. Neymar literalmente desabou, aos prantos, com o rosto colado na grama. David Luís também derramou lágrimas "aos borbotões", como diria Nélson Rodrigues. E quem não se lembra daquela imagem do capitão da seleção, Tiago Silva, com os olhos cheios de lágrimas enquanto aguardava o momento de entrar em campo na estreia do Brasil na Copa? Ninguém precisa nem falar do chororô na hora do hino.
Dizer que o brasileiro chora porque é "emotivo" é pouco. Deve haver outras razões - mais profundas.
Uma coisa é certa: a irresistível vocação brasileira para o chororô não é um defeito do caráter nacional. Pelo contrário! As lágrimas - como estas, derramadas quando os nervos ficam "à flor da pele", numa disputa esportiva que mobiliza todo o planeta - podem ser belos sinais de devoção, entrega, envolvimento. Por que não? É melhor cultuar estes sinais de arrebatamento do que tentar copiar a "frieza" maquinal de outros povos.
Tanto chororô pode ter razões históricas: quem sabe, não é uma herança lusitana?
Uma vez, numa entrevista com o grande historiador Evaldo Cabral de Melo, ele chamou a atenção para um detalhe interessante: disse que quem quiser conhecer um pouco do caráter brasileiro deve observar com atenção os portões de embarque e desembarque dos nossos aeroportos.
Lá, as manifestações derramadas de afeto, as efusões, as lágrimas, os abraços, os beijos, o chororô – tudo funcionará como um retrato fiel do que o historiador, em tom crítico, chama de “pieguice luso-brasileira”.
Um pequeno trecho da entrevista:
Quais são os sintomas dessa pieguice luso-brasileira?
Evaldo Cabral de Mello – “Vou citar apenas dois exemplos – que me parecem engraçados. Primeiro : a quantidade de pessoas que, no Brasil, se deslocam aos aeroportos para levar parentes e amigos. Se você pensar bem, cada pessoa que pega um avião no Brasil é levada por outras cinco ao aeroporto…Ou vão cinco receber cada pessoa que chega. Em relação a Portugal, me lembro do caso que me contou o pintor Cícero Dias. Morador em Lisboa durante a Segunda Guerra Mundial, ele se divertia muito ao ver os barcos que faziam a ligação entre o Terreiro do Paço e Cacílias. É como a barca Rio-Niterói. A distância é até menor que do que a do Rio a Niterói. Cícero ficava sentado, às gargalhadas, vendo o número de pessoas que, aos prantos, se despediam de parentes que iam atravessar o rio…”.
( Aliás: o que é que os documentaristas estão esperando ? Por que não apontam suas câmeras durante doze horas seguidas para os portões de embarque e desembarque de algum aeroporto movimentado ? Ao término da gravação, terão em mãos, com certeza, material suficiente para compor um retrato fiel do temperamento brasileiro ).
Os portões de embarque e desembarque dos aeroportos não seriam os únicos territórios a serem pesquisados: nossos estádios não ficam atrás!
O choro dos jogadores brasileiros nos momentos mais improváveis
nesta Copa de 2014 certamente serviria como belo material de estudo para algum aventureiro que queira produzir uma Teoria Geral do Chororô Brasileiro.
Os estrangeiros, com uma ou outra exceção, se surpreendem com tanta lágrima.
Ainda bem.

Posted by geneton at 01:16 PM

junho 27, 2014

PEQUENO COMÍCIO A FAVOR DE EDUARDO "PENINHA" BUENO ( E CONTRA, TAMBÉM )

O locutor-que-vos-fala sobe no banquinho por trinta segundos, para dar um pitaco no grande comício das chamadas "redes sociais" - em que todos falam e alguns ouvem.
Tenho visto o programa Extraordinários ( Sportv, horário variável, em torno das 21:30 ). Em três palavras: bola na rede!
Eduardo Bueno - "Peninha, para os íntimos", como ele diz - foi simbolicamente "apedrejado" no Twittter e no Facebook por ter chamado o Nordeste de "bosta" no programa. A patrulha politicamente correta entrou em ação. Sinal dos tempos: vai chegar o dia em que ninguém poderá fazer uma brincadeira, ninguém poderá ser irônico, ninguém poderá fazer o papel de provocador.
Considero-me cem por cento insuspeito para "defender" Eduardo Bueno, já que sou nordestino até a medula - na certidão de nascimento, na formação e por escolha. Além de tudo, ele não precisa de defesa.
De qualquer maneira: Eduardo "Peninha" Bueno é uma figura - no bom sentido da palavra. Conheci, faz alguns anos, numa redação: hiperbólico, enciclopédico, "televisivo". Chamá-lo de "preconceituoso" é "trocar os pés pelas mãos", é "misturar alhos com bugalhos": não há lugar-comum que chegue para descrever o tamanho do equívoco. Fica, aqui, consignada minha solidariedade pernambucana.

Um senão: Eduardo Bueno vocifera contra as redes sociais. Disse que o fundador do Facebook é "um babaca". Pode ser. Mas vociferar contra as "redes sociais" é um equívoco monumental! Há lixo nas redes? Há, claro, em quantidades industriais. Mas as estradas que elas abrem para a troca de informações e de conhecimento são estupendas! Nunca existiu algo assim.
O fato de alguém - "babaca" ou não - ter criado uma "rede social" capaz de manter conectada uma grande parte da população do planeta é extraordinário. É algo inédito na história. Não é exagero: trata-se de um fenômeno de dimensões planetárias.
Hoje, como se sabe, qualquer um pode "produzir conteúdo" nas redes sociais. O locutor-que-vos-fala declara solenemente o seguinte: a explosão de informações produzida pelas "redes sociais" é mais saudável do que a cena anterior: um bando de maníacos ( e aí me incluo ) trancados nas redações do planeta pontificando sobre o que é que o público deveria ler, ver e ouvir. Deus do céu...A cena ficou ligeiramente ridícula. Um terremoto de dimensões bíblicas abalou este cenário - ainda bem! Os jornalistas deixaram de ser os únicos intermediários entre a informação, a opinião e o distinto público. Que seja assim - para sempre.
Reconheço que há um dado relativamente "assustador": pouca gente se lembra de que o Facebook, por exemplo, é uma empresa privada multibilionária. Amanhã, se os donos desta joça amanhecerem de mau humor, podem fechar o barraco. Podem, sim. Em última instância, este oceano de textos e imagens pode ir para o lixo ou ter destino incerto e não sabido. Mas....e daí? Em uma semana, outra "rede social" arrebanhará milhões de seguidores.
Discordo da posição de "velhos jornalistas" que se recusam a escrever no Facebook, porque acham que, assim, estariam trabalhando de graça para um patrão invisível. É uma atitude olimpicamente pretensiosa e vaidosa. Não me julgo tão importante a ponto de querer receber dinheiro do Facebook para escrever minhas bobagens. Estão equivocados, também, os que desqualificam as "redes sociais" por achá-las um antro de debilóides, frustrados, covardes. É uma visão tristemente conservadora e equivocadamente apocalíptica.
Por que Eduardo Bueno ( ou qualquer outro ) não poderia ter uma bela página no Facebook, para dar opiniões, veicular informações, falar dos seus livros etc.etc.? Qual seria o problema? É lamentável que o próprio Eduardo Bueno seja o primeiro a excluir Eduardo Bueno dessa balbúrdia virtual.
Não sou praticante fanático da Igreja Universal do Facebook nem passo o dia acendendo vela para Nossa Senhora do Twitter. Frequento as duas redes moderadamente - mas já recolhi coisas úteis nas duas, já encontrei informações que procurava, já descobri textos e imagens fantásticos.
Termina aqui o comício duplo: a favor de Eduardo Peninha Bueno no caso da "polêmica" sobre nordestinos e contra Eduardo Peninha Bueno no caso da repulsa às redes sociais.
Recolho meu banquinho, apago a luz do circo mambembe onde costumo me apresentar, digo boa noite ao único espectador do comício - que, a essa altura, já dormia profundamente - e vou me embora. É hora de começar a concentração para o próximo jogo do Brasil na Copa.

Posted by geneton at 01:25 PM

junho 24, 2014

PC: "NÃO QUERO SER CAMPEÃO DE EFICIÊNCIA, QUERO SER CAMPEÃO DE VERDADE. QUERO UM TIME EMPOLGANTE, QUERO UMA ESCOLA DE FUTEBOL"

E óbvio que a gente torce desesperadamente pelo sucesso da Seleção Brasileira. É um tema para sociólogos e antropólogos: não existe nada - nem remotamente - que una tanto os brasileiros em torno de um sentimento comum. Acorda, Gilberto Freyre: vem explicar esta devoção!
Mas...em meio ao ôba-ôba, comum a cada vitória, é bom ouvir a voz dos "dissidentes" - como o ex-craque da seleção Paulo César Caju. Em texto publicado no site do Globo depois da vitória do Brasil contra a Croácia, PC faz uma boa "declaração de princípios" a favor da beleza do futebol:
" O Brasil pode ser campeão e meu ponto de vista não mudará. Não quero ser campeão de eficiência, quero ser campeão de verdade, quero um time empolgante, quero uma escola de futebol, quero inovações táticas, quero novos talentos, quero molecagem. Chega de mesmice, de futebol medroso, retranqueiro".
Aqui, o texto completo:
http://oglobo.globo.com/blogs/blog-do-caju/
Hoje, percorri o caderno de esportes do Globo à procura da palavra de Paulo César Caju - desde sempre, "disposto a desafinar o coro dos contentes". Nada. Cadê o homem? Teria de ter uma coluna diária na Copa!

Posted by geneton at 01:26 PM

junho 23, 2014

O QUE É QUE EU ESTOU FAZENDO EM CHICAGO?

Uma vez, numa entrevista, ouvi a escritora Lygia Fagundes Telles dizer que, numa visita ao Brasil, o grande escritor William Faulkner, bêbado, foi até a janela, olhou a paisagem de São Paulo e perguntou, espantado: "O que é que eu estou fazendo em Chicago?".
Um pitaco de natureza estética: uma das paisagens mais bonitas do Recife é aquela vista por quem atravessa a ponte do Pina. Lá do outro lado, o cais José Estelita. Se for erguida uma fileira de arranha-céus ali, quem olhar para o cais vai ter a tentação de repetir a pergunta de Faulkner.
Vale a pena ficar parecendo com Chicago? O fantasma de William Faulkner, sóbrio, responderia: "Não!".

Posted by geneton at 11:37 AM

junho 22, 2014

E UMA GRAVE QUESTÃO SE DESENHA NO HORIZONTE

Ninguém espalhe - mas uma grave questão existencial e filosófica terá de ser encarada em breve por nós, os nativos deste gigante plantado às margens do Atlântico Sul. A grande questão é: o que será da vida depois da Copa? Como enfrentar o tempo sem esses jogaços, esses gols, esses dramas, essas apoteoses? Quando é que trarão outra Copa para o Brasil? Dizei, ó esfinges mudas! Dizei, ó guardiões dos segredos! Dizei, ó paredes dos estádios! Dizei, ó musas das multidões em transe!

Posted by geneton at 01:28 PM

E UMA GRAVE QUESTÃO SE DESENHA NO HORIZONTE

Ninguém espalhe - mas uma grave questão existencial e filosófica terá de ser encarada em breve por nós, os nativos deste gigante plantado às margens do Atlântico Sul. A grande questão é: o que será da vida depois da Copa? Como enfrentar o tempo sem esses jogaços, esses gols, esses dramas, essas apoteoses? Quando é que trarão outra Copa para o Brasil? Dizei, ó esfinges mudas! Dizei, ó guardiões dos segredos! Dizei, ó paredes dos estádios! Dizei, ó musas das multidões em transe!

Posted by geneton at 11:44 AM

junho 21, 2014

ACORDA, FELLINI ! ELES ENLOUQUECERAM ( OU: VALE A PENA VER "QUE ESTRANHO CHAMAR-SE FEDERICO" ANTES QUE O FILME SAIA DE CARTAZ )

E, pra não dizer que só se fala de Copa: um belo e comovente filme entrou em cartaz discretamente: "Que Estranho Chamar-se Federico: Scola Conta Fellini".
Aos oitenta e três anos, o grande diretor italiano Ettore Scola encena as lembranças da convivência, na juventude, com um amigo chamado.....Federico Fellini. Não é exatamente um documentário, não é uma cinebiografia: é cinema italiano dos bons. Em uma palavra: imperdível.
Mas.....sinal dos tempos: o filme entrou em cartaz, no Rio, em apenas duas salas ( no Laura Alvim e no Espaço Itaú ) e em pouquíssimos horários. É incrível.
O fato de um filme de um diretor como Ettore Scola
sobre um gênio como Federico Fellini ocupar um espaço modestíssimo no chamado "circuito de exibição" diz alguma coisa sobre a mediocridade generalizada que assola o planeta. Ah, diz, sim - com toda certeza.
Quando os tanques soviéticos invadiram a Thecoslováquia para acabar com a Primavera de Praga, um jovem ingênuo pichou num muro: "Acorda, Lênin ! Eles enlouqueceram ".
É hora de pichar em nossos muros imaginários: "Acorda, Federico Fellini! Eles enlouqueceram".
O planeta virou um imenso shopping center.
Que estranho saber que um filme como este só "merece" poucas exibições por dia, para um punhado de gatos pingados.

Posted by geneton at 01:28 PM

junho 20, 2014

ESTATÍSTICA OFICIAL

Estatística oficial: o número de especialistas, torcedores e palpiteiros que previram a classificação antecipada da Costa Rica no chamado "grupo da morte" é igual a zero. Nem mais, nem menos: zero.
O Dr. Imponderável da Silva entrou em campo, pela enésima vez. É melhor assim. Porque ele é que garante a graça - e o drama - do futebol, especialmente em tempos de Copa do Mundo.

Posted by geneton at 01:30 PM

junho 19, 2014

"FAÇA AQUILO QUE SÓ VOCÊ PODE FAZER. COMETA INTERESSANTES, IMPRESSIONANTES, GLORIOSOS, FANTÁSTICOS ERROS" ( OU: O DIA EM QUE O DISCURSO DE NEIL GAIMAN FEZ LEMBRAR EDUARDO COUTINHO )

O que é que o documentarista brasileiro Eduardo Coutinho poderia ter em comum com Neil Gaiman - o escritor e quadrinista inglês?
Acaba de ser lançado no Brasil, em livro, o texto do discurso que Gaiman fez para os estudantes da University of Arts, na Filadélfia. As palavras de Gaiman fazem sucesso entre a rapaziada. O livro chama-se "Erros Fantásticos: O discurso "Faça Boa Arte" - de Neil Gaiman".
Há uma ou outra "platitude", mas, em resumo, ele diz:
"Eu observava meus colegas, amigos e pessoas mais velhas e via quanto alguns eram infelizes: escutava quando me diziam que não conseguiam mais enxergar um cenário em que fariam o que sempre quiseram, porque àquela altura precisavam ganhar todo mês certa quantidade de dinheiro só para se manterem na posição em que estavam".

"Não podiam fazer o que importava, o que realmente queriam. Isso me pareceu tão trágico quanto qualquer problema no fracasso. Além disso, o maior problema do sucesso é que o mundo conspira para que você pare de fazer o que faz, só porque é bem-sucedido".
"Um dia, ergui os olhos e me dei conta de que tinha me tornado alguém cuja profissão era responder e-mails e, nas horas vagas, escrevia. Passei a responder menos mensagens e descobri, aliviado, que estava escrevendo muito mais ( ...)"
"A vida às vezes é dura. As coisas dão errado, na vida e no amor e nos negócios e nas amizades e na saúde e em todos os outros aspectos que podem dar errado. Quando as coisas ficarem complicadas, é assim que você deve agir: faça boa arte. É sério
(...). Faça o que só você faz de melhor (...) Faça aquilo que só você pode fazer".
"O impulso, no começo, é copiar. Isso não é ruim. Muitos de nós só encontraram a própria voz depois de soar como várias pessoas. Mas a única coisa que só você e mais ninguém tem é você. Sua voz, sua mente, sua história, sua visão (....)"
"Meus projetos que melhor funcionaram melhor foram aqueles dos quais eu estava menos certo(...). Mas qual deve ser a graça de fazer o que você sabe que vai dar certo ? E, algumas vezes, o que eu fiz não deu nada certo. Aprendi com elas tanto quanto com as que funcionaram( ...) Cometam interessantes, impressionantes, gloriosos, fantásticos erros. Quebrem regras. Deixem o mundo mais interessante por estarem nele".
Como disse, ao longo do discurso há uma ou outra declaração de princípios que pode lembrar aquelas lastimáveis performances de animadores de funcionários de corporações - mas, na essência, Neil Gaiman toca no que interessa: "Faça aquilo que só você pode fazer".
O importante é apostar no incerto, cometer erros "gloriosos".
Thank you, mr. Gaiman.
Eu me lembrei da pregação de Gaiman ao ver um documentário recém-lançado, em que o personagem principal é o documentarista Eduardo Coutinho.
Título: "Coutinho - sete de outubro", em cartaz em regime de pré-estréia no Instituto Moreira Salles, no Rio. Ao contrário do que fazia habitualmente, dessa vez o cineasta Eduardo Coutinho fica diante da câmera para dar uma entrevista, conduzida pelo realizador do documentário, Carlos Nader. É como se Coutinho se transformasse em personagem de Coutinho. Bola na rede.
( O depoimento foi gravado quatro meses antes da morte de Coutinho - uma daquelas tragédias que nos deixam mudos ).
Lá pelas tantas, Coutinho fala sobre o "prazer indizível" que é fazer um determinado filme num determinado momento num determinado lugar. É como se dissesse que a aventura do cinema
precisa - necessariamente - ser pessoal e intransferível. Só assim vale a pena. Não pode ser delegada a outros. Porque outro realizador faria de outra maneira. A regra vale, claro, para documentários - o território que Coutinho elegeu para transitar.
O ( belo ) depoimento de Coutinho aponta para um caminho: o ato de fazer um filme deve ser revestido de uma devoção quase religiosa. Fazer ou não fazer passa a ser, nos delírios do realizador, uma questão de vida ou morte ( a atitude aplica-se não apenas a filmes, claro, mas a qualquer "aventura" do tipo ).
Em resumo: "Faça aquilo que só você pode fazer".
Somente Eduardo Coutinho poderia fazer os documentários de Eduardo Coutinho. Não é, óbvio, o único caso de cineasta com marca pessoal, mas o que ele diz, na entrevista, marca uma posição, um tardio mas bem sucedido "projeto de vida".
É óbvio que noventa e nove vírgula noventa e nove por cento dos terráqueos permanecerão absolutamente indiferentes ao fato de que um filme "x" sairá ou não do papel, mas o realizador precisa criar a ilusão de que aquele filme é indispensável, é indispensabilíssimo - nem que seja para ele mesmo. Pouco importa - aliás - que o resultado seja eventualmente precário ou aparentemente banal. Não é este o "ponto". É o que Coutinho diz, com outras palavras,no depoimento.
A situação pode soar surrealista mas é assim: um personagem anônimo - como os que povoam os filmes de Coutinho - poderia, claro, ser filmado "n" vezes. Não haveria qualquer dificuldade. As situações eram, em tese, perfeitamente "repetíveis" - mas, como princípio, Coutinho se convencia de que tudo teria de acontecer , necessariamente, ali, naqueles trinta, quarenta ou sessenta minutos diante do entrevistado: o desnudamento, as revelações, a confissão. É uma sensação que, a rigor, move todos os entrevistadores. Coutinho cumpria este mandamento ao pé da letra, diante de personagens anônimos que ia encontrando em apartamentos de Copacabana, morros da zona sul, casebres no sertão. Diz, no documentário, que evitava ouvir figuras públicas ou gente que ele próprio conhecia. Não ia dar certo.
As palavras de Coutinho no documentário soam fortes: resumem a necessidade de quimeras pessoais numa época dominada pela uniformidade mediocrizante.
Já estou soando como crítico de cinema. Não sou. E foi bonito ver a plateia aplaudindo Coutinho no fim do filme.
Palmas para ele. É uma grande lástima que uma carreira que, como ele dizia, começou tarde tenha sido violentamente interrompida. "A morte é uma piada. A vida é uma tragédia. Mas, dentro de nós, mesmo no maior desespero, há uma força que clama por coisas melhores", já dizia Paulo Francis.
Em última instância, "clamar por coisas melhores" é o que faz quem, como Coutinho, apostava numa aventura pessoal. Já é tarefa para uma vida.

Posted by geneton at 02:10 PM

CHICO BUARQUE DE HOLANDA, SOBRE O QUE ACONTECE NA HORA DA CRIAÇÃO COM UM JOGADOR DE FUTEBOL OU UM COMPOSITOR POPULAR: "É COMO SE O CORPO RECEBESSE UMA LUZ REPENTINA INEXPLICÁVEL" ( DE RESTO, É "A ALEGRIA BATENDO NO PEITO / O RADINHO CONTANDO DIREITO A VIT

Chico Buarque de Holanda já foi um daqueles meninos que vão ver os jogadores de futebol - ídolos absolutos - descendo do ônibus na porta dos vestiários. Já se apresentou ao Juventus para treinar, porque sonhava em brilhar nos estádios. Já foi a um jogo de Copa do Mundo no Brasil - quando era criança, levado pela mãe. Já dirigiu um carro para Garrincha, pelas ruas de Roma. Já viu o general Médici, a poucos metros de distância, no Maracanã. Já inventou uma mentira cabeluda: em viagens pela África dizia, nos hotéis, que tinha sido reserva de Sócrates na grande Seleção Brasileira de 1982, à espera de que algum incauto lhe olhasse com sincera admiração futebolística. O plano falhou. Ninguém caiu na lorota.
Como se sabe, Chico Buarque completa, hoje, setenta anos de idade. Como era de esperar, fugiu de badalações. ( Vou cometer um pequeno sacrilégio jornalístico: quando faço o trabalho de repórter, vivo caçando declarações, é claro - mas admiro a atitude de artistas que optam pelo "recolhimento" ).
Retiro de meus arquivos não tão implacáveis os trechos de uma entrevista em que o locutor-que-vos-fala fez a ele um punhado de perguntas sobre uma das atividades preferidas do cidadão Francisco Buarque de Holanda. Não, não é a música: é o futebol - logicamente.

GMN : Você diz que o futebol tem momentos de improviso e genialidade que nenhum artista consegue repetir.Mas em alguma de duas músicas você teve o sentimento de improviso que você só encontra no futebol ?
Chico Buarque : “É possível encontrar algo semelhante ao futebol no jazz, na música instrumental. Alguma coisa pode acontecer enquanto você toca. Mas não sou improvisador. De qualquer forma, há no ato da criação momentos em que você parece iluminado. São jogadas que acontecem sem que você tenha pressentido. De repente, vem uma ideia. Você se pergunta : de onde veio ? É o que acontece com o futebol : é como se o corpo recebesse uma luz repentina inexplicável”.

GMN : Que música ou que verso despertou em você,na hora em que estava compondo, a emoção que você sente diante de um drible ?
Chico Buarque : “Você vai trabalhando, trabalhando, trabalhando em cada música,até que há um “clique” : aparece um verso ou algo na melodia que faz você pensar “isso é novo”, “não fui eu que fiz” . É como se fosse algo que viesse de fora”.
GMN : Quando estava exilado na Itália,você teve contato com Garrincha. É uma página pouco conhecida da biografia de Chico Buarque. Vocês conversaram sobre futebol ou sobre música ?
Chico Buarque : “É óbvio que eu falava sobre futebol – e ele falava de música....Acontece também com Pelé – que adora música. Mas Garrincha era muito musical. Tive um contato maior com ele em Roma. A gente acaba mesmo falando mais de música do que de futebol. Garrincha conhecia música muito mais do que eu imaginava antes. Gostava de João Gilberto. Eu imaginava que Garrincha gostasse de uma música mais simplória, mais ingênua, talvez - mas não ! Garrincha gostava da sofisticação de um João Gilberto”.
GMN :Que tipo de comentário ele fazia sobre João Gilberto ?
Chico Buarque : “Garrincha comentava gravações, se referia a detalhes, lembrava de como João Gilberto cantava uma determinada música. Para me mostrar,Garrincha cantarolava – não muito bem – mas mostrava que tinha a lembrança das músicas de João Gilberto. Referia-se à maneira como João Gilberto cantava as músicas. João é um inventor. Não é um compositor. Talvez seja mais do que compositor, porque inventa a partir de uma música alheia. E Garrincha falava exatamente disso : a maneira como João Gilberto cantava - talvez uma cantiga mais conhecida que ele tivesse reinterpretado,como “Os Pés das Cruz”. Garrincha salientava a maneira como João Gilberto reinventava um samba”.
GMN : É verdade que você dirigia automóvel para Garrincha na Itália ?
Chico Buarque : “Eu era o chofer de Garrincha. Ele jogava umas peladas – algumas remuneradas – na periferia de Roma. Ganhava um cachê. Eu é que levava Garrincha, no meu Fiat. Era impressionante. As pessoas paravam na rua. Garrincha era muito popular. Isso aconteceu entre 1969 e 1970. Garrincha já tinha parado de jogar há algum tempo. Oito anos já tinham se passado desde a Copa de 1962 - mas ele ainda era muito conhecido na Itália”.
GMN : “Se você pudesse escolher entre ser um grande nome da Música Popular Brasileira e um grande craque da seleção, qual das duas profissões você escolheria ?
Chico Buarque : “Nunca escolhi sem músico. Quando eu pude – e quis escolher – aos quatorze, quinze anos de idade, eu quis ser jogador de futebol mesmo. Eu achava que poderia ser um bom jogador. Era uma ilusão. Mas eu tinha essa ilusão, na época, com bastante segurança. Tornei-me músico um pouco por acaso.
Devo dizer que o sonho de ser um craque
permaneceu na minha cabeça. Ainda hoje acredito que seja”.
GMN : Você chegou a tentar ser um jogador de futebol profissional ?
Chico Buarque : “Eu, que jogava tanto, um dia fui ao Juventus, na rua Javari, em São Paulo, para fazer um teste. Mas eram milhões de candidatos fazendo o teste....Comecei a perceber que ia não dar para mim. Depois de esperar, esperar e esperar, fui embora. Não cheguei nem a ser chamado para fazer o teste, porque acharam que eu não tinha físico para ser jogador”.
GMN : Mas por que você escolheu logo o Juventus para fazer um teste – e não um time grande,como o Palmeiras,o Corinthians ou o São Paulo ?
Chico Buarque : “Porque eu achava que, num time mais fraco, eu teria uma vaga na certa....(ri)”.
GMN : “Você,como especialista em futebol, jogador amador, técnico de um time de futebol de botão chamado Politheama, poderia escalar a seleção brasileira de todos os tempos de Chico Buarque de Holanda ? Qual é o grande time ?
Chico Buarque : “É impossível. A brincadeira de escalar times de diversas épocas é apenas uma brincadeira. Porque você não pode comparar o futebol que se joga hoje com o futebol que se jogava há dez anos. Imagine vinte anos ! A comparação é falsa. Não se imagina o que seria Garrincha hoje nem se imagina o que seria Romário há vinte anos. É uma comparação absurda”.
GMN : Você tem no futebol ídolos que não são tão populares quanto Pelé e Garrincha,como Canhoteiro, por exemplo....
Chico Buarque : “Canhoteiro, Pagão. Fiz uma música chamada “O Futebol” dedicada a uma linha utópica – Mané Garrincha, Didi, Pagão, Pelé e Canhoteiro. Temos nossos ídolos particulares, aqueles que a gente pensa que são só nossos, porque ninguém conhece. Pelé e Garrincha todo mundo da minha idade viu jogar. Quando eu morava em São Paulo, via jogadores como Canhoteiro e Pagão. Não havia televisão em rede nacional. O pessoal do Rio, então, não conhecia esses jogadores. Quando falo de Canhoteiro e Pagão, nem sempre conhecem, aqui no Rio. Outros ídolos aqui do Rio nem sempre eram conhecidos em São Paulo. Quando eu voltava para casa em São Paulo, depois de passar férias no Rio, por volta de 1955, antes da Copa, portanto, eu falava de Garrincha – e ninguém sabia quem era”.
GMN : Quando criança – ou adolescente- você era daquele tipo de torcedor que vai ver o jogador descendo do ônibus na porta da concentração ?
Chico Buarque : “Eu fazia isso tudo, porque morava perto do estádio do Pacaembu. Eu me lembro de ter visto a seleção de 1958 concentrada. Fui lá peruar, ficar com cara de bobo olhando para as “figurinhas”. Porque eu conhecia os jogadores dos álbuns de figurinhas- muito pouco de televisão.Não tinha televisão em casa. A gente não via futebol pela TV : ia ver no estádio. Eu via os jogadores de longe, durante os jogos. Ver de perto um jogador era um acontecimento”.
GMN : De qual dos jogadores que você viu de perto você guardou a lembrança mais forte ?
Chico Buarque : “De Almir,o Pernambuquinho – que ficou olhando para mim depois que entrou no ônibus. Eu estava ali de boca aberta, com cara de babaca, olhando os jogadores. Almir, então,começou a caçoar de mim. Depois de ter sido chamado na primeira convocação, num grupo de quarenta e quatro jogadores, Almir terminou nem indo para a Copa da Suécia”.
GMN : Você,ainda criança, viu a famosa seleção brasileira de 1950 jogar em São Paulo contra a Suécia,nas vésperas da grande derrota contra o Uruguai,no Maracanã. A derrota de 1950 deixou algum trauma em você ?
Chico Buarque : “Trauma não posso dizer que tenha deixado,porque eu tinha seis anos de idade. Mas me deixou assustado, porque ouvi o jogo pelo rádio. O Maracanã, ”o maior estádio do mundo”, era um sonho na minha cabeça. Eu me lembro exatamente de que o locutor, chamado Pedro Luís, disse assim quando o Brasil fez um a zero contra o Uruguai : “Gol de Friaça ! Quase que vem abaixo o Maracanã !”. Eu pensei que o estádio viesse abaixo mesmo ! Pensei que o estádio estivesse caindo, com duzentas mil pessoas. Não prestei atenção ao jogo. Fiquei pensando no Maracanã tremendo com aquelas pessoas todas ali dentro”.
GMN : Quem levou você ao estádio ,em São Paulo, para ver o jogo do Brasil contra a Suíça pela Copa de 50 ?
Chico Buarque : “Quem levou foi minha mãe, porque meu pai não gostava muito de futebol”.
GMN : O futebol tem uma presença enorme na vida do brasileiro, mas aparece pouco como tema de músicas. É desproporcional a relação entre a importância do futebol e a quantidade de músicas que tratam do tema. Por quê?
Chico Buarque : ”Não sei. O futebol é próximo da vida do brasileiro, assim como os jogadores sempre foram muito próximos dos músicos. Jogador de futebol tem mania de batucar, canta na concentração. Isso não é de hoje, existia já nos anos cinqüenta. Hoje,o pessoal de pagode se encontra com o pessoal da seleção para gravar”.
GMN : Se a gente for contar as músicas suas que tratam de futebol, vai ver que são poucas. Qual é a dificuldade em tratar de futebol ?
Chico Buarque : “Não é só música. Há pouca literatura tratando de futebol, há pouco cinema. Dá para entender por que há pouco futebol no cinema : é difícil reproduzir com imagens o que já é tão forte na vida real. Teoricamente, traduzir o futebol em palavras ou em música seria fácil do que em cinema. Prometo fazer mais umas duas ou três”.
GMN : Você jogaria pelo Fluminense hoje ?
Chico Buarque : “Claro que jogaria ! Tenho vaga naquele time”.
GMN : Quando joga futebol, que posição você ocupa ?
Chico Buarque : “Jogo em todas. Mas sou mais de preparar o gol. Sou um centro-avante recuado”.
GMN : Por que é que você se apresentava como jogador da seleção brasileira numa viagem que você fez ao Marrocos ? Alguém desconfiou da mentira ?
Chico Buarque : “Quando você diz que é brasileiro no exterior,o pessoal começa a falar de futebol. É uma maneira de ganhar ponto com eles. Numa conversa com motorista de táxi, por exemplo, o assunto futebol logo aparece se você diz que é brasileiro. Então, eu assumia a identidade de jogador de futebol até que um estrangeiro disse : “Ex-jogador,não é ? “....Eu disse que tinha sido convocado para a seleção de 82 : tinha sido reserva de Sócrates”.
GMN : O pessoal acreditava ?
Chico Buarque : “Não !” (rindo)
GMN : Você quebrou o perônio e rompeu os ligamentos jogando futebol. Disse,então,que não estava conseguindo compor porque não sabe fazer música parado. Você só compõe andando ?
Chico Buarque : “Não apenas compor – eu também só sei pensar andando. Se você ficar parado, não consegue pensar. Andar eu recomendo para tudo. Se você tem qualquer problema, dê uma caminhada - porque ajuda,inclusive a ter ideias. Se a música ficou emperrada ou se a ideia para um livro não vem ,a melhor coisa a fazer é dar uma bela caminhada. Fiquei três meses preso na cama. Eu não conseguia ter ideias. Só sonhava que andava. Foram três meses perdido pela imobilidade”.
GMN : Você então associa o ato de andar ao ato de compor ?
Chico Buarque : “Associo o ato de andar ao ato de pensar, criar e compor”.
GMN : Você já teve o “estalo” para alguma música jogando futebol ?
Chico Buarque : “Fazer música jogando futebol não dá, porque durante a partida você fica empenhado em suas jogadas geniais. Mas caminhando tive a ideia de várias coisas. A verdade é a seguinte : você compõe com o violão, mas quando o momento em que o processo fica encrencado, você tem de sair andando. Não pode ficar parado, com o violão, a vida inteira. Então, para resolver impasses,o melhor é caminhar”.
GMN : Diz a lenda que você escreveu aquele refrão “você não gosta de mim/mas sua filha gosta” pensando no general Ernesto Geisel – que tinha uma filha.Somente você pode tirar essa dúvida : é verdade ?
Chico Buarque :”Eu nunca disse isso. As pessoas inventam. O engraçado é que a invenção passa a fazer parte do anedotário. Nunca imaginei que pudesse fazer uma música pensando num general ! A gente não faz isso. Você pode fazer uma música com raiva de alguma coisa : acontecia na época da ditadura militar,porque,com a censura, a política interferia na criação, o que nos incomodava. Mas você não ia dedicar uma canção a um pessoa. Quando se falava “você”, não se estava referindo a um general.Era uma generalidade”.
GMN : Por falar em generais : o general Garrastazu Médici freqüentava estádios no tempo em que você sofria os horrores da censura. Alguma vez você cruzou com ele num estádio de futebol ?
Chico Buarque : “Vi uma vez,porque eu estava chegando ao portão que dá nas cadeiras do Maracanã. De repente, chegou uma turma de batedores, com sirenes,com a truculência que é um pouco própria de autoridades, mas na época, era muito mais acentuada.”Afasta todo mundo ! “. Médici desceu do carro.Fiquei vendo de longe aquele figura”.
GMN : Você já era famoso.Algum dos batedores do general reconheceu você por acaso ?
Chico Buarque : “Batedor não reconhece ninguém : não olha para a cara de ninguém na hora de sair abrindo espaço”.
GMN : “Se você fosse chamado para escrever o verbete Chico Buarque de Holanda numa enciclopédia de música popular,qual seria a primeira frase ?
Chico Buarque(rindo) :”Êpa !. Não sei. Podia ser “ êpa”....
GMN: Com interrogação ou com exclamação ?
Chico Buarque: “Com interrogação.A primeira palavra seria : êpa ?" “.
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Aqui, "Bom Tempo", aquela música em que Chico Buarque, torcedor apaixonado do Fluminense, diz o que queria da vida: "A alegria batendo no peito / o radinho contando direito / a vitória do meu tricolor":
http://goo.gl/8z1bhD

( Entrevista gravada no Rio, em 1998 )
Aqui, a íntegra da entrevista:
http://www.geneton.com.br/archives/000041.html

Posted by geneton at 11:46 AM

junho 17, 2014

VENDE-SE ADRENALINA EM QUANTIDADES INDUSTRIAIS. INTERESSADOS DEVEM PROCURAR PROCURAR A TORCIDA BRASILEIRA

Conclusão número um: a campanha vai ser sofridaça. Copa do Mundo é assim. Se não fosse, não seria tão empolgante.
Conclusão número dois: se o Brasil sair primeiro do grupo e pegar, por exemplo, a Espanha ou o Chile na próxima fase, pode passar adiante, suado. Daí pra frente, com uma Seleção feita de altos e baixos, o Brasil se candidatará, a cada partida do mata-mata, ao posto de maior produtor mundial de adrenalina. Galvão Bueno vai ter de usar todo o estoque de "haja coração", "quem é que sobe? " e "fica dramática a situação do Brasil". Mas,como naquela música bonita de Bob Marley, "tudo/ tudo/ tudo vai dar pé". Haverá de dar.
Conclusão número três: se o Brasil ficar em segundo do grupo e pegar a Holanda já na próxima fase, entrará em campo em desvantagem. Vai ter de apelar a todos os santos, sem exceção. Se um só santo faltar ao encontro, vai tudo por água abaixo. ( Aliás: cadê eles? Alguém no Vaticano poderia avisá-los, desde já, que eles não poderão tirar folga de jeito nenhum em dia de jogo do Brasil na fase do mata-mata ).

A Holanda estreou na Copa com pinta de favorita. Sejamos justos: se o Brasil tropeçar no meio do caminho, diante dos holandeses ou de qualquer outro estraga-prazer, bem que a Holanda, por uma questão de justiça histórica, mereceria ganhar o título. Já foi vice-campeã do mundo três vezes! Esteve, nas três vezes, a um milímetro da glória. Pela primeira vez, os holandeses levantariam a taça - e justamente no "país do futebol". Iriam virar "heróis" nacionais. Mas....futebol, como se sabe, não é feito de justiças históricas. Ainda bem ! Além de tudo, numa Copa disputada em casa, o Brasil jamais deixaria de estar entre os favoritos.

Posted by geneton at 01:53 PM

O VOTO DE UM RECIFENSE AUSENTE CONTRA OS ESPIGÕES NO CAIS JOSÉ ESTELITA

Houve um fato lamentável hoje no Recife. Em resumo: a Tropa de Choque entrou em ação para desalojar militantes que ocupavam uma bela área do Cais José Estelita, transformada em centro de um grande debate sobre o que se deve fazer com a cidade. ( Aos não nativos, diga-se que o terreno - que sediava armazéns da Rede Ferroviária Federal - foi arrematado em leilão, há algum tempo, por um pool de construtoras que pretendem erguer, ali, uma fileira de "espigões" residenciais e comerciais. O movimento OcupeEstelita se opõe ao destino dado à área: não quer ver aquele belo pedaço da cidade ocupada por edifícios gigantescos ). Há "n" questões envolvidas. Independentemente de qualquer coisa, este recifense ausente e observador distante pergunta: havia necessidade das cenas de violência? A resposta parece ser um "rotundo não", como diria Leonel Brizola. Pergunta-se: não haveria qualquer possibilidade de diálogo? A resposta é um rotundo sim. Se, numa hipótese remota, fosse feito um plebiscito que permitisse o voto de pernambucanos exilados da terra natal, eu votaria, sem pestanejar, contra os espigões, até por razões estéticas. Erguer torres, ali, não faria bem a uma das paisagens mais bonitas da cidade.
Visto, simbolicamente, uma camiseta onde se lê: "Não".

Posted by geneton at 01:53 PM

...E UMA SURPRESA NO SÁBADO: CRUZADA DE ROBERTO CARLOS PELA CENSURA PRÉVIA A BIOGRAFIAS GANHA NOVO CAPÍTULO!

Notícia deste sábado na Folha de S.Paulo on line:
"Roberto Carlos entra no Supremo Tribunal Federal contra biografias":
http://www1.folha.uol.com.br/…/1455907-roberto-carlos-entra…
Fica uma dúvida no ar: o que é que leva Roberto Carlos a se empenhar, com estranhíssima obsessão, a esta louca cruzada pela censura prévia a biografias ? Já não basta o fato de ter censurado uma biografia que foi unanimemente considerada "simpática" a ele ?
Que razão secreta o move ? Não é possível que seja dinheiro. Não é.
É triste mas, nesta discussão sobre a censura prévia a biografias, Roberto Carlos atingiu aquele degrau em que a única coisa que se pode dizer sobre ele é: "Sem comentários".
O bom é que a Câmara já derrubou a censura prévia. Agora, só falta o Senado. E o STF irá se pronunciar em breve sobre o assunto. Resta rezar para que a relatora - a ministra Cármen Lúcia - não decepcione o país e trate de mandar a exigência de censura prévia para o lugar merecido: a lata de lixo da história.
Já se disse um milhão de vezes, não custa repetir: o Brasil é o único país democrático do mundo em que a publicação de biografias depende de autorização prévia. Vergonha, vergonha, vergonha.

Posted by geneton at 11:55 AM

O VOTO DE UM RECIFENSE AUSENTE CONTRA OS ESPIGÕES NO CAIS JOSÉ ESTELITA

Houve um fato lamentável hoje no Recife. Em resumo: a Tropa de Choque entrou em ação para desalojar militantes que ocupavam uma bela área do Cais José Estelita, transformada em centro de um grande debate sobre o que se deve fazer com a cidade. ( Aos não nativos, diga-se que o terreno - que sediava armazéns da Rede Ferroviária Federal - foi arrematado em leilão, há algum tempo, por um pool de construtoras que pretendem erguer, ali, uma fileira de "espigões" residenciais e comerciais. O movimento OcupeEstelita se opõe ao destino dado à área: não quer ver aquele belo pedaço da cidade ocupada por edifícios gigantescos ). Há "n" questões envolvidas. Independentemente de qualquer coisa, este recifense ausente e observador distante pergunta: havia necessidade das cenas de violência? A resposta parece ser um "rotundo não", como diria Leonel Brizola. Pergunta-se: não haveria qualquer possibilidade de diálogo? A resposta é um rotundo sim. Se, numa hipótese remota, fosse feito um plebiscito que permitisse o voto de pernambucanos exilados da terra natal, eu votaria, sem pestanejar, contra os espigões, até por razões estéticas. Erguer torres, ali, não faria bem a uma das paisagens mais bonitas da cidade.
Visto, simbolicamente, uma camiseta onde se lê: "Não".

Posted by geneton at 11:47 AM

junho 16, 2014

UMA EXPERIÊNCIA: PEQUENA EXPEDIÇÃO A COPACABANA, NUMA NOITE DE SAMBA, TANGO E AREIA ( E O AMERICANO PERGUNTA: "POR QUE NÃO FAZEM TODAS AS COPAS AQUI?")

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"Não vai ter Copa"? Por pura curiosidade, faço uma expedição às areias da praia de Copacabana no fim de tarde deste domingo, 15 de junho. Pela primeira vez desde 1950, o Rio ia ser palco de um jogo de Copa do Mundo: Argentina x Bósnia, no Maracanã.
Uma multidão ocupa todos os espaços na areia, diante de uma tela gigante que,daqui a pouco, transmitirá o jogo. A maioria: argentinos, é claro.
Bósnios, chilenos, uruguaios e turistas de procedência incerta, além dos nativos, formam comitês minoritários nesta versão tropical-futebolística de uma assembléia da ONU.
Enquanto o jogo não começa no Maracanã, a bateria da Mangueira - logo ela - sobe ao palco. É covardia: a percussão explode no ar, irresistível.

Há momentos bonitos: o puxador canta "Exaltação à Mangueira" - com aquela letra que diz "todo mundo te conhece ao longe/ pelo som do teu tamborim/ e o rufar do teu tambor". Quem não conhece passa a conhecer: embalados pela bateria avassaladora, torcedores repentinamente transformados em sambistas dançam sob uma imensa bandeira argentina que de repente alguém desfraldou ao pé do palco,
O puxador ataca com um dos sambas-enredo mais bonitos da Estação Primeira de Mangueira: aquele que homenageou Dorival Caymmi. De novo, a letra soa sugestiva: "o mundo se encanta / com as cantigas que fazem sonhar".
Penso: ninguém esperava, mas "o mundo se encanta" com esta Copa brasileira. O clima, aqui, às margens do Atlântico Sul, é de celebração e congraçamento - com tango, samba, futebol e alegria.
Sob as bênçãos de uma noite clara, Copacabana assiste a um improvável mistura de samba e tango: logo depois, para agradar a torcida argentina, o sistema de som toca La Cumparsita.
Termina a parada musical. O telão passa a mostrar imagens do Maracanã, ao vivo. Os argentinos, majoritários, deliram quando vêem as primeiras imagens dos jogadores ainda no túnel do estádio.
Fazem coro para acompanhar a introdução do hino argentino - que, como se sabe, é belíssima e arrebatadora.
Começa o jogo. A torcida acompanha como se estivesse no estádio.
( a Argentina venceria por 2 a 1) . Imagino: não apenas para um estrangeiro, mas também para brasileiros, deve ser uma experiência marcante acompanhar um jogo de seleção ali. É preciso ter disposição, claro, para encarar filas, desconforto, sol no rosto - mas não é todo dia que acontece algo assim.
Um comentarista americano, deslumbrado com o que viu até aqui, escreveu no Twitter: "Se a Copa do Mundo no Brasil vai ser assim, todas as Copas deveriam ser no Brasil".
As próximas Copas não serão, com certeza, no Brasil, mas não é exagero dizer que a proposta entusiasmada do comentarista americano não soaria absurda nem aos ouvidos dos nossos mais dedicados "rivais" - os argentinos que, ao som da bateria da Mangueira, dançavam sob a bandeira branca e azul-celeste nesta noite azul de junho em Copacabana.
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( aqui, para quem não conhece, a Exaltação a Mangueira, cantada por Gilberto Gil:
http://www.youtube.com/watch?v=u5SwjG5pC20

E La Cumparsita:
http://www.youtube.com/watch?v=LkfzK_nX-QM
E, aqui, o hino da Argentina - o primeiro minuto já vale:
http://www.youtube.com/watch?v=NA5YZ-byciI )

Posted by geneton at 01:54 PM

"VAMOS AVANTE, ESQUADRÃO! VAMOS, SERÁS O VENCEDOR!": JOGADORES ALEMÃES SE DIZEM DOMINADOS PELA "FEBRE BRASILEIRA"

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Um pitaco: o primeiro sinal da alegria que marcaria a Copa ( pelo menos até agora!) foi dado, quem sabe, por aqueles torcedores baianos que fizeram dois jogadores da seleção alemã - Schweinsteiger e Neuer - entoar o grito de guerra da torcida do Esporte Clube Bahia : "Ouve esta voz que é teu alento / Bahia! Bahia! Bahia!" . Os alemães estavam devidamente paramentados com a camisa do "tricolor da Boa Terra" ( era assim que os locutores esportivos chamavam o Bahia, nas narrações dos duelos entre times pernambucanos e baianos que eu, menino recifense, ouvia, pela Rádio Clube de Pernambuco, nos já remotíssimos anos sessenta...).
Um dos alemães - Schweinsteiger - diria, depois, em entrevista à Folha de S.Paulo: "Estamos dominados pela febre brasileira". A declaração foi dada em resposta a uma pergunta sobre o que estava levando os alemães a adotarem um comportamento que destoava da esperada sisudez germânica...
A cena:

E, aqui, uma versão rara do arrebatador hino do Bahia - cantado no Teatro Castro Alves por Caetano Veloso, no último show antes de partir para o exílio, em 1969. A letra bem que serviria para descrever a torcida brasileira nestes tempos de Copa: "Ninguém nos vence em vibração / (...) Vamos avante, esquadrão !/ Vamos, serás o vencedor !":

Posted by geneton at 01:54 PM

EXPEDIÇÃO ÀS AREIAS DE COPACABANA EM DIA "HISTÓRICO" PARA O FUTEBOL

"Não vai ter Copa"? Por pura curiosidade, faço uma expedição às areias da praia de Copacabana no fim de tarde deste domingo, 15 de junho. Pela primeira vez desde 1950, o Rio ia ser palco de um jogo de Copa do Mundo: Argentina x Bósnia, no Maracanã.

Uma multidão ocupa todos os espaços na areia, diante de uma tela gigante que, daqui a pouco, transmitirá o jogo. A maioria: argentinos, é claro.

Bósnios, chilenos e turistas de procedência incerta formam comitês minoritários nesta versão tropical-futebolística de uma assembleia da ONU.

Enquanto o jogo não começa no Maracanã, a bateria da Mangueira sobe ao palco. É covardia: a percussão explode no ar, irresistível.

Há momentos bonitos: o puxador canta "Exaltação à Mangueira" – com aquela letra que diz "todo mundo te conhece ao longe/ pelo som do teu tamborim/ e o rufar do teu tambor". Quem não conhece passa a conhecer: embalados pela bateria avassaladora, torcedores repentinamente transformados em sambistas dançam sob uma imensa bandeira argentina que de repente alguém desfraldou ao pé do palco.

O puxador ataca com um dos sambas-enredo mais bonitos da Estação Primeira de Mangueira: aquele que homenageou Dorival Caymmi. De novo, a letra soa sugestiva: "o mundo se encanta / com as cantigas que fazem sonhar".

Penso: ninguém esperava, mas "o mundo se encanta" com esta Copa brasileira. O clima é de festa, congraçamento, futebol, tango, samba e paixão por uma disputa que mobiliza multidões pelo planeta.

Sob as bênçãos de uma noite clara, Copacabana assiste a um improvável mistura de samba e tango: logo depois, para agradar a torcida argentina, o sistema de som toca “La cumparsita”.

Termina a parada musical. O telão passa a mostrar imagens do Maracanã, ao vivo. Os argentinos, majoritários, deliram quando veem as primeiras imagens dos jogadores ainda no túnel do estádio.

Fazem coro para acompanhar a introdução do hino argentino – que, como se sabe, é belíssima e arrebatadora.

Começa o jogo. A torcida acompanha como se estivesse no estádio. (A Argentina, como se sabe, venceria por 2 a 1.) Imagino: não apenas para um estrangeiro, mas também para brasileiros, deve ser uma experiência marcante acompanhar um jogo de seleção ali. É preciso ter disposição, claro, para encarar filas, desconforto, sol no rosto – mas não é todo dia que acontece algo assim.

Um comentarista americano, deslumbrado com o que viu até aqui, escreveu no Twitter: "Se a Copa do Mundo no Brasil vai ser assim, todas as Copas deveriam ser no Brasil".

As próximas Copas não serão, com certeza, no Brasil, mas não é exagero dizer que a proposta entusiasmada do comentarista americano não soaria absurda nem aos ouvidos dos nossos mais dedicados "rivais" – os argentinos que, ao som da bateria da Mangueira, dançavam sob a bandeira branca e azul-celeste nesta noite de junho em Copacabana.

Posted by geneton at 12:21 AM

junho 15, 2014

QUER OUVIR A VOZ DO BRASIL? VÁ PARA A JANELA, NA HORA DO GOL DA SELEÇÃO. É ARREPIANTE

Um país gritando gol. E é o Brasil! Uma câmera flagra o fantástico som de uma cidade inteira vibrando com um gol da Seleção. A imagem foi gravada em São Paulo, mas o som, é claro, se repete em todas as cidades brasileiras. Pergunta-se: em algum outro país do mundo há algo parecido? Enquanto a Copa vai empolgando, vale lembrar as palavras daquele ex-técnico escocês -Bill Shankly: "Dizem que o futebol é uma questão de vida e morte. Discordo! É muito mais importante!".
Aqui, a Voz do Brasil:
http://www.youtube.com/watch?v=g20q7_riCAE

Posted by geneton at 01:57 PM

junho 14, 2014

ÍDOLO

Ídolo! Professor inglês pede demissão da escola porque não queria perder de jeito nenhum a chance de acompanhar uma Copa do Mundo no Brasil: "Vai ser a viagem da minha vida".
Hoje, ele estará em Manaus berrando pelo time inglês contra a Itália. A direção da escola arranjou um "jeito brasileiro" para salvar o emprego do professor: deu a ele duas semanas de licença não-remunerada em pleno período de aulas.
O professor apaixonado por futebol assumiu um compromisso: quando voltar, transmitirá aos alunos a experiência que viveu nos trópicos. Vai ter o que contar,com toda certeza.
Aqui, a reportagem do Daily Mail sobre o professor Mark Williams:
http://goo.gl/Ftd5Bm

Posted by geneton at 01:59 PM

"GUARDEI MINHA JAQUETA DE VELUDO / TAVA UMA FORNALHA"

...E, em homenagem ao professor inglês que pediu demissão ao diretor da escola dizendo que iria viajar ao Brasil de qualquer jeito porque não queria perder a chance de ver uma Copa do Mundo no país do futebol, vai aqui "Paroara" - pérola de Chico Buarque-Fagner-Fausto Nilo:
"O sol tava danado de quente/ Queimou nossa cara / (...) Guardei minha jaqueta de veludo/ Tava uma fornalha (...) Um cara apareceu falando gringo/ mas não tinha cara / Um outro diz que vinha do garimpo / Tinha nem sandália..."
http://www.youtube.com/watch?v=wlj_QXP58YM

Posted by geneton at 01:58 PM

junho 12, 2014

O ESTÁDIO TOMADO DE AMARELO

Já postei uma vez aqui, vale de novo "Yellow" - com o Coldplay. O começo - com a vibração do público - é épico, como deve ser a caminhada para o hexa. A letra bem que diz: "olhe para as estrelas/ como elas brilham por você/ e elas eram todas amarelas":

Posted by geneton at 11:49 AM

O ESTÁDIO TOMADO DE AMARELO

Já postei uma vez aqui, vale de novo "Yellow" - com o Coldplay. O começo - com a vibração do público - é épico, como deve ser a caminhada para o hexa. A letra bem que diz: "olhe para as estrelas/ como elas brilham por você/ e elas eram todas amarelas":

Posted by geneton at 11:49 AM

junho 07, 2014

AINDA BEM QUE OS MASOQUISTAS SÃO MINORITÁRIOS. QUE ROLE A BOLA, ENTÃO! PORQUE "DAS COISAS MENOS IMPORTANTES DA VIDA, A MAIS IMPORTANTE É O FUTEBOL"

Só pra reforçar: fico com João Saldanha, aqui citado num post anterior: "O futebol é uma manifestação da arte popular brasileira".
Que esta arte, então, possa se manifestar de novo dentro das "quatro linhas", diante da audiência planetária de uma Copa do Mundo.
O Brasil sempre deu, no futebol, belas demonstrações de criatividade. Por que diabos torcer por um fiasco logo agora? Ainda bem que os masoquistas são minoritários. Estou fora. Torço pelo hexa, é claro. Se o título não vier, não será nenhuma tragédia. Se vier, dará uma alegria - legítima - a milhões e milhões de brasileiros.
Não custa nada repetir a pergunta: se todos os países sonham acordados em serem campeões, por que diabos o Brasil não sonharia?
Torcer por uma vitória do futebol brasileiro na mais importante e mais empolgante disputa do esporte mundial não é sinal de "alienação" ( discussão que, aliás, parece velha e superada ). Pelo contrário: torcer por uma vitória do Brasil dentro do gramado é apostar no triunfo de um belo traço do "caráter nacional" - a capacidade brasileira de reinventar, aqui, o que foi criado "lá fora". E o Brasil, como se sabe, foi capaz de reinventar o futebol - esporte que consegue mobilizar multidões pelo planeta.
Não custa nada lembrar: "das coisas menos importantes da vida, a mais importante é o futebol", como bem disse o filósofo anônimo. Se é assim, o futebol diz, sim, alguma coisa sobre a alma de um país.
Por fim: querer que o Brasil faça uma bela campanha numa Copa do Mundo (disputada em casa !) não significa fechar os olhos para as incontáveis "mazelas" do país - é óbvio que não! ( Noventa por cento dos protestos, por sinal, são compreensíveis e justificáveis ). Mas não vejo qualquer motivo razoável para não querer que a capacidade brasileira de reinvenção possa brilhar de novo - desta vez, nos gramados.
Que role a bola, então. Sem patriotadas risíveis, a gente vai prender a respiração à espera dos gols.
Ao contrário do que diz a letra daquela música bonita, não haverá de ser pecado "apostar na alegria".

Posted by geneton at 02:01 PM

junho 05, 2014

QUATRO CONSTATAÇÕES BOBAS E INÚTEIS (RECONHEÇO!), ÀS VÉSPERAS DA COPA DO MUNDO

1. Toda vez que um repórter pergunta a um torcedor fantasiado de amarelo qual vai ser o placar do jogo, a humanidade regride 324 anos e meio.
2. A grande vantagem de uma Copa no Brasil: não se verá repórter provando comida estrangeira, olhando para a câmera e dizendo "hummm!". Ufa!
3. Se, na Copa, TV mostrar jogador batendo em pandeiro e cantando "vida leva eu"(!), a solução é partir para a Coreia do Norte - para sempre.
4. Eu passaria horas e horas admirando aqueles comerciais patrioteiros de bancos & cia ltda - desde, é claro, que estivesse imobilizado numa camisa-de-força e sob a mira de 44 soldados da Divisão Panzer.

Posted by geneton at 11:49 AM

junho 02, 2014

..E PEGAR NUMA GUITARRA PODIA SER UMA FORMA DE RESISTÊNCIA

Já começou, no Itaú Cultural, na avenida Paulista, uma bela exposição sobre uma figura mais do que interessante : chama-se "Ocupação Jards Macalé".
Por algum motivo insondável, os organizadores da mostra me pediram um depoimento sobre Macalé - um dos personagens do nosso documentário Canções do Exílio.
Disse duas ou três coisas sobre o "maldito". Quando a época era de barra pesada, Macalé produziu beleza, em música. Produzir beleza pode ser uma forma de resistência, também. Quem disse que não?:

Posted by geneton at 02:01 PM